Nunca falei o que sentia em voz alta. Não parecia muito libertador no momento, não depois de pensar que todos na fazenda da Sr. Lewandowski ouviram o que eu sentia. Talvez até mesmo Hassan estivesse bravo comigo por isso.
— Louise, Oi! — Kendall atendeu o telefone no terceiro toque assim que liguei para ela — Está no viva voz e Bella está aqui.
— Oi — Cumprimentei-as me afastando da cama onde Hassan, Khaleb e Laurie estavam deitados assistindo a algum desenho qualquer no hotel. Mesmo após tomarem banho, evidenciavam as marcas de choro e mal tocavam na comida do serviço de quarto.
— Você está bem? — Ouvi a voz de Isabella.
— Sim — Afirmei segurando o choro que a pouco se acalmou. Depois de aprender a contê-lo durante anos, parecia mais fácil agora. Só parecia.
— Louise, o que aconteceu? Como foi o encontro do Hassan com a família dele? — Kendall quis saber.
Acabei por contar a elas tudo o que aconteceu, suspirando enquanto lançava olhares receosos para as crianças e buscava falar o mais baixo possível sobre o ocorrido, mesmo que elas não entendessem metade já que não compreendiam muito bem o dialeto francês se falado rapidamente.
— Descanse, está bem? Se precisar que eu avise ao motorista do jatinho que quer voltar, é só dizer — Isabella informou — Tudo isso é muito difícil para você... apenas... apenas respire, certo?
Apenas respire. Essa frase sempre me fez sentir raiva. Era evidente que eu respirava. Talvez não o suficiente, mas ainda assim meus pulmões bombeavam ar. Diferente dos de Emma...
Nosso irmão era um assunto delicado para todas nós e nem Isabella, tão segura de si, aguentava falar sobre isso sem expor seus sentimentos mais íntimos.
Voltei para perto da televisão e notei que os três me observavam encolhidos na cama, como pássaros vulneráveis e abatidos.
— Mãe, tudo que você falou na casa da vovó é verdade? — Hassan foi o primeiro a perguntar.
— Quem é aquele, mamãe? Aquele homem com quem você gritou? — Indagou Khaleb apertando suas pequenas mãozinhas uma contra a outra — Será que meu pai é desse jeito também? Se ele for assim, não sei se quero conhecê-lo...
— Eu fiquei assustada, mamãe — Laurie assumiu seguida por um suspiro.
— Queridos... eu... — sentei ao lado deles e Laurie repousou sua cabeça na minha barriga. Ela cuidava para que fosse apenas uma demonstração de carinho e não um risco para Pierre que estava lá dentro. Hassan encostou-se no meu ombro e Khaleb se aconchegou entre minhas pernas.
— Tudo bem, eu não estou com raiva — Hassan sussurrou — Só estou... magoado, mas não com você, mãe. Você quis me proteger, não quis?
— Eu devia ter perguntado para você se queria ir com ele na época... — Lamentei amargamente — Há seis anos, ele disse que queria levar você com ele, mas eu não deixei, mon amour. Eu fui mesmo egoísta.
— Todo mundo disse que ele fez coisas erradas, não disse? — Hassan questionou. Assenti — Mesmo que não tivesse feito, ninguém acreditou. Ele não poderia cuidar de mim, mãe. Mas você poderia, você cuidou. Saber que ele não quis me abandonar me deixa... confuso. Mas ele abandonou o Khal!
Khaleb tentava, mas eu sabia que não conseguia entender sobre o que falávamos, mesmo que parte fosse sobre ele. Assuntos complicados não prendiam sua atenção por muito tempo.
— Isso são coisas para adultos, meu bem — O tranquilizei — Você pode fazer seu próprio julgamento sobre ele. Seu aniversário é daqui a quatro semanas, não se esqueça. Temos todos os dias das férias antes das suas aulas particulares começarem de novo. Se decidir voltar para a França, nós voltamos. Juntos.
— E caso não?
Apenas sorri para ele. Seria difícil mas tolerável por Hassan. Por ele eu aguentaria qualquer coisa.
— Mamãe, você acha que meu pai não gostava de mim e por isso foi embora? — Abatido, Khaleb indagou baixo de repente. Mesmo que não soubesse que aquele por quem sentiu medo era seu pai, queria muito saber sobre — Acha que foi minha culpa?
