Capítulo XV

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— Então é você — Isla constatou sentando ao meu lado na varanda que dava para o jardim de entrada. Na nossa frente, filhotes de gato brincavam com uma borboleta amarela, alheios a quaisquer fatos que ocorressem em sua volta.

Depois da tristeza que fiz Khaleb sentir quando descobriu sobre Zayn ser seu pai, não tive concentração em trabalhar ou muito menos conversar com ele. Apenas passei uma longa hora admirando o quão bonita era a propriedade da Sra. Lewandowski. Com pastos, plantações, animais, um poço de água, tanque de peixes e um lago cintilante, apresentava um ar sossegado, quase como se nada deprimente pudesse vir a acontecer ali. Só que não vivemos de aparências o tempo todo.

— Eu o quê? — Confusa, questionei, mais vidrada nas rosas vermelhas e pretas que se estendiam ao longe em um amontoado do que nas suas constatações aleatórias.

— Você é a mulher por quem Zayn é apaixonado — Respondeu Isla, oferecendo-me um pequeno sorriso — Deve ser por isso que nunca demos certo.

Lancei a ela um olhar que demonstrava dúvida, uma completa confusão.

— Desculpe, mas não sou eu. Não estamos apaixonados. Nunca estivemos.

— Eu disse que ele é apaixonado por você, não que você é por ele. Até uma criança mente melhor que Louise Chapelle. Precisa treinar mais, se quer um conselho.

Senti meu rosto esquentar instantaneamente com a ideia. Isla não era boba. Pelo contrário, estava longe disso.

— Sabe, eles contaram tudo para mim e Maya — Prosseguiu ela — Dois filhos juntos e uma história de amor dessas... como podem negar tanto que se amam? Isso é para tentar convencer vocês mesmos do contrário? Talvez devesse repetir essa frase mais vezes. Vai que em alguma hora vocês finalmente acreditam nisso.

— Não interprete mal as coisas — Frisei — Já disse que não sentimos nada além de ódio um pelo outro. Talvez tenhamos os dois feito coisas terríveis mas o que fiz não se compara ao que ele fez. Ele foi pior. Continue com o seu namorado e não ligue para mim, por favor. Vou embora daqui a poucos dias, não quero que você também não goste de mim.

— Por que está na defensiva? — Isla questionou em divertimento — Não estou fazendo mais do que tentando entender isso tudo... — Sua fala foi interrompida quando avistamos Khaleb em um banco próximo às galinhas, Zayn sentado ao seu lado com as pernas esticadas e as costas escoradas na madeira do galinheiro, arrancando folhas de grama e quebrando-as em diversos pedacinhos enquanto falava coisas a ele para tentar fazê-lo rir, sem sucesso — Acho que devia ir até lá... talvez ele precise da ajuda para conversar com o filho de vocês.

Olhei para ela por um breve tempo, buscando encontrar qualquer vestígio de maldade ou segundas intenções. Ao não vê-las, não deixei de ainda pensar nisso enquanto caminhava até Khaleb e Zayn que notaram minha presença apenas quando eu já estava perto demais. Sentei no outro lado vazio do meu filho, buscando sua mão que mexia a todo momento em movimentos nervosos.

— Então é por isso que eu preciso aprender todas aquelas letras esquisitas do "alfabeto"? — Adivinhou Khaleb estando em uma conversa verdadeiramente séria com Malik ao passo que fez aspas com as mãos ao dizer a última palavra.

— Sim — Ele confirmou — É difícil, eu sei. Mas eu posso continuar a te ajudar, se quiser, amigão.

Khal o abraçou de repente, levando minha mão consigo e a fazendo encostar nos braços descobertos de Zayn. Calafrios me fizeram afastar os dedos depressa, estranhando a sensação que arrepiou meu corpo por inteiro. A mesma de seis anos atrás.

— Eu não me importo que você tenha ido embora — Disse o garoto com a voz abafada pelas roupas de Malik — Só não quero que me deixe outra vez... éhhh... pai?!

— Nunca mais... hum... filho — Zayn brincava com os cabelos de Khaleb — Não vai se livrar tão cedo assim de mim. Vou ficar no seu pé até não aguentar mais!

Khaleb enfim se voltou para mim e se agarrou ao meu braço.

— Mamãe, você me desculpa por ter falado daquele jeito? — Indagou, triste — Eu estava muito nervoso mas o Za... papai, me falou que eu não poderia fazer isso com você e agora eu entendi que não posso mesmo.

Beijei o seu rosto e sorri.

— Não estou brava com você, querido. Eu não devia ter...

— Está tudo bem agora, Khal — Zayn interrompeu-me. Talvez não fosse mesmo o momento de fazê-lo odiar-me por esconder aquilo.

— Mamãe, posso ir amanhã na escola onde o Z trabalha?

— Khaleb, você precisa estudar... — Adverti.

— Ele aprendeu a escrever o próprio nome — Zayn disse simplesmente — E agora está melhor com as letras.

— Ele que me ensinou! Eu quase consigo escrever o seu nome, mãe! — Comemorou o menino.

— Mostre para ela — Malik incentivou com um sorriso. Entregou a ele um pedaço firme de madeira e apontou para a parede do galinheiro — Escreva.

Receoso ele começou, letra por letra, a escrever seu próprio nome e se alegrou ao fim, pedindo para que lhe informássemos como era escrito nossos nomes e os colocou ao lado do seu, como se os gravasse na sua memória. Ficaram lá. O meu nome, o de Zayn e a prova de que um dia tivemos algo, mesmo que apenas eu havia sentido. Khaleb era a prova daquilo.

[...]

Niall convenceu-me de que seria uma boa ideia visitar a escola junto às crianças, esperando assim proporcionar uma palestra sobre meu trabalho para os estudantes. O período de férias deles era diferente do da França e por isso coincidiu com as datas em que eu estava livre. Mesmo que hesitante por precisar preencher papeladas referentes a empresa do meu pai, aceitei conhecer um pouco mais sobre como eram escolas do interior das cidades da Inglaterra.
A parte mais estressante foi não pensar nos problemas durante o percurso. Lembrei-me de Emma de repente e de como ela iria gostar daqui. As estradas, rios, árvores... eram todos elementos que deixavam a paisagem ainda mais pacata. Igualmente a como era ela.

— Desçam devagar! — Orientou Zayn ao estacionar a mini van emprestada por Connor.

A escola em si era grande até. Possuía dois andares e tinha seu tamanho aproximado a umas sete casas de renda média. Muitas crianças e adolescentes adentravam ela, despedindo-se dos pais. Félix, Freddie e Bear, que nos acompanhavam, logo estavam correndo para dentro, já que estudavam ali e a conheciam por inteiro.

— Professor Malik! — Saudavam os alunos ao perceberem sua presença. Ele respondia sempre com muito bom humor, pequenas brincadeiras e piadas sem graça.

Notei que, apesar de estar sempre de roupas sociais — exceto pela calça jeans —, os alunos não o viam necessariamente como um adulto, mas sim como alguém em quem confiavam.

Shade, mesmo que novo demais para estar matriculado ali, era familiarizado com o local. Provavelmente frequentava-o quase sempre.
Uma espécie de sirene tocou assim que entramos no primeiro corredor, alertando a todos que as aulas haviam começado. Rapidamente, as salas foram preenchidas por conversas altas e o lado de fora apresentava quietude.

Tentei fingir não ver ao perceber a forma como algumas garotas passaram por nós olhando para Zayn. Sorriam envergonhadas, buscando chamar sua atenção. E foi bem nessa sala que Malik colocou os pés. Suas alunas pareciam ter uma espécie de paixão platônica pelo professor simpático que aparentava não perceber ou então ignorava completamente o fato. Se não fosse isso, era algo parecido.

O dia parecia interessante até então.

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O que será que vai acontecer na escola? KKKK
Próximo capítulo é sobre isso✨

Stockholm Syndrome? |2°temp.| [Z.M]Where stories live. Discover now