Todas as batidas imperfeitas

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Tem coisas que são muito óbvias, uma delas é que Willow está ficando uma noiva maravilhosa e ela ainda nem está com o vestido.
- Vou me vestir e venho quando você estiver trocada. - Anuncio sabendo que preciso estar pronta logo. - Você está ficando perfeita.
Willow dá o maior dos sorrisos, tão grande quanto todos que ela já deu hoje. Essa é a expressão de uma mulher prestes a casar com o amor da sua vida.
- Tudo bem. Vai lá terminar de ficar maravilhosa.
Meio que me sinto maravilhosa mesmo com a maquiagem e o penteado que fizeram em mim.
Estou atravessando o corredor para o meu quarto quando Mikey passa correndo me fazendo ter que me abaixar e o segurar. - Ei ei calma! Vai suar ou amassar toda a roupa.
- Eu só tô brincando. - Mikey diz enquanto ajeito a roupa dele.
Ele é um pajem tão lindo, preciso tirar uma foto antes da cerimônia e mandar para a mamãe. - Pode brincar sem correr. Vai lá.
Não adianta nada porque ele corre outra vez então só entro no quarto e encosto a porta para vestir o vestido estendido sobre a cama. Eu tento ter o maior cuidado, normalmente eu me visto com pressa, mas não posso amassar o vestido ou algo pior que isso.
Vestir é a parte fácil, o difícil é fechar o zíper nas costas, pelo menos o cabelo preso deixa as costas livre para eu tentar.
- Precisa de ajuda?
Olho para trás para ver a porta entreaberta e Landon esperando uma resposta minha. - Por favor.
Eu vejo Landon vestir um terno quase todos os dias, mas hoje é diferente. Ele está de traje completo e o homem impõe uma presença vestindo isso.
- Vão te confundir com o noivo. - Brinco e me viro de costas para ele onde preciso de ajuda. - Já estão indo?
Uma mão dele se apoia em minha cintura para dar algum tipo de apoio enquanto a outra sobe o zíper.
- Sim, Henrich e eu, e acho que vou levar o Mikey já, pode ser? - O polegar dele roça minha pele quando ele termina de subir o zíper.
Ambos demoramos para sair daquela posição, Landon continua atrás de mim, a mão ainda no zíper, e eu continuo parada.
- Tudo bem, você controla ele melhor do que eu. - Eu respondo e ergo uma mão passando por meu pescoço e indo até a orelha. Preciso de brincos. - Preciso colocar os acessórios e a sandália.
Ter algo para fazer finalmente me tira da minha posição estática. Eu me viro e lanço um sorriso agradecido a ele.
- Como estou? - Pergunto só para ter uma opinião além de Willow.
Landon coça o queixo, ele fez a barba hoje, ontem estava levemente crescendo, mas agora ela se foi. E aqui está Landon com seu rosto bonito me encarando como se estivesse me analisando. - Linda. Eu preferia o cabelo solto, mas ainda assim linda. Perfeita.
Perfeita. Eu teria aguentado só o linda, mas a forma como ele acrescentou a última palavra me tira um pouco do meu equilíbrio.
- Qual a obsessão com meu cabelo solto? - Quero saber porque ele sempre diz isso.
- Foi a primeira coisa que notei em você, na pista de dança, eles te faziam parecer livre, quase selvagem.
Ele não faz rodeios para dizer isso, ele não tem problemas em lembrar do passado, a honestidade dele é prazerosa de se ter acesso.
- É bom que estejam presos então, não precisam estar selvagem em um casamento. - Eu rebato. - Amanhã os cachos voltam.
- Vou estar esperando.
Isso é um flerte? As vezes a gente parece flertar, mas eu nunca tenho certeza quando e nem tenho certeza de quão ruim isso é.
- Paaaaaai, tio Henrich disse que tá na hora. Agora.
Nós dois rimos da ênfase dele no "agora", com certeza Henrich o mandou dizer isso.
- Vejo vocês na igreja.
Landon assente com a cabeça e então vai, eu aproveito os próximos minutos para ficar pronta e então corro para o quarto de Willow. Ela já se vestiu também.
- Nossa... - Não consigo segurar a palavra quando a vejo.
Ela está deslumbrante, o vestido é elegante, mas estiloso como ela é sempre. Obviamente ela tem um senso de moda maravilhoso.
- Me diga que eu sou uma noiva maravilhosa. - Ela manda.
Eu rio ainda encostada na porta. - Você é uma noiva maravilhosa, em todos os sentidos. Henrich é um cara de sorte.
Willow faz beicinho e sacode as mãos na frente dos olhos dramaticamente. - Não posso chorar.
Me contenho para não a abraçar e não bagunçar a produção dela. Então só vou até ela e seguro suas mãos nas minhas.
- Pronta?
Ganho mais um daqueles sorrisos abertos que ela está dando hoje. - Sim, por favor podemos ir logo?
