Capítulo 1
— Alô!? Tia?? — comecei num bom português. — O que significa isso?
A ligação não estava lá essas coisas, talvez pelo fato de eu ter atravessado o oceano, mas fosse como fosse, eu precisava esclarecer alguns pontos.
— Tia? A senhora está me ouvindo? — acho que eu estava quase gritando, pois o motorista acionou a divisória para nos separar. — Afinal de contas... O que a senhora faz? Alô?? Tia??
Tum. Tum. Tum.
Já que a ligação caía todas as vezes que eu tentava, e eu não tinha mais o que fazer, resolvi abrir as janelas para observar o caminho que percorríamos, e essa certamente fora a primeira boa decisão que tomei após chegar àquele pitoresco lugar.
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Devia ser quase meio-dia, o Sol deixava tudo ainda mais vistoso. Que cidade! Sua arquitetura neoclássica misturada aos prédios modernos e cheios de formas eram o contraste perfeito diante do céu azul. Havia árvores e jardins cheios de flores por todas as calçadas. Fazia calor, por isso as pessoas, todas incrivelmente lindas e aparentemente felizes, corriam seguindo caminhos dignos de um filme bem romântico. O que eram as tulipas vermelhas pelos canteiros? Eu não sei quem era o responsável por tudo aquilo, mas com certeza ele merecia um prêmio.
Eram muitas as belezas e eu não sabia mais pra qual lado olhar, besta diante de tantas maravilhas.
— Acho que foi uma ótima ideia vir pra cá!
Senti o veículo reduzir. Nos aproximávamos de um muro alto de tijolinhos vermelhos, que margeava um terreno gigantesco. Ao fundo, bem ao fundo, notei o que seria a parte de uma casa que com certeza era grande, muito grande.
— Onde estamos? — bati na divisória, vendo o motorista enfim abaixá-la para me responder. Eu falava e entendia muito bem inglês, por isso a língua não seria um obstáculo.
— Senhorita, sua tia mora aqui — o senhor de cabelos grisalhos e voz rouca respondeu de pronto. — O palácio de Newland.
Ok. Nas minhas pesquisas sobre o pequeno país, só havia um palácio e esse era a casa da família real. Será que eu tinha pesquisado direito? Minha tia avisaria que morava num palácio. Não avisaria?
— Certo... — depois de engolir em seco, tossi e respirei fundo. — Quem mora aqui?
Incrédulo, o velho parou o veículo à beira de um suntuoso portão negro e estreitou os olhos, me fitando pelo espelho do carro.
— A Família Real.
Parem o mundo que eu quero descer! Sim! Minha tia mora com a família real e nem me avisou nada. Como ela pôde simplesmente ter esquecido de me dizer isso? Era óbvio que um detalhe desse não podia passar despercebido.
— Hum... — engoli em seco novamente. — Família real?
Ainda me olhando como se fosse o pior dos pecados eu não ter conhecimento de um fato tão relevante, o motorista ligou o carro e dirigiu para dentro da propriedade. E eu... Honestamente, não consigo descrever com palavras o que senti.
— É nesse botão aqui que eu fecho? — apontei para um botão ao alcance da minha mão e logo em seguida para a divisória. — Esse aqui?
Num aceno positivo o homem concordou, logo perdendo o contato visual comigo.
— AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII MEU DEUS!!
Não foi legal gritar assim. Eu sei disso. Muito menos é atitude de uma mulher de quase 30, mas vamos combinar que se eu soubesse que me hospedaria numa propriedade real, com certeza teria pelo menos dado uma escovada nos cabelos depois de sair do avião e, principalmente, nos dentes.
— A senhorita está bem? — a voz do motorista saiu de algum alto-falante.
Tornei a baixar a divisória, que por conta do meu nervosismo subiu e desceu sem parar conforme o tremelique de meu dedo. Com a minha melhor cara de normal, respondi:
— Não... Mas vai ficar!
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Um Amor de Recomeço
RomanceQuando recebe o convite empolgado de sua tia para viver com ela num país distante, Lia não fazia ideia do que encontraria ao cruzar o oceano. Ainda tentando superar grandes perdas e o fracasso profissional, ela vê o convite como a oportunidade de co...