capitulo 25

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Enrico

Sinto minha boca seca, minha visão embaçada, e o zumbido incessante nos ouvidos me atormenta. Tento mover meu corpo, mas ele não responde; apenas meus dedos reagem, tremendo levemente. Algo dentro de mim está à deriva, como se minha própria existência estivesse fragmentada. Tento me agarrar a qualquer resquício de consciência, mas parece que estou preso entre o sono e a vigília. A frustração cresce em mim.

Ouço vozes ao longe, fragmentadas como ecos em um corredor interminável. Tento lembrar o que aconteceu, mas minha cabeça lateja. O vazio me consome, e a falta de controle sobre meu próprio corpo é insuportável. O medo de não conseguir voltar toma conta dos meus pensamentos.

De repente, sinto uma presença. Alguém está perto, e a voz de um homem se destaca no meio do caos. Sua voz atravessa a névoa em que estou mergulhado, um raio de luz em meio à escuridão que me envolve.

— Senhor Enrico, se estiver me escutando, aperte a minha mão.

A voz soa distante, quase etérea, mas o toque quente em minha mão me ancora. Com esforço, aperto levemente. Não é um aperto firme, mas é tudo o que consigo. Um misto de alívio e medo percorre meu corpo. Eu ainda estou aqui... mas até quando? Será que posso confiar nesse frágil controle que mal consegui retomar?

— Ok, senhor Enrico, você consegue enxergar? Se sim, aperte minha mão de novo.

Minha visão está turva, tudo se mistura em vultos e sombras. Tento focar e, mesmo sem enxergar direito, aperto sua mão novamente. O medo de não recuperar a totalidade do meu corpo me atormenta. Será que estou preso nesse estado para sempre? Tento falar, mas minha língua não obedece. A sensação de impotência me engole, e tudo o que posso fazer é escutar.

— Faremos todos os exames necessários, senhor Enrico. Agora, descanse.

Eu queria lutar, queria entender o que se passa, mas minha mente e meu corpo estão em guerra. Algo maior do que minha própria força me impede de reagir completamente. Sinto-me frustrado, perdido em meu próprio corpo, e minha única âncora é o pensamento dela... de Sophia.

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Sophia

Chego em casa o mais rápido que posso, meu coração acelerado, e entro no quarto de Enrico. Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver seus olhos abertos. Ele acordou. O peso que carreguei por tanto tempo começa a se desfazer, mas ao mesmo tempo, uma nova onda de medo e incerteza me atinge. Como será daqui para frente? Será que ele vai se lembrar de tudo? Será que vamos voltar a ser o que éramos antes de toda essa tragédia?

O médico me explicou que ele precisará de cuidados especiais, que o coma prolongado trouxe consequências. Mas ele está aqui. Vivo. E isso é um milagre. No entanto, dentro de mim, uma parte sabe que isso não é o fim da luta, mas o começo de outra batalha. Penso no Vicente e no estado em que ele se encontra. O que vai acontecer com ele? Meu coração se aperta, dividindo-se entre dois homens que, de formas tão diferentes, ocupam partes igualmente importantes da minha vida. Como posso amar dois homens de formas tão diferentes e tão intensas?

Então me permito desmoronar. Meu corpo se rende ao cansaço e à confusão. As lágrimas caem pesadamente, como se fossem capazes de lavar todo o peso que carrego. O que eu vou fazer? Como vou seguir em frente sabendo que estou dividida? Quero Enrico comigo, sempre quis. Mas o que sinto por Vicente também é real, de uma maneira que me assusta. É tão difícil pensar em um futuro sem dor, sem perdas.

— Senhorita Sophia — a voz do médico me interrompe — os exames deram tudo normal, mas ele ainda tem dificuldades para se mover e enxergar. Ele vai precisar de tempo.

Doce Aluna~Triângulo  De DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora