capítulo 17

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Sophia

Olho para a casa onde cresci, o lugar onde vivi tantos momentos felizes ao lado da minha mãe e do meu pai. A casa continua do mesmo jeitinho, mas agora parece um pouco abandonada, como se estivesse presa no tempo. A placa de "Vende-se", com o nome da corretora em destaque, me chama a atenção. Não entendo por que os bancos tomam as casas das pessoas para deixá-las assim, sem vida, sem propósito.

Vicente, ao meu lado, me observa com um sorriso gentil.

— Vamos, Sophia. Precisamos encontrar alguma coisa nesta casa. Apesar de eu não gostar do pai do seu bebê, não desejo mal a ele.

As palavras de Vicente me trazem Enrico à mente, e meu coração se aperta com o medo e a preocupação do que pode acontecer com ele. Lembro-me do seu rosto lindo, das palavras que me disse... que me ama, que não consegue mais viver sem mim. Esse pensamento aquece meu coração, mesmo que eu ainda esteja magoada. Quando tudo isso acabar, eu sei que precisaremos ter uma conversa séria. Vamos ter um filho, e precisamos resolver nossa situação.

— Você o ama? — Vicente pergunta, me fazendo repetir sua pergunta na minha mente.

Não sei o que é esse amor entre um homem e uma mulher. Enrico disse que me ama, mas e eu? Será que eu o amo? Depois do que aconteceu, dele não querer assumir o nosso filho, fiquei tão confusa.

— Não tenho certeza dos meus sentimentos em relação ao Enrico — confesso, tentando entender meus próprios pensamentos.

Realmente, não sei se o amo. Gosto de estar com ele, de sentir seus carinhos, de fazer amor com ele... mas será que isso é amor?

— Mas vocês vão ter um filho, certo? — Vicente comenta, como se isso resolvesse tudo.

Sorrio, um tanto amarga.

— Para engravidar, não é preciso sentir amor, Vicente.

Ele sorri com o meu comentário, e seu sorriso é tão bonito que também me faz sorrir.

Vicente arrebenta a porta dos fundos da casa, e espero que ninguém nos esteja vendo. Ao entrar, vejo que a casa ainda tem os mesmos móveis, e isso traz de volta lembranças da minha mãe. Lembro o quanto ela zelava por suas coisas, o quanto era cuidadosa com o pouco que tínhamos. Uma lágrima escapa dos meus olhos.

— Você está bem? — Vicente pergunta, preocupado.

Olho para ele, mas não quero que saiba a dor que sinto ao estar nesta casa depois de tanto tempo.

— Acho que foi só um cisco — digo, limpando a lágrima solitária.

— Então vamos procurar algo que nos leve até esse papel com a conta bancária.

Começamos a vasculhar as gavetas na pequena biblioteca, mas só encontramos papéis sem importância. Vicente começa a revirar os livros um por um, e a poeira é tanta que provoca espirros em nós dois.

— Achei um diário — diz Vicente, me mostrando um pequeno caderno na cor violeta.

— Com certeza é da minha mãe. Ela amava essa cor.

Pego o caderno da mão dele e começo a folhear.

"Querido diário, hoje conheci um homem encantador que deixou meu coração aquecido. Não imaginei que me apaixonaria tão rápido..."

Pulo algumas páginas.

"Hoje me entreguei de corpo e alma para o amor da minha vida. Ele foi gentil e carinhoso..."

Pulo mais páginas, não querendo invadir a intimidade da minha mãe, mesmo depois de sua morte. Mas continuo lendo.

"Estou grávida e muito feliz. Não vejo a hora de contar a surpresa para todos, especialmente para ele..."

Doce Aluna~Triângulo  De DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora