Stockholm Syndrome? |2°temp.| [Z.M]

Capítulo XVI

— Bom dia, turma — Zayn disse retirando do ombro a alça da bolsa verde-musgo que carregava e colocando-a em cima da sua mesa à medida que todos achavam seus lugares.

Aquela turma era composta apenas por adolescentes que sorriram ao perceber a presença de Shade com familiaridade.

— Trouxe seu filho hoje, professor Malik? — Presumiu uma das garotas que observei no corredor mais cedo. Zayn não parecia mesmo notar o sorrisinho delas e por isso as tratava normalmente.

— Sim, todos — Respondeu — Lembram do Hassan do outro dia? Ele também está aqui. E tem o Khaleb, meu filho do meio.

Ao dizer isso, um sorriso involuntário brotou no seu rosto. Para ele parecia tranquilizante que não tivesse a falsa sensação de que Khaleb estava morto. Era estranho ouvi-lo dizer isso — meu filho — com tanta naturalidade.

— Nunca nos disse que tinha um terceiro filho, professor — Comentou uma outra menina, intrigada.

— Pois é — Ele coçou a nuca — E aquela ali é a irmã deles, Laurie, mas não fiquem assustados, não é minha filha. Não sou do jeito que vocês pensam. Ainda consigo me controlar.

Aquilo gerou uma crise de risos pela sala.

— Nicholas, pode levá-los até a sala da professora Davidson? Acho que será menos tedioso para eles pintarem quadros com crianças da idade deles — Prosseguiu Zayn. Os quatro foram acompanhados por um garoto da sala que aparentou sentir-se importante em auxiliar o professor — Louise, venha aqui, por favor — Eu, que estava na porta da sala e escondida no corredor, adentrei o cômodo com um pequeno sorriso no rosto, meu modesto salto rendendo ao silêncio uma sinfonia estranha — Pessoal, se lembram do nosso projeto em que trago um profissional diferente de cada vez para inspirá-los? — Eles responderam um "sim" em uníssono — Então. Essa aqui é a Louise, ela trabalha com a gestão de uma empresa familiar.

Apesar de não dirigir-me a palavra e de ainda estarmos travando uma guerra silenciosa, Zayn era o mais neutro possível.

— Hum... Oi — Os cumprimentei com um sorrisinho.

Eles me responderam, alguns animados e outros desconfiados, especialmente as garotas que vi no corredor.

— Eu sou a Louise e já fazem alguns anos desde que assumi grande parte do trabalho do meu pai na empresa dele — Me apresentei, gesticulando brevemente com a mão. Arrastei uma cadeira e me coloquei a sentar nela — Bom, como podem ver, meu estado não é exatamente o que podemos arriscar, não é? — Eles riram por um instante da minha enorme barriga.

— O que você fazia antes disso? — Um menino simpático quis saber, curioso. Talvez meu nome fosse famoso apenas no mundo dos negócios e de adultos. Nenhum deles me reconheceu. Eu precisava respondê-lo para que pudessem ter uma base de como era trocar de profissão tão drasticamente como fiz. Eles precisavam entender que tinham tempo de mudar o quanto desejassem e estava tudo bem.

— Bom, eu era... — Hesitei, respirando fundo — Investigadora de polícia, mas...

Isso despertou a curiosidade deles. Todos começaram a falar ao mesmo tempo, cheios de perguntas interessantes.

— Silêncio — Zayn os repreendeu da sua cadeira, cruzando os braços.

No fim, o que era para ser uma palestra sobre como eu administrativa toda uma empresa de grande porte, tornou-se um mar de memórias da minha antiga profissão. Aquela de que eu realmente gostava. Os alunos, depois disso, foram instruídos pelo professor a escrever um breve rascunho sobre tudo o que falei e o que acharam disso. Enquanto faziam suas anotações, um deles pediu permissão a Malik para colocar alguma música, acalmando assim todos aos poucos. Melodias faziam milagres, afinal.
Uma aluna, que atendia pelo nome de Jessie, estava tão empolgada com o que eu disse que pediu para que eu me sentasse ao seu lado e contasse um pouco mais para ela. De repente, a canção que começou a tocar fez meu peito se apertar.

