Ghost - Sasunaru

Queda Livre

P.V. Sasuke

Era final do dia e eu estava largado em minha cama olhando para o teto perdido em pensamentos quando Itachi entrou em meu quarto como um furacão. Ele estava com a camisa social para fora da calça social e segurava sua gravata nas mãos.

— Qual foi porra, sabe bater não? — briguei. Itachi apenas olhou pra mim com uma cara chorosa e se deitou ao meu lado na cama. — O que houve? — pergunto me apoiando nos cotovelos para encara-lo melhor.

Algumas lágrimas caíram dos olhos de meu irmão e um soluço escapou de seus lábios.

— Shi-Shisui apareceu na empresa hoje. — gaguejou ele contendo mais um soluço. Soltei um lamento. 

Shisui era um primo distante nosso, e quase um pai para mim. Quando eram adolescentes, ele e Itachi eram grudados um no outro durante as férias em familia. Meu irmão nunca tinha sido de fazer amigos, mas com ele era diferente. Com ele, Itachi parecia mais leve, mais livre, mais solto, completamente diferente da sua versão quieta e reservada que mostrava para todos. 

Meu irmão era apaixonado por ele. Perdidamente apaixonado. Eu via isso mesmo sendo uma criança. Seu primeiro beijo, em um dos armazéns da casa de férias da família, tinha sido com Shisui, embora eles nunca tivessem tido nada mais sério naquela época. 

Tudo começou mesmo quando Itachi tinha dezoito anos. Ele estava fazendo pré vestibular para entrar na faculdade, e Shisui, dois anos mais velho e no quarto período de administração, veio estagiar na sede do Japão e ajuda-lo a ingressar na universidade. Todas as aulas particulares e dias em que ficaram até tarde na empresa revisando documentos resultou, um ano depois, em um relacionamento secreto, mas harmonioso. 

Nunca tive ciúmes dos dois. Meu irmão estava feliz, tinha encontrado mais alguém que poderia distribuir seu amor sem se sentir pressionado a ser responsável, como era comigo. E eu também me apeguei ao mais velho, que se tornou um irmão e um pai. Passamos noites e mais noites rindo em seu apartamento, vivendo como uma família feliz mesmo com todas as adversidades, com todos os terrores que nos aguardava em casa. Eu amava isso. Itachi amava. Shisui amava. Tínhamos conquistado um lar. Um lugar seguro. Era segredo, mas era nosso. Por três anos. 

Tudo ruiu rápido demais. Fugaku descobriu tudo.

Eu não sabia o que Itachi e meu pai tinham discutido, já que meu irmão gritou para que Shisui me levasse para o seu apartamento. Ele só chegou no outro dia, as feições parecendo gelo e mármore, tão assustadoras e erradas naquele rosto que me causava arrepios até hoje, aquela imagem gravada na minha mente como o dingle da loja de donuts. Depois disso, eles terminaram. Meu irmão terminou a mando do nosso pai. Shisui ficou indignado por Itachi não lutar pelo o que eles tinham e foi embora para o outro lado do país, deixando meu irmão mais velho de coração partido, embora tivesse sido uma escolha dele, e Fugaku satisfeito por não ter nenhum "pecador" em nossa família. Até hoje ele possuía as cicatrizes nas costas.

Depois disso, as aparições de Shisui não era exatamente raras, afinal, era um excelente profissional e tinha mostrado seu talento durante os anos em que trabalhou aqui. Ele aparecia duas vezes por ano, por poucos dias, e no natal, se nossos país insistissem muito e quisessem usar o feriado como desculpa para efetuar negócios sob o pretexto do amor fraternal.

E todas as vezes, Itachi ficava ansioso. Dividido entre lhe ignorar completamente com medo de nosso pai ver, ou se render completamente ao homem que certamente era e sempre seria o amor da sua vida. 

— Puta merda. — exclamei.

— É, puta merda — ecoou.

Eu sentia falta de Shisui. Muita. Mas durante o término, tudo foi tão conturbado e confuso, que nunca houve brecha para uma reaproximação. Shisui não tinha entrado em contato por achar que eu estava bravo porque ele se mudou para longe. Itachi achava que se eu falasse com ele, começaria a bolar planos mirabolantes para junta-los novamente. Já eu, me sentindo filho de um divórcio e puto com tudo e nada ao mesmo tempo, não entrei mais em contato com ele.