Capítulo 24

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Maiara*

Já fazem mais de dez anos desde que tudo aconteceu e até hoje ninguém veio me tirar daqui, eu simplesmente desisti, desisti de esperar, desisti de acreditar que vou sair daqui.
Eu juro que não entendo por que minha família desistiu de mim, eu sou filha deles, não merecia ser deixada de lado dessa forma, eu estou com muita raiva, raiva do Rafael, raiva da minha família e principalmente com raiva de mim, por ter deixado tudo isso acontecer.
Esses anos todos aqui me fez muito mal, eu não me te conheço mais, meus sonhos morreram, minha vontade de viver também, não vejo a hora disso tudo acabar.
Eu estou aqui sozinha, ninguém fala comigo e estão sempre me provocando, já era assim desde que cheguei mas pelo menos eu tinha a Bruna comigo, bom falando nela, ela se foi.
Bruna teve câncer e aqui ninguém a cuidava da maneira que ela deveria ser cuidada, eu era a única que a ajudava, passava noites em claro com ela, vendo ela vomitar sangue e morrer um pouco a cada dia, isso me fez ter mais raiva ainda da vida e de todo mundo aqui.
Pro meu azar a Alana ainda estava aqui e o prazer dela era pegar no meu pé, ela me atormentava sempre, já chegou a me prejudicar aqui várias vezes e com isso eu apanhava ou recebia um castigo deles.
A uns quatro anos atrás  eu resolvi mudar um pouco então pedi pra Diana comprar uma tinta de cabelo pra mim, agora estou ruiva, já que a gente só trabalha de graça aqui eu convenci o Rafael a deixar ela comprar as tintas pra mim, então eu sempre estou pintando meu cabelo pra poder manter a cor dele.

Alana: Anda logo Maiara, o banheiro não é só seu. - Ela grita do outro lado da porta enquanto eu tomo meu banho.

Eu: Já estou saindo. - essa menina é um saco.

Termino o meu banho e saio do banheiro, ela me olha com a cara emburrada e depois entra no banheiro, me troco rapidamente e depois começo a me maquiar.

Jennifer: Você se acha né? - Era só o que me faltava.

Eu: O que foi agora? - Digo já perdendo a paciência.

Jeniffer: É isso mesmo, você se acha, mas se eu fosse você baixava a bola pois você não é ninguém aqui.

Eu: Baixa a bola você, que moral você tem pra falar de mim, você também não é ninguém.

Jeniffer: Mas diferente de você eu não estou sozinha aqui, eu tenho minhas amigas.

Eu: Se for pra ter uma amiga como você eu prefiro ficar sozinha. - Ela me olha sem entender. - Todo mundo aqui sabe que você fala da Alana pelas costas, mas ninguém tem coragem de falar. Então, se for pra ter uma amiga que nem você, sim Eu prefiro ficar sozinha.

Jeniffer: Vai se fuder sua vagabunda.

Ela vem pra cima de mim e começamos a brigar, se tem uma coisa que eu aprendi aqui dentro foi me defender, já apanhei muito delas aqui e hoje eu não deixo mais isso acontecer.
Eu estava em cima dela dando vários tapas no seu rosto enquanto ela tentava me bater, ela era mais alta mas não tinha força nenhuma, sinto alguém me puxar de cima dela e quando vejo era a Diana.

Diana: O que foi agora? - Não respondo. - Fala Maiara?

Eu: Eu estava me arrumando e ela começou a me xingar do nada.

Jeniffer: Xinguei mesmo, por que você é uma vadia.

Eu: Vai pro inferno Jeniffer.

Diana: Calem a boca as duas. - Eu me calo e a Jeniffer continua resmungando. - Venham comigo.

Ela nos tira do quarto e nos leva pra um outro vazio, ela nos manda entrar e diz que ficaremos aqui até a gente aprender a nos comportar como gente.
Nao tinha nada aqui dentro, a sala estava vazia, só tinha apenas uma janela, me sento no chão e me encosto na parede, a Jeniffer se senta do outro lado da sala e fica me olhando.
Decido ignorar seus olhares sobre mim e me levanto, vou até a janela que dava pra ver a rua e fico pensando em quando vou conseguir sair daqui.

Jeniffer: Isso não vai acontecer. - Ela diz e eu ignoro. - Sei que está se perguntando quando você sairá daqui mas isso não vai acontecer, a não ser se for da mesma maneira que a sua amiga.

Eu: Cala a boca, não fala dela. - Eu já estava chorando.

Jeniffer: Ah a bebezinha vai chorar?

Eu: Vai se fuder, pode falar o que quiser, se você não é verdadeira e não da valor as suas amizades eu sou pras minhas.

Jeniffer: Aqui ninguém é amigo de ninguém Maiara.

Eu: A Bruna era minha amiga, ela me ajudou muito desde que eu cheguei aqui.

Jeniffer: Por que você veio pra cá? Precisava de dinheiro? - Não a respondo. - Quer saber deixa, não precisa falar comigo, não faço questão.

Ela se cala e eu continuo olhando pra janela, do nada eu começo a lembrar do dia que o Rafael me sequestrou lá na padaria, era o meu aniversário, eu gostava tanto de comemorar, agora é só um dia que eu não queria que existisse.

Eu: Eu nunca quis vir pra cá. - Ela me olha surpresa, pois não esperava que eu falasse com ela.

Jeniffer: E por que veio?

Eu: Rafael, quer dizer Bruno me trouxe a força.

Jeniffer: Algumas meninas me falaram a mesma coisa, mas eu nunca acreditei afinal eu vim pra cá por que quis.

Eu: Eu tinha 17 anos, ele começou a frequentar a minha escola e fez a minha irmã se encantar por ele.

Jeniffer: Você tem uma irmã?

Eu: Sim, ela é minha gêmea. - Ela não diz nada. - Como eu ia dizendo, ele se aproximou de nós e fez a minha irmã se interessar por ele, no começo eu até dei apoio, ajudava ela a se encontrar com ele escondido dos nossos pais até que ele a pediu em namoro.
Daí em diante as coisas foram mudando, ele sempre me olhava estranho, mudou totalmente a minha irmã, ela não se divertia mais com a gente, não...

Jeniffer: Com a gente?

Eu: Sim, eu e minha melhor amiga Marília.

Jeniffer: Sua irmã se afastou?

Eu: Sim, ela não saia mais com a gente, não se vestia maia como gostava, o Rafael se tornou muito tóxico, e fez ela mudar seu jeito de pensar também.
Nós sempre passamos o nosso aniversário juntas mas naquele ano ela não queria, disse que passaria com o Rafael e eu fiquei muito chateada pois ela não ficava maia comigo e por isso brigamos muito.
Um dia antes do meu aniversário ele foi almoçar lá em casa pois como Maraisa passaria o aniversário dela com ele minha mãe quis fazer uma almoço pra ela, eu tinha que ir buscar meu bolo e minha mãe ficou insistindo pro Rafael me levar mas eu não queria pois ele já tinha me ameaçado algumas vezes.
Eu Não tive escolha, Rafael me levou e no caminho começou a falar sobre as minhas roupas, disse que se eu fosse namorada dele nunca me vestiria daquele jeito e eu como sempre cortava os assuntos com ele. Depois que ele me deixou na padaria eu disse que não precisava me esperar pois eu chamaria um Uber e iria na casa da minha amiga, ele nem fez questão de me levar pra casa e foi embora, um tempo depois eu senti alguém tampando o meu nariz e minha boca e aí eu apaguei, acordei não sei quanto tempo depois um uma outra cidade, num lugar que eu não conhecia e o Rafael estava lá.

Jeniffer: Que horror, eu nem imagino como sua irmã deve ter ficado, ele sumiu do nada?

Eu: Ele me explicou tudo, o motivo de ter feito isso e também mandou flores e uma carta pra minha irmã explicando tudo, afinal era nosso aniversário.

Jeniffer: Não consigo imaginar a raiva que você sente dele.

Eu: É imensa, mas sinto raiva da minha família também, por ter desistido de mim.

Jeniffer: Sua família não deve ter desistido de você, só não sabem onde te encontrar. - Não a respondo.

Me sento novamente no chão e tento parar de chorar, fecho os olhos e fico me lembrando dos momentos bons, acabo adormecendo e acordo um tempo depois com a Diana trazendo o nosso jantar e dizendo que ficaremos ali por mais um tempo.

Me dá o amor que eu mereço ( PAUSADA )Onde histórias criam vida. Descubra agora