Constelações Austrais

Capítulo 18

O céu estava cinzento, repleto de nuvens que ameaçavam uma chance de chuva nas próximas horas. Eu estava sentada no amplo parapeito da janela do meu quarto, olhando para o dia que iniciou - aflita com a previsão do tempo para esta semana. Havia tentado escrever mas nada parecia fazer sentido nas linhas emaranhadas da minha mente. Antes, havia me sentado de frente para as folhas em branco que estavam em minha mesa e as encarei por longos minutos tentando escrever.

Escreveria sobre qualquer coisa, sinto que eu poderia fazer isso, se quisesse. Teria muito o que escrever para minha família contando minhas experiências ou apenas como estava sentindo falta deles. Haveriam linhas e linhas se decidisse falar sobre o príncipe e sua família ou como a segunda prova estava me afetando mais do que imaginei. Entretanto, os papéis continuavam em branco. Depois de um tempo já tinha desistido e me refugiado na janela do meu quarto, buscando o ar puro de Illéa. 

O resultado da prova seria revelado nesta manhã e o dia dos namorados daqui a exatos três dias. Era estranho e surpreendente que conseguissem fazer um baile em tão pouco tempo mas, quando eu questionei em aula ontem, Helena garantiu com um largo e divertido sorriso que isso não seria problema.

Nas reuniões de grupo, quando decidimos o local onde o baile ocorreria, tínhamos imaginado que poderia chover e cogitamos adicionar algumas ideias de tendas transparentes sobre o terraço caso isso acontecesse. Não queríamos uma festa dentro do palácio e também não gostaríamos que o céu e a ornamentação que planejamos com as luzes ficassem escondidas por uma tenda escura. Então, escolhemos algo onde os detalhes não fossem desperdiçados.              Era uma solução mas torcíamos para que não fosse necessário recorrer a isso.

Agora, ao olhar pro céu, eu tinha minhas dúvidas. Estava acordada desde antes do alvorecer e mais uma vez havia sonhado com algo que eu não conseguia me lembrar ao acordar. Me encontrava inquieta demais para voltar a dormir e no meu andar reinava um absoluto silêncio. Não se ouvia passos de funcionários ou portas se abrindo e fechando. O palácio inteiro dormia alheio ao dia nublado de hoje. Mas era apenas uma questão de tempo para que a calmaria desse lugar para a agitação de sempre. 

Tinha decidido me sentar no parapeito da janela e observar as poucas pessoas que passavam por ali até que fosse adequado descer e percorrer os corredores. Não queria receber bronca dos guardas e principalmente da Sra. Marta - que podia ser pior que todo um exército de Illea quando queria. Minha janela tinha vista para a piscina do palácio, haviam duas - uma ao lado da outra - e ocupavam grande parte do gramado por seu tamanho. Fico observando dois homens que faziam a limpeza de toda sua área em volta e, assim como outros funcionários que pude notar ao andar pelo palácio, pareciam realizar suas atividades com bom humor.

Pego meu celular para me distrair e a minha última conversa  surge na tela, me instigando para que eu mandasse uma mensagem para Ryan. Eu havia me despedido ontem o desejando uma boa noite e ele me desejou o mesmo.
Não foi dessa vez, Ryan.

"Mais um sonho que eu não consigo me lembrar."

Decido por fim enviar. Ele deveria estar dormindo então não espero por sua resposta imediata.

Depois de tantas conversas, Ryan já sabia o quanto me incomodava não lembrar dos sonhos e com ele a sensação era a mesma. Talvez eu deixasse mais claro o quanto era irritante para mim pelas vezes em que resmunguei sobre isso em comparação ao que ele deixava transparecer, mas, pelo menos entendia como eu me sentia. Às vezes eu desejava ser como Ryan. Ele tinha esse poder de estar sempre calmo e bem humorado não importa o que houvesse. Era dono de uma energia contagiante e, em certos momentos, eu me sentia tentada a tentar fazer o mesmo.