Dandelions.

Sorri ao perceber que ainda lembrava sua letra, aproveitando que todos estavam conversando e não me ouviriam. Eu não a escutava há anos...

— Essa música é boa, não é? — Indagou Jessie ao me notar cantarolando-a.

— Acredito que seja minha preferida à muito tempo — Respondi.

Ela me encarou, intrigada.

— É a preferida do professor Malik também — Uma garota, que sentava no meu outro lado, observou — Ele disse que começou a gostar dela depois que conheceu alguém à muito tempo...

Ambas semicerraram os olhos e sorriram maliciosamente, analisando o professor que corrigia avaliações na sua mesa. Pude ver sua boca abrindo-se e fechando conforme cantava a letra da música de modo discreto.

Khaleb entrou correndo pela sala de repente, procurando por mim.

— Mamãe, olhe o desenho que eu fiz!

Ele mostrou então um desenho em aquarelas coloridas. Não havia muito a entender. Estava claro que tentou representar todas as crianças que conheceu na casa da Sra. Lewandowski, os tios, Zayn, seus irmãos e eu.

Alternei meu olhar entre as duas garotas que abriram um sorriso ainda maior do que já estampavam. Pensei que seus rostos se rasgariam a qualquer instante.

— Desculpe, mãe. Eu não consegui parar ele — Nervoso, Hassan lamentou sem entrar na sala, não restando fôlego por ter corrido.

— Querido, isso está lindo! — Sussurrei para Khaleb — Agora volte para lá e faça mais desenhos incríveis como esse. Ah, e, mocinho, obedeça seu irmão!

Ele assentiu, voltando a correr.

— Ei, projeto de Van Gogh! Não corra por aí e lave suas mãos! — Repreendeu-o Zayn — Olhe só sua roupa! Estou vendo que vai acabar sobrando para mim limpar isso!

Khaleb gargalhou indo em direção a sala que estava anteriormente.

— Você é a mãe dos dois filhos mais velhos do professor! — Afirmou Jessie em cochichos empolgados — O menor é mesmo igualzinho a vocês dois! Então o bebê que você está esperando também é do senhor Malik?

— Não, senhorita — Tentei sorrir — Poderia fazer perguntas relacionadas apenas ao meu trabalho?

— Nossa! — A outra exclamou, encantada — Então vocês são amantes do passado?! Que romântico!

Agradeci aos céus por ninguém mais ouvi-la. Depois de deixá-las ainda mais intrigadas sem querer, fui para o fundo da sala e retirei meu notebook da bolsa, colocando em dia tudo o que não fiz antes. Foram horas de trabalho. Quando percebi, estávamos apenas eu e Malik na sala, cada um em um canto da mesma, o mais afastados possível. Ele tinha seus olhos vermelhos de tanto os forçar para corrigir provas, atividades e relatórios. Passei as mãos no rosto, esperando me manter acordada.

— Oi, gente! — Harry apareceu na porta da sala — Vim buscar as crianças. O Louis comprou sorvete para elas... Vocês vão demorar muito ainda ou querem que esperemos por vocês?

— Mais alguns minutos, por favor — Zayn pediu de forma concentrada — Estou quase acabando isso.

O seu "quase acabando" significava apenas uma coisa: "não quero ir agora, tenho muita coisa para fazer".

— Você pode levá-los, por favorzinho? — Questionei a Harry — Aqui é um lugar tão silencioso... posso terminar o que estou fazendo rapidinho! 

— Tudo bem — Confirmou ele, sorrindo.

Antes que Harry pudesse ter a chance de ir embora, arregalou os olhos ao perceber minha careta de dor. Faziam alguns minutos que eu estava sentindo-a, porém tentei ao máximo não transparecer até que piorara de vez.

— Louise, o que foi? — Perguntou Styles, aproximando-se — Louise!

E foi então que olhei para baixo e notei que minhas roupas estavam estranhamente encharcadas e a dor forte no abdômen se intensificara. Péssima hora para querer conhecer o mundo, Pierre. Péssima hora.

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Pierre apressadinho kkkkk o que será que vai acontecer??