Capítulo 21

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Eu nem lembrava como tinha ido parar na casinha branca que era da minha tia. Tudo o que lembrava era de ter chorado até perder o fôlego e desmaiar.

— Como vim parar aqui? — me sentei, com a cabeça latejando. — Nossa.

— Finalmente acordou? — minha tia sentara-se ao lado da janela. Ela bordava alguma coisa enquanto se balançava em sua cadeira de balanço. — Você dormiu feito uma pedra. Teve pesadelos... Acordou gritando e depois voltou a dormir.

Perdida, me fixei às memórias da noite anterior.

— O jantar? — perguntei. — O que aconteceu?

Minha tia se levantou e sentou-se ao meu lado.

— Lia, o primeiro ministro ficou louco ao saber de sua discussão com Karina.

— Posso imaginar que serei deportada. — o tom de voz emplastrado. — Que maravilha.

— Na verdade — dona Chica me olhou com carinho. — Me parece que não.

Busquei seus olhos, querendo a certeza de que toda aquela confusão não havia me trazido problemas. Será que eu seria presa então?

— Parece que Albert interveio e Karina admitiu que passou dos limites. Admitiu daquele jeito né... Foi só o que eu soube.

— E a rainha? — perguntei me sentando bruscamente. — Ela brigou muito com a senhora?

Minha tia deu uns tapinhas nas minhas pernas envoltas na colcha de cama e prosseguiu. — Ah, ela tem coisas mais importantes para se preocupar.

— Você tem razão. — suspirei aliviada. — Eu perdi a cabeça tia, me perdoe. Isso nunca mais vai acontecer.

— Espero. Honestamente, não sei onde você estava com a cabeça, para descer a mão naquela criatura repugnante. Ainda assim devo confessar que você virou a heroína do pessoal da cozinha e dos demais funcionários.

Ri alto. Era um alívio mesmo ter dado uns tapas em Karina. Quem sabe agora ela aprendesse alguma coisa.

— E ele? — perguntei, com a certeza de que Albert tornara-se meu pensamento.

Dona Francisca trazia um olhar baixo, desconfiado.

— Você não toma jeito. — e ela jogou uma almofada em mim. — Ele está viajando.

Suspirei. Queria poder me desculpar por toda a dor de cabeça que tinha provocado.

— Parece que estamos num grande impasse com um dos países ao sul da fronteira. E Lia... — Chica tocou minha mão. — Tome cuidado com o seu coração.

— Fronteiras? — confusa e sem dar muita atenção aos assuntos do coração, levei a mão à cabeça.

— As paredes têm ouvidos e, nesse palácio, mais ainda.

— E? — minha cara estava péssima, com certeza.

— O rei e a rainha também partiram. Saíram hoje cedo sem dar sinal de por quanto tempo ficarão fora.

— Mulher arrogante! — disse me referindo à rainha Catarina.

Rindo, minha tia se levantou.

— Ela deve ter muitas preocupações, minha sobrinha querida. A rainha não costumava ser essa mulher tão dura. Ela era gentil, doce e amável. A perda da filha a transformou em outra pessoa. Pobre mulher.

— É. — concordei, sabendo que realmente, ela não devia estar levando uma vida lá muito fácil depois da morte da filha. — E eu perdi a aula de hoje de novo né? — arregalei os olhos surpresa.

Um Amor de RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora