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Maio de 2015

      Eu estou enérgica quando estou tocando a última música, e eu prolongo as últimas batidas, o máximo que posso.
      Não quero que acabe, não quero deixar a festa que encerra o ano letivo. Não quero pegar um vôo para os Estados Unidos nessa madrugada. Não quero ir ao casamento de Sarah e Landon.
      Encerro o remix e a galera explode em gritos e assobios. Eu amo fazer isso. É a unica parte boa de ter conhecido Landon.
      — Livvy! — Charlie grita para mim  enquanto fecho o notebook e ele sobe no local onde montamos a mesa com equipamentos que não são os meus. — Foi absurdamente bem essa noite.
      Charlie é basicamente a pessoa que mais me conseguiu contatos para tocar em festas universitárias. Mesmo que ele e Willlow pararam de ficar nós ainda temos nosso grupo de amizade.
      Desconecto minhas coisas e guardo na mochila.
      — Valeu! — Sorrio para ele agradecida. — Eu queria ficar e festejar o primeiro ano, mas Henrich e Willow estão vindo me buscar.
      Ele assente e coloca as mãos no bolso da jaqueta.
      — As coisas estão mesmo sérias entre eles. — Comenta. — É legal.
     Eu realmente acho que aparentemente Willow e Charlie combinam muito mais, ele é a versão masculina dela. Mas talvez seja por isso que não deu certo, talvez ninguém queira sair com si mesmo. Já Henrich é totalmente tranquilo, o oposto dela, mas nesses três meses juntos eu juro que nunca a vi mais feliz.
     — Você é um cara legal, Charlie. — Bato no ombro dela. — E nós somos jovens, não precisamos nos prender a ninguém agora, então vá beijar algumas bocas por aí.
      Ele ri e me entrega o copo que está bebendo para eu matar o resto da bebida.
     — Ei, fica bem lá, está bem? Cabeça erguida e não deixe nenhuma merda te abalar.
      Assinto. — Vou ficar bem. Você sabe que ele está tão no passado.
      Lanço minha mochila sobre o ombro e aceno para ele antes de começar a me esgueirar entre as pessoas para sair do salão.
     Willow e Charlie já estão do lado de fora.
     — Achei que iríamos perder o vôo. — Ele abre a porta do carro para mim.
     Um verdadeiro cavalheiro.
      — Desculpa, eu sempre me empolgo demais. — Digo jogando a mochila sobre o banco. — Minha mala está lá trás?
      Willow se vira e sorri para mim.
      — Eu cuidei de tudo. Vocês tem certeza que eu posso ir mesmo?
      — Sim, o convite do Henrich o permitia levar acompanhante e ele confirmou sua presença. — A lembro, mesmo que ela já saiba disso. — E eu preciso de você lá.
      Eu fico orgulhosa de mim por não ficar pensando em Landon e por nunca mais ter chorado por ele. Mas ainda assim eu preciso de apoio para o casamento.
      Mexo em meus cabelos tirando os fios grudando em meu pescoço e o prendo em um rabo de cavalo. Ele fica escorrido desde que eu fiz a progressiva.
      — Você sabe que você mesma podia ter contado para Sarah. — Willow me lembra.
      Contar o que? Que eu vivi uma bobagem com o noivo dela? Tenho que ser realista, Sarah está feliz e apaixonada, ela provavelmente pensaria que não tem importância e ela não poderia deixar Landon porque o ama e porque é bom para os negócios. Eu seria a única fazendo papel de idiota.
      — Então você vai encarar o voo com essa roupa e essa cara de exausta? — Willow pergunta.
      — É isso ou nada.
      Nós temos um vôo direto para Chicago, normalmente eu adoraria isso, mas hoje me arrependo de não ter pego um voo com conexão, onde eu poderia adiar tudo por algumas horas.
       Quando chego a minha cidade tenho essa grande dor de cabeça me atormentando e toda a confusão e cansaço que o jet lag me oferece. Nós embarcamos as duas da manhã em Londres, tivemos nove horas de vôo, ainda assim chegamos em Chicago as cinco da manhã. Eu odeio fuso horário.
       E ainda temos uma hora e meia de carro até a mansão de campo onde tenho prova de vestido daqui a quatro horas, e onde o casamento acontecerá em vinte e nove horas. Soa como um péssimo final de semana.
      — Vou cochilar um pouco. — Aviso assim que entramos no carro com o motorista que meu pai enviou.
      — É bom fazer isso, você não dormiu o vôo todo. — Henrich diz e me dá um sorriso de canto. — Você está bem?
