Capítulo 20

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— Lia? Lia? — minha tia dava tapinhas nas minhas costas. — Acorde!

— Hummm.

Abri um olho, notando como já estava escuro. Lembrei-me porque estava deitada e me afoguei no travesseiro novamente.

— Já aconteceu o tal jantar? — perguntei entristecida.

— Não... Mas logo vai começar.

— Que horas são afinal?

— Quase oito. Está marcado para começar às 20h30. Logo muitos paparazzi estarão aí na porta, por isso não se exponha, tá.

— Nossa, tia, o que eu faria lá fora? — perguntei me virando para ela. — Quero mais que se explodam.

— Tenho muito o que fazer.

— Tá bom... Vai lá.

Minha tia voltou para a cozinha, ainda a tempo de ver que eu levantara. Me espreguicei e olhei ao redor. Ouvi distante o som de um helicóptero. Carros iam e vinham lá nos jardins. Quanto estardalhaço por algo tão idiota!

— Que sejam muito felizes — falei baixinho indo até a janela para observar.

Voltei para a cama e liguei a TV. Nos jornais locais e alguns programas, passava ao vivo a entrada do palácio. Era um verdadeiro acontecimento. Isso porque era só um jantar, imagine quando fosse o casamento?!

— Que coisa besta!

Exatamente às 21h00 um canal passou a exibir o interior do palácio e do salão de festas. A apresentadora falava rápido e ansiosa. A câmera captava os convidados e não tardou para encontrar uma jovem Karina toda sorridente.

— Vaca! — e joguei uma almofada na TV.

Me sentia deprimida, numa vibe tão baixo astral que fiquei olhando o teto por longos minutos, imaginando onde, afinal, eu tinha enfiado meu orgulho e coração. Não tinha cabimento eu ter atravessado o oceano em busca de paz e tranquilidade e me pegar sofrendo de uma paixonite aguda pelo soberano do país que havia me recebido. Mesmo em mundos distantes, eu me sentia próxima de Albert, perto o bastante para sonhar com seus beijos e abraços, como uma adolescente. Não era possível que aquela sensação ardente e pulsante fosse tão descabida. Ele e eu éramos de mundos diferentes, mas algo me dizia que além das tragédias, tínhamos muito em comum. Nem sei explicar ao certo se era paixão mesmo, ou outra forma tola de sentir desejo. Só podia supor que viver dessa doce ilusão, de alguma forma, ao mesmo tempo em que me trazia vida, deixava um pedacinho meu preso na escuridão.

— Que bom seria se mandássemos em nosso coração. — pensei em Brian e em toda a sua disposição em me conquistar.

Rolei mais alguns minutos, e sem conseguir aquietar a mente, resolvi que caminhar um pouco pelos jardins do palácio, talvez me fizesse melhorar.

— Tia amada, se eu continuar aqui dentro enfurnada, capaz de enlouquecer. A noite parece tão deliciosa, que não custa dar uma voltinha. Serei o mais cuidadosa possível. — de frente ao espelho, dei uns dois tapas de cada lado do rosto, como se reavivasse as bochechas, e depois de um longo suspiro, parti rumo ao jardim.

A noite agradável me brindou com um céu limpo e cheio de estrelas. Caminhando lentamente, me dirigi ao coreto mais afastado do palácio, onde provavelmente eu estaria em segurança. Não estava frio, mas um ventinho mais fresco fez com que eu me abraçasse e esfregasse os braços. Dei um grito e quase um salto ornamental ao ver um segurança sair de dentro das sebes, e me dar conta de que muitos outros se camuflavam pelo jardim. Mesmo distante, no silêncio das folhas ao vento, era possível ouvir um burburinho vir do grande palácio, onde toda a nata de Newland se encontrava.

Um Amor de RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora