¥•Zayn•¥
Acordei naquela manhã especialmente animado. Não por estar ficando mais velho, mas sim porque finalmente haviam motivos para festejar. Depois que minha família se foi, não sobraram-me razões para a felicidade, parecia como uma traição comemorar algo assim. Contudo, saber que existiam tantas pessoas boas ao meu lado que com certeza lembrariam do meu aniversário me deixava contente. Havia também Hassan que iria completar dez anos. Isso me trazia a memória de que era quase uma década desde a morte dos meus pais, da minha irmã e do meu cunhado. A saudade me fez querer jogar coisas nas paredes, me recordando do maldito Simon. Ele ainda estava solto por ai e continuava controlando — mesmo que indiretamente — minha vida. Isso porque se não o achássemos, seríamos presos outra vez, e eu não queria mais isso. Não no momento em que sabia que tinha três filhos. Não no instante em que Louise voltou...
— Bom dia, Olivia. Connor — Eu disse ao vê-los apressados em colocar seus casacos.
— Oi, Z. Agora não podemos conversar porque temos um caso importante para resolver — Informou Connor sem ao menos olhar para mim — Enfim, muito trabalho.
Malditos advogados manipuladores de meia categoria.
— Temos que levar também Félix para a escola — Olivia completou abrindo a porta para irem ao trabalho — Te amamos, irmãozinho. Tenha um bom dia!
Não tive tempo de respondê-los, então apenas continuei a andar pela casa.
— Ah, oi, meu querido! — Ewa cumprimentou-me estranhamente de saída — O café da manhã está na mesa. Vou sair com Nikolai.
— O avô da Louise e do Louis? Mas vocês meio que não... se odeiam? — Indaguei confuso com a sensação de ter batido a cabeça e acordado em um universo paralelo ao contrário.
— Odiar... não odiar... tanto faz! Precisamos de uma trégua em nome das crianças, certo? — Assenti, confuso — Já estou indo. Até mais!
— Olá, garoto — Nikolai apareceu de repente oferecendo seu braço para que Ewa se apoiasse.
Tudo bem. Poderia ser que todos estivessem ocupados demais para lembrar do meu aniversário. Eu não os culpava, às vezes eu tinha a memória invejável por um inceto.
— Bom dia, papai! — Khaleb exclamou aos pulos na minha direção.
— Bom dia! — Shade falou vindo logo atrás.
Ambos me abraçaram e correram para perto da porta, esperando por algo. Laurie também apareceu e cumprimentou-me, aparentando esperar pelo mesmo que os outros dois.
— Onde vocês vão? — Indaguei, sendo respondido por Louise que saia do quarto empurrando o carrinho de Pierre.
— Ao parque que inaugurou essa semana. Pode levar Hass para a escola ou então se ele preferir ficar em casa, cuidar dele? Ele não gosta de lugares cheios de crianças e não quer vir. Hoje é o aniversário dele mas as crianças queriam tanto ir ao parque que não poderíamos negar...
— Agora vamos, se não nos atrasamos! — Comentou Isla empurrando as crianças para fora e trazendo a irmã de Louise e o tal Philip-ex-namorado-idiota-da-louise com ela. Que mal gosto — Até mais!
Não lembrar do meu aniversário de nada importava a mim. Mas, lembrar do de Hassan e mesmo assim não comemorá-lo era covardia. Semicerrei os olhos em desaprovação. Ninguém parecia disposto a deixar uma pobre criança feliz.
Quando percebi, estava sozinho na enorme casa silenciosa sem toda a movimentação das crianças. Corri os olhos pelo local, procurando alguma ideia do que fazer.
— Oi, pai — Hassan disse do meio do corredor. Pijama amassado, cabelos loiros em frente aos olhos murchos e sem brilho. Esfregando as pálpebras de maneira cansada, parecia só uma criança triste. Ele estava magoado, e muito — Eles foram naquele parque chato, não foram?
