Capítulo 11

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Assim que termino de comer, volto para a mesa dentro do salão em busca de mais uma dose de café. A essa altura eu já não me incomodava mais em estar deslumbrada com a qualidade de tudo, principalmente do café. Suas notas aromáticas eram atrativas e viciantes, seu gosto único e apostaria uma grande quantia em dinheiro de que a safra era colhida especialmente para uso do palácio real. Se este mesmo café fosse comercializado em mercados haveriam brigas por todo reino. Me sirvo mais uma xícara e alegremente sigo para o jardim.

Perto da mesa onde estava antes encontrei uma escada no canto da varanda enquanto estudava o local e arrisquei que ela daria ao jardim. Então de volta para a área externa, ando até a escada de concreto e equilibrando com cuidado a xícara e o livro em minhas mãos consigo chegar até o andar debaixo sem nenhum acidente. Caminho em frente seguindo uma marcação no chão feita de pedras e logo depois encontro um banco quase escondido por altas flores que faziam um muro de proteção.

O sol estava bem acima do lugar e ainda teria um pouco de privacidade. Era perfeito. Dou passos ansiosos até o banco e apoio a xícara sobre ele junto do livro e me sento em seguida. Com os olhos fechados levanto o meu rosto para o céu apreciando o calor do sol por alguns minutos, o suficiente para sentir que o dia estava começando exatamente a partir deste momento. Tiro meu suéter e fico apenas com a blusa que vestia por baixo, pego meu livro e com a outra mão seguro a xícara levando até a boca. Respiro fundo repleta de gratidão dentro de mim, tudo que eu precisava estava aqui.

Poderia passar dias repetindo esta mesma rotina, exibiria um grande sorriso todas as manhãs sabendo que teria meu momento bem aqui. Tinha plena consciência de que não poderia passar horas e horas escondida mas se pudesse escolher eu deixaria qualquer aula de etiqueta, provas e príncipe, me mantendo apenas de leitura ao ar livre. Só que a realidade era outra e se eu quisesse frequentar este jardim por muito mais tempo deveria me dedicar as provas, deveria me esforçar em conhecer o príncipe e entrar na disputa por sua atenção. Mesmo que ainda fosse algo estranho para mim.

Me sentia pressionada a fazer com que o príncipe gostasse de mim e que enxergasse minhas qualidades a ponto de me escolher. As outras selecionadas que observei eram lindas, charmosas e aparentavam ser interessantes. Seria uma grande disputa e difícil tarefa competir com elas principalmente quando ainda não me sentia animada para isso. Tento me lembrar do motivo de estar ali mas falho miseravelmente, havia tomado essa decisão na impulsividade. Totalmente influenciada por meus sentimentos e confiança estraçalhadas em míseros trapos.

Buscava encontrar-me enquanto estivesse aqui mas agora esta ideia parecia ser um terrível erro. Muitas deviam ter seu propósito estabelecido, algumas já deveriam conhecer o príncipe através de revistas e jornais enquanto eu ao menos sabia o que queria para minha vida. Me sentia inadequada e definitivamente insegura. Meu momento de paz estava arruinado graças a mim mesma e aos meus pensamentos. Fecho o livro com raiva e o som do baque das páginas ecoa livre pelo jardim. Balanço os pés agitadamente e solto um suspiro alto buscando me acalmar.

- O Morro dos Ventos Uivantes. Vejo que também é fã de clássicos.

Reconheci sua voz e subo meu olhar para seu rosto, o sol cobria sua figura parada a minha frente mas podia ver o vislumbre de um sorriso em seu rosto. Sorrio de volta.

- É o meu favorito. - respondo sincera, já tinha concluído ele inúmeras vezes.

Charlotte Herondale se senta ao meu lado quando abro um espaço para ela, a xícara estava entre nós junto de um celular que ela coloca sobre o banco. Analiso suas roupas e hoje ela vestia uma calça de linho branca e uma blusa de gola alta da mesma cor, nos pés um salto baixo na cor vermelha combinando com suas unhas. A verdadeira definição de alguém com muito estilo e eu admirava isso nela. Era nobre não apenas por sua posição na família mas pelo que seu coração exalava.

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