Eu nem lembrava como tinha ido parar na casinha branca que era da minha tia. Tudo o que lembrava era de ter chorado até perder o fôlego e desmaiar.
— Como vim parar aqui? — me sentei, com a cabeça latejando. — Nossa.
— Finalmente acordou? — minha tia sentara-se ao lado da janela. Ela bordava alguma coisa enquanto se balançava em sua cadeira de balanço. — Você dormiu feito uma pedra. Teve pesadelos... Acordou gritando e depois voltou a dormir.
Perdida, me fixei às memórias da noite anterior.
— O jantar? — perguntei. — O que aconteceu?
Minha tia se levantou e sentou-se ao meu lado.
— Lia, o primeiro ministro ficou louco ao saber de sua discussão com Karina.
— Posso imaginar que serei deportada. — o tom de voz emplastrado. — Que maravilha.
— Na verdade — dona Chica me olhou com carinho. — Me parece que não.
Busquei seus olhos, querendo a certeza de que toda aquela confusão não havia me trazido problemas. Será que eu seria presa então?
— Parece que Albert interveio e Karina admitiu que passou dos limites. Admitiu daquele jeito né... Foi só o que eu soube.
— E a rainha? — perguntei me sentando bruscamente. — Ela brigou muito com a senhora?
Minha tia deu uns tapinhas nas minhas pernas envoltas na colcha de cama e prosseguiu. — Ah, ela tem coisas mais importantes para se preocupar.
— Você tem razão. — suspirei aliviada. — Eu perdi a cabeça tia, me perdoe. Isso nunca mais vai acontecer.
— Espero. Honestamente, não sei onde você estava com a cabeça, para descer a mão naquela criatura repugnante. Ainda assim devo confessar que você virou a heroína do pessoal da cozinha e dos demais funcionários.
Ri alto. Era um alívio mesmo ter dado uns tapas em Karina. Quem sabe agora ela aprendesse alguma coisa.
— E ele? — perguntei, com a certeza de que Albert tornara-se meu pensamento.
Dona Francisca trazia um olhar baixo, desconfiado.
— Você não toma jeito. — e ela jogou uma almofada em mim. — Ele está viajando.
Suspirei. Queria poder me desculpar por toda a dor de cabeça que tinha provocado.
— Parece que estamos num grande impasse com um dos países ao sul da fronteira. E Lia... — Chica tocou minha mão. — Tome cuidado com o seu coração.
— Fronteiras? — confusa e sem dar muita atenção aos assuntos do coração, levei a mão à cabeça.
— As paredes têm ouvidos e, nesse palácio, mais ainda.
— E? — minha cara estava péssima, com certeza.
— O rei e a rainha também partiram. Saíram hoje cedo sem dar sinal de por quanto tempo ficarão fora.
— Mulher arrogante! — disse me referindo à rainha Catarina.
Rindo, minha tia se levantou.
— Ela deve ter muitas preocupações, minha sobrinha querida. A rainha não costumava ser essa mulher tão dura. Ela era gentil, doce e amável. A perda da filha a transformou em outra pessoa. Pobre mulher.
— É. — concordei, sabendo que realmente, ela não devia estar levando uma vida lá muito fácil depois da morte da filha. — E eu perdi a aula de hoje de novo né? — arregalei os olhos surpresa.
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Um Amor de Recomeço
RomanceQuando recebe o convite empolgado de sua tia para viver com ela num país distante, Lia não fazia ideia do que encontraria ao cruzar o oceano. Ainda tentando superar grandes perdas e o fracasso profissional, ela vê o convite como a oportunidade de co...