Constelações Austrais

Capítulo 17

Faltavam dois dias.

Dois dias para o prazo final da prova e os moradores do palácio eram pura tensão. As selecionadas mal eram vistas pelos corredores ou no salão de refeição - sempre estavam reunidas com seus grupos - e Helena também se empenhava em ajudar nesta segunda fase, ora como conselheira ou professora.
Sra. Marta também participava auxiliando as selecionadas nesta prova, sempre com seu relógio em mãos e passos apressados.

Pouco se sabia da família real, o rei e a rainha estavam reclusos em seus afazeres reais e apenas os vimos nas páginas do jornal depois de uma visita ao reino aliado de Illéa fazendo com que se iniciasse alguns boatos sobre a guerra e principalmente uma matéria bem sugestiva da jornalista Stella - que descobri ser bastante popular por aqui. Sua matéria questionava se a viagem até outro país teria sido apenas uma gentileza por sua aliança de anos ou um pedido de empréstimo de seu exército. A coragem ao escrever sua opinião sem temer a grande influência da família real deveria ser grande fator responsável para sua reputação. 

Por todo este período no palácio eu ainda não tinha conhecido a princesa Sofia - irmã de Maxon e também famosa por estampar os jornais ao lado de seu primo - e me perguntava como seria. Confesso que tinha uma certa timidez para tentar algum tipo de aproximação com ela e me sentia grata por seus primos, e até mesmo seu irmão, terem tido a iniciativa de falar comigo. Mesmo que eu não tenha conversado mais com o príncipe depois de nosso jantar, além de poucos cumprimentos pelo palácio, podia dizer que de certa forma nos conhecíamos. Ao menos ele não era mais nenhum estranho para mim.

Minha relação com Charlotte estava cada vez mais estreita e a cada dia que passava éramos mais próximas. Estava sempre com ela, quando eu não participava das reuniões com meu grupo da prova, e com Lotte a pressão da seleção ficava mais leve. Em certos momentos até mesmo desaparecia enquanto conversávamos sobre livros ou sobre seu charmoso Charles. Me sentia como uma adolescente comum com amizades normais, e eu valorizava minha amizade com a princesa. Nunca tive alguém que fosse tão verdadeira e gentil como ela.

E para meu alívio, não conversávamos sobre seu irmão.

Apesar de eu e ele trocarmos mensagens todos os dias, desde que respondeu minha foto do jantar, ainda não me sentia à vontade de falar sobre Ryan em voz alta. Não tinha certeza se ele havia comentado sobre nossas conversas com alguém mas eu me sentia melhor em pensar que nossa crescente amizade era algo apenas nosso. Sempre tínhamos assuntos para conversar; música, culinária, filmes e principalmente nossos sonhos. Depois de uma conversa descontraída sobre nosso dia, virou rotina dividirmos os sonhos que tivéssemos durante a noite - que em sua maioria eram sempre estranhamente sem sentido. E ele quase sempre tinha algum para contar. Era divertido escutá-los.

Nunca ficávamos sem assunto ou por um longo período sem trocar mensagens desde que começamos a conversar. Éramos amigos agora e eu estava aprendendo a controlar aquela atração que seus olhos e sua presença me causaram no início. Conversar com ele havia se tornado algo fácil e essencial.

Desde nosso encontro na cozinha não tínhamos nos encontrado pessoalmente mas eu torcia para que se isso acontecesse outra vez, que aquele poder fosse menos devastador em mim. Que dessa vez eu o olhasse apenas como um amigo. Afinal, era assim como ele me via, não haviam motivos para criar qualquer tipo de esperança. O primo do príncipe estava sempre acompanhado de alguma selecionada nas fotos que postava ou de garotas desconhecidas, me causando pontadas no estômago sempre que novas publicações surgiam.

Depois de seu passeio na torre do palácio com Melinda - uma selecionada de cabelos negros - eu evitava acompanhar suas postagens. Só por precaução.
Também não tinha segundas intenções em suas conversas, eram sempre sobre coisas que tínhamos em comum ou algo que nos fazia conhecer um ao outro.