[História inspirada no livro A Seleção - escrita sob o céu no hemisfério sul - e baseada no que foi vivido em um rpg durante a quarentena.]
Ellen é uma jovem que tem seu planos mudados quando a seleção de um príncipe se torna uma alternativa para es...
Volto para o presente com a voz da comissária de bordo. Me ajeito na poltrona e coro ao ser pega de surpresa. A quanto tempo ela estava ali?
- Perdão, o que disse?
Pergunto desconcertada. Mas ela sorri levemente e pergunta simpaticamente.
- Gostaria de saber se a senhorita deseja algo?
Meu celular vibra mais uma vez em minhas mãos e volto a ficar nervosa. Tinha que acontecer justo hoje?
- Um café seria ótimo, muito obrigada.
A comissária assente e segue pelo corredor do avião me deixando sozinha com meus pensamentos e um celular com mensagens dele. Eu não deveria estar tão nervosa. Na verdade, estava mais para apavorada. Não tinha estado assim desde meu primeiro desfile.
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Minha mãe corria de um lado para o outro e eu acompanhava a correria com um olhar assustado para tudo aquilo. O maquiador que lutava com a minha agitação bufa mais uma vez e reclama
- Linda, se você não me ajudar não vou conseguir fazer um milagre aqui. Pare de procurar sua mãe e fique como uma estátua para que eu termine com isso, sim?
Recuo intimidada e engulo o choro tentando parecer o mais profissional que uma jovem de 17 anos poderia ser. Esse desfile era muito importante para minha mãe que, depois de anos fora do mercado, tinha voltado para o mundo da moda. Desde a morte de papai ela havia abandonado seus desenhos, mas hoje estava de volta com sua linha própria de roupa. E eu seria quem fecharia o desfile com as peças principais da coleção.
Eu tinha dito que talvez me colocar com tamanho destaque não era uma boa ideia. Por longos dias que antecederam o desfile tentei convencer minha mãe de colocar outra modelo em meu lugar. Eu era inexperiente nas passarelas e havia feito poucos trabalhos como modelo neste 1 ano de carreira. Apesar de amar o mundo da moda e de estar em frente às câmeras, muitas vezes me deparava com pessoas como o maquiador, que aliás ainda me encarava contrariado, e pensava que talvez aquilo não fosse para mim. Nesses momentos o meu maior desejo era estar com meu bloco de anotações viajando através das palavras. O que causava muitas brigas com William já que, segundo ele, estava perdendo tempo com besteiras ao invés de focar no meu futuro.
- Como está a estrela da noite?
Minha mãe se aproxima atrás da cadeira onde eu estava sentada, sua energia e animação eram tão contagiantes que não posso deixar de sorrir para ela quando a olho através do espelho. Estava muito orgulhosa dela e não queria que nada atrapalhasse sua grande noite.
- Está tudo ótimo, mãe. Dei uma olhada na plateia e todas as cadeiras estão preenchidas. Parabéns!
Não precisava me esforçar tanto em parecer animada. Eu estava mais do que feliz por ela. Minha mãe se coloca ao meu lado e segura minhas mãos com as suas, seus olhos cheios d'água que agora olham diretamente para mim demostram suas emoções quando ela diz com a voz embargada.
- Ainda não estou acreditando que tudo é real. Tem tanto tempo que estou longe disso que pra mim ainda é difícil acreditar que está noite chegou
Ela solta uma das mãos e limpa algumas lágrimas que escaparam, e eu preciso controlar para que não aconteça o mesmo comigo. Levo sua mão que eu mantinha segurando comigo até o rosto deixando um beijo nela.
- Pois acredite! Você é merecedora de todas as coisas boas que estão te acontecendo. Mas nada de chorar senão vai borrar sua maquiagem e não queremos isso, não é Patricio?
Provoco o maquiador que pula do meu lado e divide o olhar assustado entre minha mãe e eu.
- Com toda certeza! Chefa, essa noite será magnífica! E pode ter certeza que deixarei as meninas deslumbrantes para você. Eu vou... ali... Tiffy você é a próxima!
Ele grita para a modelo mais a frente e nos dá uma rápida despedida antes de ir até ela. Reviro os olhos e quando me viro vejo que minha mãe balançava discretamente a cabeça em gesto negativo. Ela se abaixa e pergunta baixo no meu ouvido.
- Ele é difícil de lidar, não é?
Antes que eu negasse e fingisse uma simpatia por ele para não preocupa-la, ela se adianta:
- Eu sei que é. Mas escute bem, você é capaz do que quiser ok? Não deixe que te façam duvidar disso.
Ela deixa um beijo em minha bochecha e depois se afasta para supervisionar os últimos detalhes. Respiro fundo e finalmente me olho no espelho. Meus olhos tinham uma sombra brilhante e um batom marcante. Eu me sentia linda. Mas isso não parecia o suficiente.
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O celular vibra outra vez e o que antes era medo se torna irritação. Aquele era o meu momento, uma nova história para mim e não deixaria que estragassem isso. Pego o celular decidida a acabar de vez com as incessantes mensagens, mas, quando vejo quem era dessa vez suspiro aliviada.
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Aperto o celular contra o meu peito e me permito chorar dessa vez.
