Capítulo XXIV

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A tarefa mais difícil foi explicar a Laurie e Shade que não poderiam ir junto para a escola com Hassan e Khaleb pois eram novos demais. Custou-me um debate ferrenho de muitos minutos, com argumentos bastante sólidos e condizentes para aquietá-los.

— Olhe só o que comprei! — Anunciou Zayn orgulhoso de si mesmo ao aparecer de repente e conforme mostrava um carrinho duplo para crianças e uma bolsa que nomeavam de "canguru" ou algo que ele disse em seu discurso eloquente que ignorei por completo. A espécie de bolsa seria basicamente para prender o bebê no corpo de quem a usasse, para que então não precisasse usar os braços para carregá-lo. (*Foto na mídia*)

— Mas que sem graça! — Exclamei, sem paciência — Você me deixou aqui por todo esse tempo só para comprar isso enquanto a Lau e o Pitico enlouqueciam os vendedores da loja?! — Ele deu de ombros, afirmando como se fosse óbvio — É você que vai usar esse treco, não eu.

— Certo, L-o-u-i-s-e. Venham aqui! — Zayn chamou as duas crianças que corriam em círculos ao meu lado e acrescentando, ao soletrar meu nome, uma dose de sarcasmo desnecessário que ignorei. Ambos gostaram dos seus novos meios de transporte e logo estavam calmos outra vez, apontando para produtos e conversando sobre eles à medida que eu empurrava o carrinho e levava a cesta de compras em uma manobra complicada.

Para Malik, restou apenas colocar Pierre de forma delicada na "bolsa canguru" e carregá-lo para lá e para cá enquanto escolhia os produtos do mercado naquele dia frio. Era uma cena bastante cômica que daria uma manchete maravilhosa para os jornais.

"De criminoso nato à babá do ano".

— Ela está afim de você — Informei de repente observando-o escolher alguns tomates. O clima havia feito Ewa perder metade da sua colheita do mesmo na fazenda e assim tivemos que comprar mais. Maldita neve.

— Ela quem? — Questionou totalmente desinteressado.

— A professora do Khal. Perrie, certo?

— O que? Claro que não está!

— Óbvio que sim, Malik — Afirmei — Devia investir. Ela é bem bonita.

— Não estou interessado — Ele disse com uma pontada de impaciência na voz.

— Você ainda tem algo com a Isla então ou é só idiota mesmo? — Presumi como quem não queria nada. O que eu estava fazendo?!

— Não — Negou de modo seco — É tão difícil assim um pai solteiro não querer relacionamentos? — Observei em volta, escorada em um balcão de frutas, notando algo que me fez rir, distraindo-me do tédio que sentia no momento — Que bom que algum de nós está se divertindo em fazer compras. Ou então só observando o outro fazer, não é?!

— Olhe disfarçadamente para a direita — Zayn fez que sim, virando a cabeça — Está vendo aquelas duas mulheres? — Assentiu outra vez, concentrado. Grande fofoqueiro! — Parece que elas gostaram da versão Zayn babá.

— Quer parar com isso, Louise?!

— Está irritadinho desse jeito só porque provavelmente está enferrujado, não é? — Provoquei, rindo.

— Não, não estou — Assegurou voltando a suas compras.

— Prove.

— Aqui? — Ele olhou para os dois lados, sorrindo maliciosamente.

— Ah, vamos! Ninguém está vendo — Observei — Ou o senhor Zayn Malik já não sabe mais seduzir uma dama?

Seu sorriso se alargou com mais intensidade assim que percebeu que as crianças não olhavam. Se aproximou de mim o bastante para que sua respiração batesse contra o meu rosto e gerasse arrepios pelo meu corpo.

— Tem certeza? — Ele sussurrou perto do meu ouvido, colocando meu cabelo para trás do ombro e encostando levemente seus lábios na minha pele ao falar.

— Se eu disse que sim — Respondi também em sussurros.

Engoli em seco quando seu sorriso sumiu aos poucos, encarando com atenção todas as minhas expressões e aproximando seu rosto do meu. Recuei por um instante, insegura.

