Aquela foi uma pergunta complicada. Harry tocou em um assunto delicado demais. Não saberia dizer ao certo o que talvez ele desejasse ouvir então apenas improvisei.
— Você vai sentir, acredito eu — Pensei por um instante — Se você ama alguém, nunca se cansará em demonstrar a todo instante. Acho que a pessoa certa é o seu norte, seu rumo, e você sempre acaba voltando para ela. Talvez fará coisas das quais se arrependa, mas nunca, nunca, deve a deixar ir, isso é importante. Se cada respiração dela, mesmo que longe de você, for um alívio, então certamente você a encontrou.
— Discordo — Zayn irrompeu de repente. Seus olhos dançavam por todos os objetos de decoração possíveis, mas nunca paravam em mim. Seu ato pareceu um impulso improvisado — Não existe isso de pessoa certa, Harry. Todos erram, todos fazem atos impensados. Nós somos humanos e o máximo que você encontrará é alguém menos errado. Essa pessoa nunca esquecerá de você rápido, mas, caso esqueça, então foi você o único que amou.
Aquilo parecia pessoal demais. Ele estava tentando dizer algo a mim? Era provável que eu também quisesse.
— Às vezes a pessoa não vai te esquecer, Harry. Talvez tentará, e muito, mas nunca vai conseguir se te amar de verdade. Existe sim uma pessoa certa — Afirmei — E ela com certeza nunca te magoaria. Não de propósito, pelo menos.
— Harry, talvez deva pensar um pouco — Zayn insistiu, direcionando sua irritação ao pobre Harry. Confesso que eu estava fazendo o mesmo — Quando se ama alguém, você faz de tudo para que ela não sofra, mesmo que signifique ter de sofrer para isso.
— Sim, mas... — Styles tentava falar algo a todo instante, sendo sempre interrompido.
— A questão é: você tem mesmo certeza de que pode julgar a pessoa, Harry? As intenções dela podem parecer confusas para você — O interrompi — Mas no fim você percebe que seu egoísmo pode ter te cegado para entendê-la.
— Isso é ridículo — Malik gesticulou, dessa vez olhava no fundo dos meus olhos. A Sra. Ewa e os outros ouviam a discussão em silêncio, virando a cabeça apenas na direção de quem resolvesse falar, como em uma partida de tênis — A vida não é um conto de fadas. Nem sempre as pessoas que se amam ficam juntas. Essa coisa de amor é uma farsa, aliás. Não existe. Não de verdade.
— Ridículo é a sua forma de pensar — Rebati, me direcionando a ele — Acha mesmo que o amor é algo tão fantasioso e impossível? É tão incapaz assim de amar, Malik? Você não deve nunca ter desfrutado dessa sensação na sua vida, por isso não consegue formular uma só opinião válida.
— Sim, eu já senti, e por isso digo o que digo — Prosseguiu outra vez — Se quer meu conselho, Harry, não ame. Simplesmente isso. O amor cega as pessoas para o que realmente deveriam ver. Esqueça disso e continue sua vida, é o melhor para você.
— Há pessoas que dizem para esquecer as coisas da mesma forma como esquecem pessoas importantes, Harry — Rebati — E não digo de amores, mas sim também daqueles que devia proteger, quero dizer, seres humanos indefesos.
— É claro que outras também não veem o seu lado, Harry — Zayn continuou — Não entendem que às vezes afastar-se é a melhor das opções para proteger. Mas essas coisas são assuntos delicados.
— Delicados como o abandono de crianças, Zayn? — Dessa vez, tentei soar tranquila — Acha que esse assunto é um exemplo tão delicado quanto? — De repente, caí em mim ao perceber que todos estavam escutando nossas indiretas — Quem é essa pessoa, afinal, Harry? — Tirei nossa discussão de foco.
— Quer mesmo saber?
— Vamos às apostas, senhores? — Brincou Louis, aparecendo na sala — Mínimo de dez euros, por favor. Apostem em candidatas conhecidas por todos, de preferência.