      Henrich não fica tentando me dizer coisas para justificar nenhuma decisão de Landon, embora ele esteja aqui porque é um de seus melhores amigos.
      — Vou estar ótima assim que dormir um pouco. — Eu respondo. — E também se eu tiver alcool no meu organismo a cada minuto que passar até que esteja no voo de volta.
      Eu sei que soa como se eu estivesse fazendo drama, e eu estou, mas eu acredito que tenho total direito disso. Ninguém quer ver seu primeiro, o cara que se apaixonou um ano atrás, subindo ao altar com sua irmã. Tenho certeza que qualquer pessoa no meu lugar estaria tendo a mesma reação ou pior.
      Quando chegamos a mansão eu não cochilei nada, fiquei olhando pela janela o tempo todo vendo o dia amanhecer. Sendo assim o cansaço está me matando, então não consigo entender porque alguém está acordada antes das sete da manhã por vontade própria, mas minha mãe está.
      — Olivia você está terrível. — É a primeira coisa que ela me diz.
      Willow arregala os olhos e se vira para mim. É, eu sei, mamãe é adorável.
      — Também senti sua falta mãe! — Simulo uma empolgação. — Se tivesse em uma festa até uma hora antes de embarcar, então tivesse pego um voo de nove horas e mais um caminho de carro acho que você também estaria terrível.
      — Temos um dia todo para consertar isso. — Ela fala. — Suponho que esses sejam Henrich e Wilhelmina.
      — Essa sou eu. — Willow sorri. — É um prazer conhecer a senhora.
      Eu abstraio totalmente o momento de apresentação e caminho pelo corredor puxando minha mala e observando a propriedade. É enorme. Me pergunto quantas pessoas foram convidadas. De qualquer forma, só os familiares e amigos próximos estão hospedados.
      — Onde é meu quarto? Preciso dormir até a hora da prova do vestido. — Olho para trás precisando da minha mãe. — Eu posso?
      Não estou sendo irônica pedindo permissão a ela, é só um costume que é difícil de perder quando estamos no mesmo ambiente.
      — Duas horas, Olivia. Não mais.
      Assinto e então ela me mostra meu quarto. Não pretendo me atrasar, não quero causar problemas, só vou fazer o meu papel nesse casamento e então ir embora.
     Não vejo onde é o quarto de Willow e Henrich, eu apenas me jogo na cama e durmo do jeito que estou.
     Por sorte só durmo uma hora e meia então tenho tempo de tomar um banho extremamente necessário antes de encontrar a costureira.
      Cinco minutos antes das nove estou abrindo a porta para procurar por alguém para me dizer onde posso encontrar a costureira para fazer ajustes no vestido.
       Estou chegando no final do corredor enorme quando uma porta se abre e eu estou envolvida por dois braços.
      — Que bom que está aqui! Você precisa ficar comigo o dia todo, a mamãe vai me deixar louca. — Sarah diz. — Eu preciso ficar calma.
      A abraço de volta a apertando forte. É o casamento dela, droga, eu preciso esquecer todo o resto e focar em fazer desse final de semana perfeito para ela.
      Eu até a ajudei a escolher algumas coisas e nos falamos muito mais nos últimos cinco meses. Então eu posso fazer isso.
      — Nós vamos fugir da mamãe o dia todo e te fazer relaxar com champanhe. — Eu digo.
     — Parece ótimo. — Ela suspira alto. — Ela até colocou Landon em um quarto no outro corredor. Ela está sendo uma ditadora.
      Ah, bem vinda ao meu mundo querida irmã, ele é horrível.
      — Preciso provar o vestido. — Lembro a ela. — Se troque e eu te encontro em uns vinte minutos?
      — Meia hora. — Ela corrige. — Preciso de um banho. Ah, a costureira está no andar de cima, no final do corredor.
      — Certo.
      Me apresso até o próximo andar correndo para estar lá até as nove porque se eu passar um minuto vou receber um sermão sobre compromisso. Estou pulando dois degraus por vez antes que eu pare porque lá está o noivo, descendo as escadas.
     — Vocês chegaram. — Ele fala. — Como foi a viagem?
     Sério? Ele quer falar disso? Aliás, ele quer falar sobre qualquer coisa?
     — Boa. Eu estou quase atrasada, então se me dá licença. — Volto a subir.
     — Vai ser sempre assim?
     Me viro na direção dele outra vez. Landon parece diferente, mais velho, mesmo que só tenha passado um ano que nos conhecemos. Ele ainda parecia um garoto, agora ele parece um homem. Sem o sorriso dos sonhos.