— Venha aqui, filho — Pedi abraçando-o de lado e bagunçando ainda mais seu cabelo revoltoso — Deixe que eles fiquem naquele parque sem graça. Eu e você vamos a algum lugar bem mais legal. O que acha de passearmos de moto?
Arqueei as sobrancelhas várias vezes, movimentando-as sugestivamente. Hassan sorriu diminuindo o tamanho de seus olhos e correndo para o quarto.
— Dez minutos! — Gritou ele. Interpretei como seu pedido para que lhe concedesse dez minutos para arrumar-se.
— Dez minutos! — Afirmei indo trocar-me também. A moto que meu pai me deu certa vez e que nunca mais usei depois que ele se foi serviria para alguma coisa finalmente além de, claro, acumular poeira. Cassimiro a guardou para mim, ciente do que nem mesmo eu sabia: um dia eu precisaria dela.
Sinto sua falta, velho amigo.
Tomamos o café da manhã em gargalhadas escandalosas. Tentei alegrá-lo de todas as maneiras possíveis, mas ele sempre lembraria disso quando estivesse com a mente distante. Se eu pudesse evitar que isso ocorresse, eu o faria sem pensar.
Andamos pela cidade inteira de moto. Hassan me contou que nunca utilizou o automóvel porque Louise nunca o deixou correr qualquer perigo. Bom, ele estava comigo e além disso sua mãe o deixou aos meus cuidados. Tecnicamente, ela nem estava ligando para sua existência e seu aniversário.
No horário do almoço, fomos em uma lanchonete que costumávamos ir quando ele era mais novo. Acredito que a última parada foi a mais dolorosa para nós dois. O cemitério onde meu pai, minha mãe, os pais dele e Cassimiro estavam, era frio. Mesmo que com a jaqueta de couro, eu sentia o vento passar pelo tecido e arrepiar meu corpo por inteiro. Apenas a sensação de estar ali, tão perto daquilo que amargurei por anos, doía. Como as lápides eram uma ao lado da outra, sentamos próximos a elas e tentei contar histórias alegres sobre eles a Hassan. Seus olhos verde-escuro brilhavam com a descoberta de características marcantes dos seus verdadeiros pais.— Eu descobri a pouco tempo que vocês são meus pais — Iniciou Hassan um diálogo baixo, soprando o vento e juntando as mãos em frente ao corpo, abaixando a cabeça — E, de verdade, quando ouvi a conversa da minha mãe com a tia Bella, senti que já sabia disso por algum motivo. Nunca vim até aqui vê-los mas sempre quis. Hoje é meu aniversário, sabiam? — Ele sorriu para si mesmo — Bom, acredito que sim. Vocês são meus pais, afinal. O Zayn, mesmo que seja meu tio, o amo como se fosse meu pai. Tenho dois pais e duas mães! Isso parece interessante e é muito! A Louise, ela é muito legal! Ela cuidou de mim durante tantos anos! Tenho até irmãos agora. Khal, Laurie, o pequeno Pierre e o Shade, alguém de que eu nem sabia da existência a alguns meses. Eu os amo também. Agradeço a vocês por me mandarem todas essas pessoas boas. Obrigado, à vocês dois.
Hassan abraçou-me antes de pedir algum dinheiro para comprar flores brancas, as preferidas de nossa família.
Voltamos para casa já exaustos pelo dia agitado. Bem quando abri a porta e acendi as luzes, pegando o capacete da moto das mãos de Hassan, notei que o silêncio era assustadoramente estranho. Porém, assim que cheguei na sala, entendi o motivo do garoto ter parado no meio do caminho, inclinado a chorar ou sorrir. Não soube ao certo qual seria sua reação, mas sabia a minha. Eu estava feliz.
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Stockholm Syndrome? |2°temp.| [Z.M]
Fanfic•Livro 2 da duologia "Stockholm Syndrome?"• Louise tem um desfecho trágico para o que achava ser sua grande história de amor, e o que resta à ela agora é recolher os cacos do seu coração despedaçado e seguir em frente. Após colocar em jogo sua felic...