Harry voltou a retrair-se e se calou. Resolvi que faria o mesmo e apenas observei suas conversas enquanto tentava impedir meu remorso. Os assuntos diversos acabaram por estenderem-se pelo resto da noite, terminando no começo da madrugada. Liam, Maya e Bear foram embora cedo, alegando precisarem trabalhar no outro dia com seja lá o que faziam. Niall estava completamente bêbado pelo vinho que tomara, acabando por ser arrastado até sua casa pelo meu irmão e Harry, seguidos pelas risadas de Freddie com a situação. Sobrados Zayn, Isla e o garoto moreno filho deles, percebi que moravam ali pois nenhum se incomodou de ir embora mesmo que o outro dia tivesse chegado. Seria difícil dividir a casa com alguém que quebrou meu coração e ainda por cima sua nova paixão a tiracolo.
Khaleb rapidamente se acomodou ao meu lado, cochilando com seu corpo apoiado em mim e esticado no sofá. Laurie gostou logo de cara de Olívia e dormia em seu colo. Hassan, por outro lado, se mantinha acordado, lançando olhares magoados para Zayn e recebendo carinho de sua avó.
— Acho que devíamos conversar mais vezes sobre os nossos filhos, Lou — Isla comentou, visivelmente alterada. Ela tomava sua taça de vinho olhando para o fogo queimar as lenhas na lareira. Se não fosse por ele e a luz refletida pela lua, nada estaria iluminando o ambiente escuro e silencioso.
Tentei ao máximo não fazer uma careta ao ouvir uma abreviação do meu nome vinda da sua boca.
— Claro.
Fiz carinho no cabelo de Khaleb, tirando-os de frente dos seus olhos. Seu rosto estava tão calmo que transmitia a mesma expressão de Zayn quando dormia. Sereno. E hilário. Quase gargalhei. Quase.
— Hass, agora você precisa dormir, não acha? — Aconselhei, apontando para a área dos quartos — Você tem aula de francês amanhã de tarde.
— Não quero aula amanhã! — Disse ele manhoso, sua voz carregada de sono — Pode dispensar o professor? Podemos marcar a aula para outro dia, não podemos? Estou de férias, mãe!
— Você precisa treinar, mon amour — Insisti.
— Hassan, o que acha de sair comigo amanhã à tarde em vez de ter aula? — Zayn sugeriu, provocador.
O garoto hesitou por um momento, mas sabia que aquela era a única forma de escapar da aula e de poder conversar finalmente com Malik.
— Ele tem aula — Informei, sem encará-lo de frente.
— Louise, não acha que devia soltar as rédeas só um pouquinho? — Olívia sugeriu. Não era a primeira vez que alguém dizia-me isso — Uma aula a menos não vai fazer tudo desandar.
— Hassan é um dos meus filhos e está de férias das aulas obrigatórias da escola — Expliquei, calma — Ele e os irmãos vão cuidar de tudo que é do meu pai depois de mim. Eles têm deveres com a nossa família, Olivia.
— E é o que ele quer? Já perguntou isso a Hassan? — Malik manifestou-se — Conheci certa vez uma pessoa que não queria esse futuro mas foi obrigada e, bem, já não é a mesma agora. Não seria bom que ele também não tivesse escolhas. Boa noite.
Ele então deixou a sala e partiu para o que presumi ser o seu quarto. Acredito que um chute doeria menos vindo de alguém sem moral para julgar-me. Talvez uma aula pela tarde, um Hassan impaciente e pessoas descontentes não seria problema. Apenas manteria-o longe de Zayn e a mim mais calma.
________________________________________________Sim, eu cedi as chantagens da Ana (mas só porque eram tentadoras).
Mais um capítulo como pedido, gente ✨
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Stockholm Syndrome? |2°temp.| [Z.M]
Fanfiction•Livro 2 da duologia "Stockholm Syndrome?"• Louise tem um desfecho trágico para o que achava ser sua grande história de amor, e o que resta à ela agora é recolher os cacos do seu coração despedaçado e seguir em frente. Após colocar em jogo sua felic...