Nem imagino com ela se sente quando estamos a caminho da igreja, e muito menos quando a deixo sozinha com seus pais para me posicionar na fila de entrada.
- Mikey vai entrar direito, não é? - Pergunto a Landon entregando meu braço a ele.
Olho para trás vendo Mikey com a daminha e a cerimonialista cuidando dos dois.
- Claro que vai. - Landon olha para trás também. - Eu espero que sim.
Nós dois rimos, ele vai entrar direito, é claro que vai.
- Só para constar mais uma vez, você está linda.
Volto meu olhar para Landon e sorrio. - Só para constar, ninguém veste black tie melhor que você.
Landon pisca um olho enquanto dá aquele sorriso, sim aquele, aquele de quando o conheci. Admito que isso me deixa desnorteada e que demoro alguns segundos para perceber que a música de entrada dos padrinhos começou a tocar.
É a nossa hora.
Três horas depois finalmente estou tomando minha primeira taça de champanhe na festa. A cerimônia foi linda, embora longa, e agora Wilhelmina é oficialmente uma senhora casada. Talvez eu tenha chorado em um ou dois momentos, na verdade talvez mais do que isso.
Estou olhando ela segurar a mão de Henrich sobre a mesa e os dedos dele fazerem carinho na palma dela, sou forçada a desviar o olhar porque parece muito íntimo para alguém ficar encarando. Meu olhar imediatamente procura Mikey e Landon que estão na pista dançando juntos, não exatamente dançando, eu diria pulando. Tem mais duas crianças junto a eles.
- Tem sido sempre ele, não é? - A voz me pega desprevenida, mas é tão bom a ouvir.
Me viro para Charlie o abraçando sem dar nem tempo de ele se preparar para isso. - Você veio! Eu não te vi na igreja.
- Estava no fundo, mas eu não ia perder o casamento da ex que me largou porque conheceu o melhor cara do mundo. - As mãos dele se movem em minhas costas com carinho. - Estou feliz por ela.
Sei que ele está, o lance dele com Willow nunca foi algo de imaginar um futuro juntos, e apesar dele ter gostado muito dela e ter sentido o término até ele foi obrigado a admitir que ela e Henrich são perfeitos um para o outro.
- Acha que sua hora vai chegar? - Me afasto do abraço e deixo só uma mão no ombro dele. - Sabe de conhecer a pessoa que vai te fazer querer tudo isso também.
- Talvez, acho que talvez já tenha achado que conheci e percebi que não era a hora e nem a pessoa se não era recíproco.
Dou um longo gole no champanhe em minha mão antes de dizer qualquer coisa, sei bem de quem ele está falando.
- Charlie, eu...
- Ei, está tudo bem, tivemos bons momentos, certo? Só preciso parar de me apaixonar por mulheres que conhecem caras que valem mais a pena.
Ótimo, agora estou me sentindo culpada por fazer parte dessa estatística na vida dele. - Você vale a pena, muito, e alguém vai amar isso completamente um dia. - Termino de beber o champanhe em um só gole. - Dança comigo.
Coloco a taça em uma mesa ao lado de nós e puxo a mão dele o levando para a pista. Mesmo que a música tenha ficado mais lenta Landon ainda está na pista com as crianças. Reservo uma olhada para ele antes de Charlie colocar a mão em minha cintura e olharmos um para o outro.
Nos movemos ao ritmo da música que a banda está tocando e eu sorrio para ele pensando em quanto estivemos juntos nos dois últimos anos. - Obrigada por estar comigo, você sabe, na loucura que foram os dois últimos anos. Você era meu ponto de sanidade, não importa o quão bêbada eu estivesse depois de cada apresentação você dava um jeito de me colocar nos eixos.
Ele assente levemente com a cabeça e sorri. - Foi um prazer, mas por que sinto que estamos nos despedindo?
- Porque estou voando de volta para Chicago amanhã a tarde e quero ir com a certeza que você saiba que é importante demais para mim.
- Eu sei, pode ter certeza que sim.
Ouvir essas palavras é um alívio para mim, consigo relaxar muito mais durante o resto da música. É justamente quando ela termina que duas pequenas mãos puxam meu vestido.
- Tia Ollie, vem dançar com a gente!
Mikey sabe dar o mesmo sorriso que ninguém consegue resistir a dizer sim, exatamente igual ao pai.
- Você se importa? - Pergunto a Charlie.
- Não, vai lá, a gente se fala depois.
Seguro a mão de Mikey e vou até onde Landon está girando uma garotinha de talvez seis ou sete anos, ela ri a cada vez que seu vestido rosa gira. Ele leva muito jeito com crianças.
A música é um pouco mais agitada e eu seguro as duas mãos de Mikey as balançando tentando dançar. - Não se cansou ainda de dançar?
- Não, é divertido.
Por um instante ele parece muito a mãe dele e isso deixa meu coração aquecido, Sarah também amava um casamento e se divertir na pista de dança.