— Eu não vou te beijar — Murmurou ele, quase rindo novamente — Só quero te mostrar o que pediu.

Fiz um sinal positivo, realizando uma enorme força para não pender minha cabeça para o lado e dar-lhe espaço suficiente para chegar até o meu pescoço. Me encostei na prateleira atrás de mim ao toque dos seus dedos pelas minhas costas e um beijo seu no meu pescoço. Em seguida, mordeu suavemente a ponta da minha orelha. A sensação de estar flutuando indicava que seus truques com mulheres eram bons. Excelentes se considerasse o frio na barriga, na verdade.

— Então ainda acha que estou enferrujado? — Cochichou, sabendo do seu efeito sobre mim. Assenti com a cabeça — Não estou te causando o mesmo que há seis anos? Não está... gostando?

E eu estava. Muito, aliás. Limpei a garganta esperando disfarçar no instante em que Pierre começou a chorar novamente na "bolsa" onde estava grudado à Zayn, provavelmente com fome pela décima vez no dia. Seu jeito manhoso e calmo despertou-me da confusão que Malik havia feito na minha mente pelo que me pareceram horas. Peguei-o no colo e comecei a andar, falhando em parecer indiferente a Zayn. Ele gargalhou.

— Você está sim enferrujado — Afirmei antes de me afastar.

— Tudo bem, mas a saída é para o outro lado, Moreau.

Retornei o caminho, ainda com o queixo empinado e os olhos presos no corredor.

— Eu nunca disse que estava indo para lá.

Filho da mãe bonito.

[...]

— Por que você não queria que Hassan e Khaleb fossem para a escola? — Malik quis saber, limpando a boca de Shade que estava suja de molho.

— Meu Deus, Laurie! — Repreendi-a rindo ao vê-la coberta pela sujeira que o sanduíche lhe causou. Encarei Zayn e rapidamente desviei o olhar — É que... hum... Esquece. É algo bobo.

Laurie e Shade gargalhavam, do outro lado da mesa, dos seus rostos completamente sujos, levando ao eco pela praça de alimentação. Pedi rindo para que fizessem silêncio com um sinal, apontando para Pierre que estava adormecido no carrinho de bebês.

— Você parece não confiar em mim — Zayn Comentou seguido de um meio sorriso. Ele brincava com o próprio lanche e soava estranhamente magoado.

— Não é nada. É só que... — Respirei fundo — Emma estudou em uma escola extremamente rigorosa lá na França, uma muito diferente das outras e única no país. Ela estava sempre nervosa com todas as provas e trabalhos que não acabavam mais. Vi através dela que aos onze é quando começa a cobrança. O que quero dizer é que o sistema de educação pode ser falho, entende? Sobrecarregar crianças e adolescentes a troco de quê? Ela tinha muitas crises de pânico e quase nunca saia de casa por causa disso, todos achavam bobagem mas eu não. Sei que pode parecer estranho para você, mas ela sempre queria ser a melhor em tudo por conta da concorrência que colocavam na cabeça dela. Algo assim não é vida! E não acho que seja certo submeter pessoas a toda essa pressão. Talvez seja essa uma das razões pelas quais ela estava ainda mais doente antes de morrer... sabe, o cansaço mental somado a leucemia...

— Calma, mamãe — Laurie, ao perceber minha tristeza, colocou sua mãozinha sobre a minha e sorriu tristemente ao pronunciar palavras ditas de maneira errada e ao mesmo tempo fofa — Lembra que você disse que a tia Emy está bem? Ela está feliz agora e não está mais doente! Ela é a estrelinha maia bonita do céu, igual ao que a tia Ken falou!

Abracei-a o mais forte que pude. Laurie, apesar de suas diferenças claras comigo, tinha um pouco de mim, assim como os irmãos. Cada um deles sabia como me alegrar e isso bastava. Bastava para diminuir a intensidade da dor que nunca iria embora.

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Eu sei que prometi publicar capítulo ontem mas me ocorreu uma redação de biologia gigante que tive que fazer kkkk amanhã tem outro :)

Stockholm Syndrome? |2°temp.| [Z.M]Where stories live. Discover now