      — Assim como? Nós seremos da mesma família, vamos nos ver as vezes, ser cordiais, mas não vamos fingir que somos amigos. — Tenho a calma de explicar isso. — Nós só somos cunhados. É com Sarah que precisa estar bem.
      — Talvez a gente consiga no futuro conversar normalmente. — Ele cogita.
      Dou de ombros e então subo as escadas e encontro o quarto certo. Aparentemente eu emagreci porque as medidas que passei estavam certas, mas agora o vestido está sobrando um pouco e precisa ser apertado. Minha mãe também reclama das olheiras sobre meus olhos e a falta de brilho dos meus cabelos, mas ela elogia o fato de eu ter o alisado.
     Depois disso eu sou toda de Sarah pelo resto do dia, Willow se junta a nós e as damas de Sarah para uma tarde de massagens relaxantes, depilações e hidratações. Admito que ser mimada não é nada mal. Em Londres eu não vou ao salão com tanta frequência como quando estava em casa.
      — Como Willow e Henrich se conheceram mesmo? — Sarah tem uma taça de champanhe na mão, assim como eu. — É muita coincidência o melhor amigo do meu noivo com a melhor amiga da minha irmã.
      Claro, se quer chamar de coincidência seu noivo ter me levado ao café no nosso primeiro encontro.
      — Landon comentou sobre Henrich quando estive aqui para as festas. Se lembra? — Eu dissimulo. — Até falou do café. Um dia eu fui lá com Willow e outro amigo nosso.
      — E então eu dei em cima dele. — Willow dispara fazendo minha irmã rir. — Por favor, não me ache atirada demais.
      — Não, na verdade posso ouvir mais. Não conheço muitas mulheres com iniciativa em relação a homens, Olivia e eu nunca fomos assim. Não é, Liv?
      Sorrio fraco. Com certeza.
      Para ser honesta eu sou assim agora, depois de Landon eu simplesmente despertei para a vida.
      Depois de horas de conversa e dores causadas pela depilação já é começo de noite quando nos separamos. Sarah diz que precisa descansar um pouco e recusa minha tentativa de uma despedida de solteira surpresa, então Willow vai para o quarto comigo.
      — Ela é um amor.
      Assinto. Sarah é mesmo um amor, ela é tão doce e delicada.
     — Os rapazes vão sair e tomar umas bebidas, mas vão voltar cedo porque o noivo não pode estar de ressaca. — Willow continua. — Eu o encontrei hoje, ele me perguntou se eu também o odiava.
     Abro minha mala e não olho para Willow enquanto fala. Eu não odeio Landon, eu só estou decepcionada, não esperava isso dele.
     É uma ferida que ele abriu e ainda não se fechou.
      — O que você respondeu? — Quero saber.
      — Que entendo totalmente o seu lado, que ele precisa entender que para toda ação tem uma reação. Que eu não concordo com o que ele fez, mas que a unica que tem razão para odiar ele é você.
      Tiro meu pijama da mala e o jogo sobre a cama.
      — Será que se eu dormir agora consigo dormir até amanhã? Eu preciso de muitas horas de sono. — Mudo de assunto.
     — Você pode tentar.
     Nós duas nos deitamos juntas depois que tomo banho e sei que ela demora um pouco para me deixar, mas estou sonolenta demais para perceber quando ela vai embora do quarto.
      Também estou sonolenta quando as batidas baixas na porta se tornam incessantes em algum momento da noite. E chego a pensar que estou dormindo quando abro a porta e Landon está lá, todo bagunçado com uma garrafa de whisky na mão.
      — Não. — É a primeira coisa que digo. — Você não vai entrar.
      — Eu só quero conversar.
      Mas eu não quero. Não temos nada para conversar, muito menos na véspera do casamento.
      — Vai para o seu quarto. — Eu falo apontando o corredor.
     Ao invés disso ele se senta no chão ao lado da minha porta. Isso não pode estar acontecendo.
     — O que está fazendo? Vá embora, você bebeu. — Falo firme, mas baixo.
     Ele sacode a garrafa mostrando que está cheia. — Bebi dois copos, estou ótimo, essa garrafa é se algum de nós precisar depois. E eu não vou a lugar nenhum até conversarmos, então vão passar por aqui e me ver na sua porta.
     Não sei se ele percebe que está sendo ridículo, mas não posso arriscar.
     — Você tem cinco minutos para falar.
     
      
     

Todas as batidas imperfeitasOnde histórias criam vida. Descubra agora