- Agora é a vez da tia Ollie! - Mikey grita.
Estou prestes a perguntar do que é minha vez quando duas mãos me puxam e então uma delas me solta e a outra me faz girar. É tão inesperado que quando o giro termina tenho que me apoiar no peito de Landon para não cair.
- Você está animado hoje, senhor Griffin. - Eu ergo meu rosto para ele. - Está se divertindo?
- Muito. Você também pelo jeito.
Ele está se referindo a Charlie? Não que eu precise me explicar para ele, mas Charlie e eu não tem nada a ver mais.
- Com Charlie? Sim, mas...
Landon me gira outra vez inesperadamente interrompendo minha fala. - Não tem porque me explicar. - A mão dele se ajeita em minha cintura me puxando mais perto.
Assim, com nossos corpos colados, eu me sinto um pouco sufocada, em um sentido bom.
- Vamos aproveitar que os padrinhos estão na pista e ouvir umas palavras deles para os noivos! - Alguém no microfone diz, é a mãe de Willow. - Landon, Olivia, venham até aqui.
Ela balança o microfone para nós de longe nos atraindo para lá. Avery se oferece para ficar de olho em Mikey.
- Não faço ideia do que dizer. - Resmungo antes de chegarmos ao palco.
Para minha sorte Landon parece muito disposto a ser o primeiro a falar quando recebe o microfone.
- Eu acho que a grande palavra sobre o amor deve ser surpresa. Nós nunca estamos prontos para o inesperado que o amor é, mas ele vem e acontece. As vezes ele vêem quando você está com outros planos para sua vida, está em um momento diferente, e então o que você faz? Você agarra o amor ou o deixa ir? - Um garçom aparece e coloca uma taça na mão dele e me entrega uma também. - Eu não estava aqui quando Willow e Henrich se conheceram, mas eu conhecia os dois, sabia que eram muito diferentes, também sabia que Willow estava curtindo seu primeiro ano na universidade e Henrich se dedicando ao seu último ano. Honestamente, quando ele me ligou e contou foi muito inesperado e eu pensei que não daria certo porque estavam em momentos diferentes. Mas surpresa! Estamos aqui essa noite porque vocês dois agarraram o amor sem medo. Então, aos corajosos Henrich e Willow!
Ele ergue a taça e os noivos, e os convidados repetem o gesto. Eu tenho um certo delay porque estou pensando no discurso dele, mais especificamente sobre a parte do amor vir quando se tem outros planos e se você o agarra ou deixa ir.
- Sua vez. - Landon diz baixinho e me entrega o microfone.
Eu seguro meio relutante porque estou falando sério quando digo que não faço ideia do que dizer, mas são meus melhores amigos, então preciso.
- Eu provavelmente tenho centenas de histórias com esses dois para contar, eu fui a grande testemunha dessa história, porque essa noiva linda me aturava como colega de apartamento. - Eu começo a dizer. - E por conhecimento de causa quero falar do dia que eu percebi que Willow amava Henrich. Nós íamos ao karaokê aquela noite e então ela recebeu uma ligação de Henrich dizendo que não podia ir, que precisava estudar para um teste e ela se ofereceu para o ajudar a estudar e cozinhar algo para eles. Sim, Willow recusou karaokê pela primeira vez na vida. Foi aí que soube que era amor.
Os dois e os convidados riem, é bom conseguir pelo menos ser engraçada.
- Acho que isso também diz muito sobre o relacionamento deles, sempre foi sobre cada um ter sua personalidade, mas também sobre ceder e sobre companheirismo. Por anos eu olhei para eles e não refleti como isso era algo bom, mas hoje eu estava olhando para eles nessa mesa, sorrindo, recém casados, suas mãos dadas e Henrich fazendo carinho na palma da mão dela e eu estava pensando em quanta sorte tem por terem um ao outro. Então mais sorte e mais felicidades aos dois! Amo vocês.
Ergo a taça ao finalizar meu discurso e bebo um gole do champanhe em seguida. A mão de Landon vai para minhas costas.
- Você é boa nisso de discursos de casamento. - Ele elogia.
Dou mais um gole no champanhe antes de olhar para ele. - É minha posição oficial em casamentos, eu olho a felicidade dos casais e discurso sobre ela. Eu acho que é uma coisa boa, não é?
- Se você é do tipo que só quer ver a felicidade e não viver ela, sim.
O que? Eu vivo a felicidade. Quer dizer tem um furo nela nos últimos meses, mas apesar disso eu acho que estou mais feliz do que nos últimos anos. Tenho uma boa relação com meus pais, estou vendo meus amigos casarem, tenho um sobrinho perfeito e toda a mágoa que passei anos guardando se foi.
Só não tenho tempo de rebater a resposta dele porque Willow e Henrich estão vindo nos abraçar e toda minha atenção se torna dos noivos.