Capítulo 11

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Naquela noite o céu não podia estar mais estrelado. Brian tinha até o tempo a seu favor, além de minha tia, que só de ouvir nossas conversas ao telefone já era sua fã.

— Ai, esse rapaz parece tão bom pra você! Você fica tão contente falando com ele!

— Tia! — exclamei. — A senhora nem o conhece.

— Mas deve ser bom... Você não sairia com um cara qualquer — isso ela tinha razão, mas o fato de eu ter aceitado o convite não queria dizer nada, pelo menos para mim.

— Eu só aceitei por educação. Gosto da companhia do Brian.

Essa era uma verdade. Ele era ótimo, mas não era um príncipe.

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Pontualmente às 19h00 um Jeep preto parou do outro lado da rua do palácio. Brian estava todo lindo de social, coisa que eu nunca tinha visto. Num segundo me lembrei de Albert em seu terno caro, seus cabelos alinhados, seus olhos combinando com todo o conjunto. Era uma sensação estranha e incontrolável.

— Oi — sorri quando atravessei a rua e o beijei no rosto. Que cheiro bom. — Você está lindo, heim!

— E você também está linda! — retribuindo o elogio, ele veio me beijar, e eu tive a nítida impressão de que ele procurou por meus lábios.

— Calma aí, amigão — o afastei em defesa.

— Desculpe... — pediu sem graça, notando que eu não cairia assim tão fácil em sua lábia.

 Num lindo restaurante de comida italiana, Brian se mostrou um verdadeiro piadista. Conversamos sobre seus gostos, sua vida agitada e aventureira. Eu o ouvia, mas ao mesmo tempo estava distante, sentindo uma falta crescer lentamente no peito.

— Lia? — me chamou. — Só eu estou falando... Você daqui a pouco dorme de vez.

Me assustei com sua repreensão e sacudi a cabeça, a fim de mostrar que estava sim, bastante acordada.

— Estou acordada, querido... — beberiquei a taça de vinho. — Só estou impressionada em como você arranja tempo pra tantas atividades.

— Sou um louco pelo meu trabalho... — ele disse. — Gosto de dar aulas, gosto de trabalhar com crianças carentes, gosto de viajar.

— Que menino exemplar! — o olhei surpresa. — Quer dizer que até crianças carentes você ajuda?

— Tenho dado aula para crianças de uma vila aqui perto da capital. São 15 pestinhas que estão sendo alfabetizadas.

— Interessante — nossa sobremesa chegava linda em uma única taça. — Uau! Isso está com uma cara e tanto.

— Se você quiser, posso levá-la esta semana — encontrando algo que realmente despertasse minha atenção, Brian se agarrou a ideia. — Costumo ir às terças e quintas às 15h00.

— Não sei... — suspirei, lembrando que ainda era um tanto quanto difícil lidar com crianças. — Talvez...

— É legal... E como você disse, outro dia, que gosta de cozinhar, talvez possa levar alguma coisa para elas. O que acha? — o jovem professor sorriu de forma espontânea e luminosa. Não tinha como negar um pedido daqueles.

— Talvez seja uma boa — assenti sem muita confiança. — Qual a idade delas?

— Entre 7 e 8 anos.

— Pode ser... — respondi, ciente de que para recomeçar, eu precisava acabar de uma vez por todas com meus medos e receios.

— Ok. Combinado.

— Queria ter sua disposição — tentei conter um bocejo que não vinha por mal. — Já fui muito mais ativa, mas nos últimos anos dei uma desacelerada.

— E eu posso saber por quê? — ele estreitou os olhos.

— Ah... Não tem uma explicação concreta — relaxei os ombros. Muita coisa tinha acontecido nos últimos tempos na minha vida e, com certeza, não vinham ao caso. — Não sei...

— Quando eu tiver algo ainda mais legal pra fazer vou levar você — ele se empolgou, nitidamente se esforçando em ser fofo. Mas que droga... O que estava acontecendo comigo?

— Opa... Eu topo!

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A noite a dois se aproximava do fim. Brian colocou uma música do Pearl Jam para tocar, no som do carro, e eu fiquei quietinha curtindo.

— Você curtiu? — ele perguntou quando chegamos em frente aos portões do palácio. — Foi legal... Eu achei!

— Claro! — afirmei, sendo verdadeira. — Gosto de conversar com você... Você é mais doido do que eu podia imaginar.

— E você é tão misteriosa... — ele sorriu. — Mas topo o desafio.

— Que desafio? — ri alto.

— Você... Desvendar você — ele respondeu indignado que eu não soubesse.

— Ok — abri a porta e já ia saindo quando ele tocou minha perna.

— Tchau e bom final de semana, Lia — que olhinhos de pidão. Estava claro que ele queria nem que fosse um beijinho.

— Obrigada, Brian — me voltei para ele e toda esticada, dei um beijo na sua bochecha. — Adorei.

Um Amor de RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora