— Mas você é só um bebê...
Eu olhava para cima, buscando a melhor posição, ou meio, para subir. A árvore não tinha lá muito galhos, o que me dava poucas opções. O jeito foi escalá-la da melhor forma que eu conhecia: descalça agarrada ao tronco, esfolando os dedos dos pés e das mãos.
Demorou alguns bons minutos. Notei, lá de longe, que Albert sorria. Ele não parecia estar olhando diretamente para mim, mas distraído, olhava para aquela direção.
— Calma, bebê... — por sorte eu vestia uma calça jeans e uma blusa de manga comprida, caso contrário ficaria completamente arranhada. — Droga... Subir nas árvores do nosso terreno é bem mais fácil... Ai! Droga!
O tecido da blusa felpuda grudava no tronco. Olhei para baixo, calculando que eu já tinha subido mais de dois metros.
— Ai... Não parecia tão alto lá de baixo.
— Sua doida! — a voz poderosa com um sotaque carregado surgiu sob meus pés. — Desça já daí!
— Lia! — essa era minha tia também gritando.
— Mas quem você pensa... — olhei novamente para baixo e percebi Albert, o príncipe, me olhar ainda com o celular em punho. — Ah... É você...
— Desça já daí! Você pode se ferir... — ele continuou com a voz severa.
— E deixar a pobrezinha miando aqui? Sem conseguir descer? De jeito nenhum! — continuei subindo, já bem perto de onde a gata estava. — Lulu, né? — estiquei o braço. — Agora fique quietinha aí... Não vá para mais alto, tá!
— Lia... Desce daí, minha filha... — dona Francisca parecia nervosa. Olhei para seu rosto vermelho devido ao embaraço.
— Calma, tia!
— Ela é sua sobrinha, senhora Francisca? — Albert perguntou. — Quantos anos essa maluca tem?
— Você não vai acreditar se eu disser majestade. E quanto a ser maluca, isso com certeza ela é!
— TIA! — resmunguei, indignada. — Só estou fazendo uma boa ação...
— Ai... Lia... Boas ações na frente da família real...
— Falta pouco, só mais um pouco... — me estiquei ainda mais, entretanto, a gata não queria cooperar com meu ato heroico — Gatinha... Por favor... Aí não...
Olhei para frente e vi que a rainha e o rei vinham em nossa direção por conta do barulho que havíamos causado.
— Mas o que significa isso? — a senhora olhou para minha tia, que abaixou a cabeça resignada.
— Nada de mais, mãe... — Albert começou. — A sobrinha da senhora Francisca está tentando tirar a Lulu da árvore.
— Mas essa gata está acostumada a subir e descer sozinha de todas as árvores — apontou para o imenso jardim.
A verdade era que aquele episódio já fugia do meu controle.
— Essa mulher não precisava montar como uma maluca na árvore... Já pensou se temos algum jornalista de plantão registrando isso? — sua voz ríspida, sem nenhum pingo de consideração, só me deixava mais impaciente.
— Mãe... Ela já vai descer. Não é? — Albert se dirigiu a mim, sequioso.
— Lia! Meu nome é Lia! — gritei de cima da árvore, já com a ponta dos dedos no pelo fofinho da gata. — Vem cá, coração... Vem cá...
Puxei a gatinha pela pata. Ela continuava miando como louca, e pior, relutando, amedrontada.
— Majestade, a senhora que me perdoe, mas essa gata é muito arisca. — pensei alto.
— É claro que ela é arisca... — ela se voltou ao rei e ao filho. — Chamem alguém para tirar essa louca daí. Que vergonha... Que vergonha...
— Com todo o respeito, mas sou eu quem está montada numa árvore. Por que a senhora está com vergonha? — olhei para baixo, com o rosto apoiando sobre o tronco, rindo da brincadeira, esperando que a velha enfim anuísse, o que de fato não aconteceu. Contudo, vi um riso faceiro nos lábios de Albert e ouvi um riso abafado vindo do rei.
— Francisca, espero que você dome essa mulher... — contrariada, a rainha apontou para minha tia — Mantenha ela na linha, por favor.
— Sim, senhora... — convencida de que eu havia passado dos limites, minha tia se curvou diante da rainha e assentiu.
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Depois de mais alguns minutos de luta com a gata arisca, eu começava o caminho de volta. Uma verdadeira plateia me aguardava no chão. Alguns guardas, seguranças e outros funcionários esperavam pela minha descida. A rainha e o rei, por sorte, haviam se retirado, mas o tal príncipe Albert esperava de braços cruzados, ao lado de uma dona Francisca bastante irritada.
— Agora lá vou eu... — suspirei prendendo a gata fortemente no peito. — Seja boazinha. Seja boazinha!
— Lulu boazinha? — o príncipe riu. — Seria um milagre — ele parecia ter um ótimo humor, ao contrário da mãe mal humorada.
Quando eu estava prestes a tocar o solo, a gata danada desembestou se contorcendo como uma doida varrida. Talvez a pestinha pressentisse que já estava segura e por essa razão não precisava mais de meus serviços.
— Droga! Calma! — falei para ela que mordia e arranhava como uma louca minha mão. — Ai!
Escorregadia, deixei a dita cuja pular de meu colo e sair correndo em disparada jardim a dentro.
— Gata maluca! — praguejei tocando o solo com as pontas dos dedões ardendo.
— A gata é maluca? — Albert se aproximou de mim com um riso torto de cair o queixo — Só a gata?
Observando aquele homem cheio de garbo e elegância, inspirei sentindo seu cheiro forte, absorvendo lentamente toda sua presença. Tão perto assim, ele era ainda mais bonito, de rosto com traços tão másculos que foi impossível articular qualquer palavra.
— A... Gata... Gata... Maluca... — eu parecia uma jovem com sérios distúrbios mentais. — Sim... Aquela doida... Ela é sua? — perguntei apontando para onde o bichano tinha corrido.
— Não... É da minha mãe...
— Ahhhh... Isso explica muita coisa — retruquei sem pensar, e minha tia só faltou me fuzilar.
Albert sorriu, sem concordar ou discordar. Aqueles grandes olhos verdes brilhando de um jeito tão único que eu fiquei hipnotizada.
— Caramba... — exclamei ainda impressionada.
— O quê? — ele se mostrava confuso diante de meus loucos trejeitos. — O que foi?
— Nada... nada...
— Venha, Lia... — minha tia, sentindo um estranho climão pintar, me puxou pela mão. — Você está cansada... Precisa descansar.
— Ah... É verdade… Jet leg.
— A festa acabou, pessoal... Voltem às suas tarefas — ela pediu aos outros funcionários.
— Prazer, Lia... — o príncipe disse quando eu já ia distante.
— O prazer é todo meu! — respondi sorrindo maliciosamente.
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Um Amor de Recomeço
RomanceQuando recebe o convite empolgado de sua tia para viver com ela num país distante, Lia não fazia ideia do que encontraria ao cruzar o oceano. Ainda tentando superar grandes perdas e o fracasso profissional, ela vê o convite como a oportunidade de co...