Capítulo 2

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Nos meus 14 anos William estava comigo segurando minha mão quando meu pai se foi.
Quando ganhei meu primeiro troféu no hipismo aos 15 anos, ele me aplaudia ao lado da minha mãe na arquibancada.
Sua primeira vez dirigindo o Ford da sua mãe, foi para me levar no estúdio onde eu teria minha primeira sessão de fotos como modelo.
Ele tinha 16 anos.
William não era apenas meu namorado, mas meu melhor amigo.

A primeira vez que nos vimos, eu tinha 13 anos e ele 14. Mesmo com pouca idade e apenas um ano de diferença entre nós, sempre o achei inteligente demais e responsável. Era apenas ele e sua mãe desde que se lembra e nunca tinha conhecido seu pai.
Mas foi através do meu que começamos nossa amizade.

O som do celular me avisa que havia recebido uma mensagem. Eu não queria ver com medo de quem seria. Tinha minhas suspeitas mas mesmo assim uma parte de mim pedia que fosse minha mãe dizendo que esqueci um casaco ou algum livro.
Encosto na poltrona do avião e fecho meus olhos, talvez se eu pensasse positivamente seria uma mensagem dela. Respiro fundo e passo alguns segundos repetindo "não seja ele" e então abro os olhos decidida a pegar o celular.
O nome na tela me faz viajar no tempo.

                              ▪️▪️▪️

Era uma manhã de domingo, meu pai havia prometido me levar para o campo, onde iríamos assistir o nascer do sol.
O céu ainda estava escuro quando meu pai me chamou da calçada. Sua voz grave chamando meu nome me dizia que eu deveria ir depressa.
Quando cheguei o encontrei agachado, segurando algo. Ao me aproximar dele pude ver o que era. Ou quem.
Um garoto com cabelos negros e uma careta de dor em seu rosto.

- Pequena, preciso de um pedaço de pano. Temos que amarrar algo na perna dele senão pode perder mais sangue.

Aquelas palavras me tiraram do transe. Meus olhos, que antes encaravam o rosto do garoto, descem para a perna dele e então vejo o sangue que meu pai havia dito.
Penso em correr de volta para casa e pegar o kit de primeiros socorros que tínhamos, mas acho que não daria tempo.

- AI!

Dou um sobressalto com o grito de dor do garoto. Eu perguntaria seu nome assim que possível. Chamá-lo de garoto não combinava com ele.
Com pressa seguro a barra da minha camisa xadrez e forço para rasgá-la. Eu amava aquela camisa, o vermelho dela fazia com que meus olhos se destacassem mais e minha mãe dizia que eu ficava uma linda garota da fazenda.
Mas ele parecia precisar mais do que eu naquele momento. Então entrego o pedaço na mão do meu pai que sem demora amarra na perna do garoto.

- Pequena, preciso que segure firme aqui!

Me abaixo e seguro o nó que meu pai havia feito e observo enquanto ele procura por mais cortes no garoto.

- Will.

Escuto o garoto falar para mim, meu olhar volta para o dono dos cabelos negros e percebo que seu rosto tinha menos vestígios de dor dessa vez. Ele me encarava e eu confusa com o nome que ele havia dito, retribuo com uma interrogação no olhar.

- William. Meu nome. Meus amigos me chamam de Will mas, como me salvou, acho que podemos dizer que você é uma amiga não é?

Diz ele com um tom confiante dando uma piscada junto de um sorriso sarcástico no final.
Sua confiança era para mim uma falta de modéstia e tomada por raiva, daquele sorriso convencido, aperto mais forte o pano da sua perna e ele reclama de dor. Sorrio satisfeita.

- Eu sou Ellen. Muito prazer.

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