— Ele não te conheceu, meu bem — O lembrei — Se conhecesse, saberia o quão especial você é!
Baguncei seus cabelos pretos e ele gargalhou. Laurie beijou meu rosto, incentivando os outros dois a fazerem o mesmo.
— Amo você, mamãe — Disse ela. Depois beijou minha barriga — E você também! — Repetiu o ato com os outros dois irmãos — E você e você também!
Adormecemos amontoados, todos os três mais calmos. Talvez tudo pudesse ser melhor no dia seguinte, mas, por enquanto, não era. Nem um pouco.
°°°
¥•Zayn•¥
Vê-la lá, estagnada e surpresa ao perceber minha presença, fez meu coração voltar a bater de alguma forma, mesmo que eu nem me desse conta de que havia parado por algum momento. Ela estava ali, bem na minha frente, tão perto do toque mas, com nossa história tão longe, segurei o ímpeto de abraçá-la por impulso.
Depois de deixá-la há seis anos e saber que havia se casado poucos dias depois, passei a nutrir o ódio de que me esqueci naquele instante, sustentando seu olhar coberto por raiva. Eu tinha ciência de que ela guardava tamanho ressentimento por mim, porém não imaginava que viraria o rosto da maneira como fez, de um jeito tão frio. Sei que repeti o gesto, mas não porque quis. Foi mais uma resposta a toda mágoa que guardei. Algo impossível de impedir.
Imaginei por muitas vezes esse dia na minha cabeça. Ela frente a frente comigo e as milhares de coisas que queríamos dizer logo atrás. Só que, percebendo de cara sua gravidez e as outras duas crianças ao seu lado, além de claro Hassan, algo se partiu dentro de mim. Poderia ter sido a gente a ter filhos. Teria sido eu e ela se não fosse por mim. Mas... aquele garotinho assustado que tampava os ouvidos com as mãos para não escutar a discussão... algo nele fez-me sentir uma onda de... Alegria?! A forma como Louise falou dele me levou a ter esperanças. Será? Será que o meu... O meu filho estava vivo durante todo esse tempo? Não pude evitar esse sentimento. O menino não se parecia nem um pouco com Marlon Chapelle, contudo, aparentava ter um pouco de mim. Tudo bem, talvez muito...
Ao decorrer desses anos, por mais que tentasse resistir, me pegava na calada da noite lendo as matérias que saiam sobre Louise, bem quando o silêncio era extremamente ensurdecedor sem a sua risada ao me ver dormindo. Eu procurava por isso penas para me punir, provavelmente. Para lembrar do que aconteceu.
"Louise Chapelle presenteia marido com o primeiro filho do casal!"
"Louise Chapelle abre mais cinco filiais das empresas Moreau em dois anos"
"O mundo dos negócios decola outra vez para Louise Chapelle"
Seu sucesso me fazia sempre sorrir. Ela estava conseguindo mudar o mundo de alguma forma. Algo me dizia que ajudava muitas pessoas quando longe dos holofotes.
Chapelle. Era esse sobrenome que me irritava. Causava-me crises de mau humor e insônia. Ela teria tornado-se uma Malik, não uma Chapelle. Mas não se tornou. Não comigo sempre estragando tudo. Me rendendo tão rápido.
Logo depois que Louise casou-se, seu nome passou a ser o "assunto proibido", como chamavam as pessoas ao meu redor que a conheceram. Eu sempre sabia de quem falavam mas fingia que não. Eu não tinha o direito de interferir nas suas vidas e escolhas. Só não esperava que ela tivesse se casado tão rápido como casou-se. Isso fez com que a paixão que dizia sentir por mim se resumisse a nada. Porque não apenas parecia nada, era. Ela nunca esteve apaixonada por mim. Não de verdade. Certa vez Louise disse que eu nunca amei ou amaria alguém na minha vida. Estava errada. Era ela que nunca havia amado. Que não amou a mim. Nunca amaria também, e essa era a dor que eu nunca mencionaria a ninguém, nem mesmo à ela.
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Oii!!!
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Stockholm Syndrome? |2°temp.| [Z.M]
Fiksi Penggemar•Livro 2 da duologia "Stockholm Syndrome?"• Louise tem um desfecho trágico para o que achava ser sua grande história de amor, e o que resta à ela agora é recolher os cacos do seu coração despedaçado e seguir em frente. Após colocar em jogo sua felic...