Capítulo 9

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Tranco minha porta ao fechá-la sem saber se havia necessidade para tal coisa. Estávamos num palácio, quem iria tentar roubar algo por ali? Não é como se eu tivesse itens de valor, penso sarcasticamente. Minha família tinha sim boas condições financeiras mas não me importava com o luxo de jóias e bolsas de grife.
Talvez tenha herdado a personalidade simples do meu pai, poucas coisas que ele considerava importante podiam ser compradas.
Mas por fim viro a chave e a guardo dentro de uma bolsa pequena que decidi levar no último segundo. Não achei que segurar o celular na mão o jantar inteiro seria bem visto na hora da avaliação da família real.

Ainda não sabia como iriam dar nota para cada selecionada nesta avaliação. Sra. Marta havia dito que a pontualidade seria um dos critérios, mas quais seriam os outros? Era provável que nossas vestimentas fossem analisadas mas como iriam lembrar de cada detalhe sobre nós esta noite? Somos 30 garotas afinal. Se baseando pela minha falta memória, isso seria um problema caso estivesse encarregada de avaliar. Sigo pelo corredor estalando os dedos, nervosa e começando a ficar aflita. Onde seria o jantar e por onde eu deveria seguir para chegar até lá? Meu andar começa a desacelerar a medida que passo a olhar os quadros pendidos nas paredes ao meu redor. Eram retratos de homens, mulheres, paisagens que imagino ser da propriedade do palácio e outro com sua fachada.

Mas um especificamente me chama mais atenção, como se sussurrasse para ser apreciado. Era uma linda colina com os primeiros raios de sol numa manhã, a julgar pelo tom que o artista utilizou, e um cavalo com traços tão incrivelmente detalhados capturando e retratando sua energia e liberdade. Não havia ninguém ao seu lado, nenhum esboço dizendo para quem observava o quadro de que o cavalo foi levado para lá por alguém. Pelo contrário, o artista parecia querer mostrar que aquele cavalo era indomável. Levanto a mão para tocar a pintura a óleo mas desisto, não sabia se era proibido assim como nos museus. Eu me sentia em um ao admirar aquela arte tão cheia de significados e sentimentos.

Uma batida de porta me tira dos meus pensamentos e olho para o lado identificando da onde vinha o som. Uma garota de cabelos pretos com um vestido na mesma altura do meu em tom bege perolado - longas mangas bufantes indo até seus pulsos e saltos altos - surge no corredor e assim como eu, parecia me avaliar curiosa. Me afasto do quadro e ando alguns passos até a porta onde ela ainda me encarava com a mão na maçaneta - seu quarto ficava a três portas do meu. Sorrio tímida para meu primeiro contato com uma selecionada e aceno levemente quando me apresento.

- Olá, me chamo Ellen Hunfrey. - digo e vejo trancar seu quarto, o que me faz suspirar aliviada por não ser a única. Ela se vira para mim e responde com um tom doce.

- Olá Ellen, meu nome é Ana Nattalie Bach. Muito prazer - ela diz estendendo sua mão com um sorriso contagiante.

- Muito prazer, Ana Nattalie - retribuo seu aperto de mão e é impossível não sorrir mais abertamente.

Nesse momento a silhueta da Sra. Marta aparece no final do corredor e ela se aproxima em passos apressados até nós. Ana Nattalie se vira para olhar o que eu encarava com tanto receio e as duas suspiram como se esperasse a bronca que certamente viria. Pelo visto eu não era a única que conhecia esse lado agitado da Sra. Marta, era possível dizer que ela parecia com o coelho de Alice No País Das Maravilhas. Com certeza Will acharia o mesmo, penso tristemente. O tom alarmante da Sra. Marta me distrai.

- Vocês duas! A recepção é lá embaixo e não no corredor. Vamos, vamos! O rei está à espera!

Troco um olhar com Ana Nattalie, que também tinha uma expressão divertida em seu rosto, e caminhamos com a Sra. Marta entre nós até a escada. Seu andar era tão rápido que mesmo tendo a experiência de passarelas e o uso constante de saltos altos, precisei me equilibrar sobre eles para acompanhar seu ritmo. Olho de relance para Ana Nattalie e ela parecia fazer o mesmo. Descendo para o que eu lembrava ser o hall do palácio, a Sra. Marta passa a nos orientar sobre o que aconteceria no jantar.

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