Capítulo 14

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Quinta-feira. Aquele era o dia de me encontrar com Brian após a aula para visitarmos a creche em que ele também trabalhava. Por sorte eu preparara uma fornada de sequilhos, brigadeiros e tortas que pareciam deliciosas. Como eu andava meio deprê, e cozinhar era minha terapia, tinha preparado tanta coisa que quem olhasse podia achar que eu levava comida pra um batalhão. Ou mais.

Brian já me esperava quando apareci acompanhada de três profissionais da cozinha que me ajudavam a carregar aquele montão de doce.

— Você pensa que está indo pra onde? — perguntou rindo.

— Não ri e abre a porta do carro... Por favor! — pedi séria diante de suas gracinhas.

Após acomodarmos tudo no banco de trás da melhor maneira possível, foi a nossa vez de nos sentarmos.

— Sério, Lia!? — ele abafava uma gargalhada.

— Pra creche de criancinhas carentes — respondi malcriada.

— Ainda bem que estamos levando comida pro resto da semana.

— Idiota! — dei um soquinho em seu ombro. — Quer dirigir?

— Ixi... Que humor negro.

Notando que pegava pesado com ele com mais frequência do que gostaria, descruzei os braços e desfiz a cara amarrada.

— Podemos ir? — eu era a ironia em pessoa às vezes.

Brian ligou o carro e colocou uma música alta para tocar. Uma bandinha local, que segundo ele era de um amigo próximo. Cortávamos uma rodovia belíssima com os campos às margens tomados por tulipas coloridas. O vilarejo ficava a exatos 200 quilômetros de Newland, mas não demoramos muito para chegar.

— Senhorita Lia... — ele tirou os óculos escuro. — Seja bem-vinda!

As ruas estreitas e de ladrilhos eram cercadas por casinhas de até dois andares. Na verdade, a cidade era cortada por vielas, e Brian tinha que ser bem habilidoso para subir suas ladeiras de carro.

— Eu não conseguiria passar por essas vielas nunca se estivesse dirigindo.

— Estou mais do que acostumado — ele fez uma curva acentuada, suavemente para diminuir o impacto sobre os doces que estavam no banco de trás. — Mais à frente as vielas acabam e fica mais fácil trafegar.

O Sol das 15h00 horas nos brindava forte, tingindo de amarelo toda a região ao nosso redor. Muitas crianças brincavam pelo caminho, o que fazia Brian reduzir ainda mais a velocidade. Velhas e velhos bronzeados se debruçavam em suas janelas, acenando para o carro que avançava sem parar.

— Já estão te esperando, pelo jeito — olhei para trás, notando que algumas crianças nos seguiam.

— Tem 3 anos que eu venho toda terça e quinta dar aulas de reforço.

— Ah! Você ministra aulas de reforço? — me peguei pensando se naquele paraíso existia de fato pessoas carentes.

— Sim. Essas aulas e tantas outras atividades são bancadas com verba da Fundação Flowersland.

Interessada, me virei para ele.

— É uma fundação bancada com dinheiro da família real e dos burgueses lá da capital.

— Hum...

— Eles financiam diversas instituições de ensino com verba do próprio bolso.

Pensei em Albert e em sua família. Segundo minha tia, toda a realeza era composta por pessoas bastante generosas, e por um segundo, eu pensei como seria bom se as coisas fossem iguais no Brasil.

Um Amor de RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora