capitulo 21

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SOPHIA

Acordo com um chute forte do meu pequeno, como se ele quisesse arrancar minha barriga de dentro para fora. Uma sensação estranha, especialmente porque estou na cama. Lembro vagamente de ter adormecido no sofá do Vicente enquanto assistíamos um filme de comédia sombria, em que praticamente todo mundo morria.

Levanto devagar, ainda com o corpo pesado do sono, e sigo para o banheiro. A rotina matinal, tão simples e automática, parece diferente agora. Cada movimento meu é pesado, carregado de um cansaço emocional. Coloco uma calça confortável de gestante e uma blusa branca de mangas compridas.

Olho meu reflexo no espelho. Minha barriga está grande, quase tomando conta de tudo. E, de certa forma, eu gosto. Gosto de sentir meu filho crescendo dentro de mim, apesar de todo o peso e desconforto. Ele é o que me mantém em pé.

Hoje é um dia importante. Vou ao banco para esclarecer a história do dinheiro que minha mãe supostamente deixou para mim. Meu coração bate mais rápido só de pensar no que isso pode significar para mim, para Enrico. Se for verdade, poderei sustentá-lo enquanto ele estiver nesse estado. Posso esperar por ele sem me preocupar tanto com o futuro.

Mas essa esperança carrega um peso que me aflige.Quando entro na cozinha, o cheiro de café fresco me faz sorrir levemente. Vicente, sempre atencioso, já preparou o café da manhã. Ele tem sido uma presença constante, quase sólida em minha vida. Mas há algo nele, algo que sempre me deixa dividida.

— Bom dia — murmuro, sentando-me à mesa com um suspiro.— Bom dia, dorminhoca — ele responde, com aquele sorriso que parece iluminar a sala.

— Você nunca me deixa fazer o café — digo, brincando, mas com um toque de verdade na fala.

— Eu sempre acordo mais cedo — ele dá de ombros, rindo.E ali está ele novamente, aquele otimismo inabalável.

Como ele consegue ser tão leve, até de manhã? Minha paciência anda curta, e esse humor constante dele às vezes me esgota. Especialmente com essa barriga, que pesa e me limita, me deixando mais cansada do que eu deveria estar.Mais um chute. Dessa vez, mais forte. Meu corpo se contorce por um momento, e a dor é difícil de ignorar. Vicente percebe imediatamente.

— Você está bem? — ele pergunta, e seus olhos, cheios de preocupação, me derretem por dentro. Ele sempre está tão atento, tão pronto para me apoiar.

Ele se aproxima, pega minhas mãos, o toque dele sempre tão reconfortante.

— Estou bem — respondo, tentando mascarar a dor com um sorriso, mas ele parece ver através de mim.

— Eu não gosto de te deixar sozinha — ele sussurra, com uma ternura que me toca profundamente, mas também me pressiona de uma maneira que eu não consigo explicar.

— Eu não estou sozinha — digo, acariciando minha barriga como se pudesse protegê-lo de tudo o que me assola.

— Tenho ele comigo.

Ele sorri, mas é um sorriso triste, contido. Quando menciono Enrico, algo muda no rosto de Vicente. Ele tenta disfarçar, mas eu percebo.

— Se o dinheiro realmente existir, poderei cuidar do Enrico até ele acordar — digo com esperança, mas o brilho nos meus olhos se apaga ao ver a expressão de Vicente.

Ele me olha com algo entre a frustração e a pena.

— Vicente, eu sei que você acha que estou sendo ingênua, que esperar por ele é uma perda de tempo. Mas... eu não consigo deixar ele ir. O que tivemos foi único. Não sei se posso chamar isso de amor, mas não estou pronta para desistir dele.  Mesmo que, no fundo, eu saiba que talvez eu devesse. 

Doce Aluna~Triângulo  De DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora