Constelações Austrais

Capítulo 10

Acordo com a luz do sol que vinha de uma fresta na cortina e resmungo me odiando por não ter fechado completamente ontem. Precisava dormir mais, uns dois dias talvez. Demoro um pouco para me habituar com a claridade e então percebo onde eu estava. A mobília de luxo e o colchão confortável deixavam claro de que eu não acordara em casa. Viveria no palácio a partir de agora. Céus, era mesmo real. Ainda sentada sobre a cama, eu apoio a cabeça em minhas mãos e lembranças de ontem invadem minha mente. Os fotógrafos, o jantar, o discurso do rei, o sorriso envolvente do príncipe, seu primo galanteador observando as selecionadas próximas a ele, Charlotte Herondale acenando rapidamente em minha direção antes de sumir com sua prima e a rainha fitando-me com atenção ao acompanhar com o olhar quem sua sobrinha cumprimentava.

Depois disso tudo aconteceu rápido demais. Assim que a família real se despediu e o jantar foi encerrado, todas as selecionadas foram liberadas e instruídas a voltar para seus aposentos. Suspirei aliviada assim que deixei a mesa e fui em direção ao meu quarto. No caminho de volta encontrei garotas que ainda não tinha observado no jantar e percebo que algumas delas estavam vestidas de forma que eu não me arriscaria a fazer na noite de hoje, umas com vestidos curtos demais e outras elegantes em excesso. Chego no meu quarto questionando minha escolha de roupa e qual seria minha nota mas estava exausta, resolvo me preocupar com isso em outra hora. Guardo minha energia apenas para tirar o vestido, retirar a maquiagem e logo depois já estava na cama.

Então quando desperto, vou direto para o banho. Vejo no celular sobre a mesa que eram nove horas e eu deveria me apressar se quisesse tomar café da manhã. Ainda não sabia até que horas seria servido mas tinha certeza que poderia encontrar a Sra. Marta pelos corredores para lhe perguntar ou até mesmo poderia esperar por suas batidas na porta a qualquer minuto. Agora com mais calma me permito observar o banheiro do meu quarto, era iluminado pelo sol através de uma grande janela na lateral e revestido de mármore branco. Um grande espelho ocupava a parede onde estava a pia e passo a encarar meu reflexo por alguns segundos.

Meu rosto tinha claros sinais de cansaço, o que era compreensível pelo choro durante o vôo e o jantar que durou até quase a madrugada, mas tinha algo diferente. Um brilho no meu olhar que eu não costumava ver. Ridículo, balanço a cabeça achando a ideia absurda. Apenas um dia no palácio e eu já estava enxergando coisas que não existiam. Sigo para o chuveiro e dessa vez lavo os cabelos. Demoro mais alguns minutos apreciando a água quente sobre a pele, sentia que os instantes de paz ali seriam raros então decido aproveitar o máximo que posso.

E logo me veem a mente os conselhos da selecionada no jantar de ontem: "Você está aqui. Aproveite."

Saio com a toalha enrolada, uma na cabeça e outra no corpo, e vou até minha mala para decidir a roupa que usaria. Ignoro o pensamento que me lembrava de desfazer a mala, e arrumar minhas roupas no espaçoso e luxuoso guarda-roupa que havia no quarto, enquanto pondero sobre a primeira peça de roupa que encontro. Arrumaria aquilo mais tarde. Já que nenhum aviso foi dado sobre algum compromisso real não me oponho a vestir um suéter azul por cima de uma blusa branca fina de alça, calça jeans e meu all star branco.

O clima aqui em Illéa tinha seu frescor, o sol era ameno mas, apesar do céu ensolarado desta manhã e as poucas nuvens aparentes, havia uma corrente de ar gelada que me fazia estremecer principalmente após um banho quente. Pretendia visitar o jardim e usufruir do sol sobre minha pele assim que descobrisse o caminho até lá. Tiro da mala o livro que ainda não havia pego desde a minha última noite em casa e com o celular em mãos checo o horário.  Faltavam vinte minutos para às dez horas da manhã.
Era melhor descer logo.

Saio do quarto trancando a porta novamente e dessa vez guardo a chave no bolso da calça. Sigo pelo corredor e sorrio reconhecendo o quadro que admirei ontem ao passar por ele, continuo andando até chegar as escadas e consigo ouvir algumas vozes femininas mas não tinha certeza de onde vinham. Faço meu trajeto até o andar de baixo e ao olhar para o final da escadaria vejo duas garotas ao pé do último degrau conversando em meio a sorrisos.