capítulo 19

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A vida é uma tempestade
um dia você está tomando sol e no dia seguinte o mar te lança sobre as rochas.
Alexandre Dumas

Sophia


A vida parecia sem sentido antes de conhecer Enrico. A dor que eu carregava, depois de tudo o que já havia passado, era esmagadora. Enrico surgiu na minha vida de maneira inesperada, e tê-lo ao meu lado me deu um novo motivo para seguir em frente. Nunca imaginei que ele se tornaria tão importante. Como posso descrever a angústia que sinto agora? É como se garras invisíveis apertassem meu coração, sem me deixar respirar direito. Talvez só agora eu tenha consciência da dimensão dos meus sentimentos por ele.

— Sophia, você precisa descansar. Já se passaram três dias, e você ainda não dormiu. Isso não faz bem pra você, muito menos para o bebê — a voz de Vicente era suave, mas havia firmeza em cada palavra. Ele passava a mão no meu ombro, tentando me confortar.

Três dias. Três dias que Enrico está em coma, e eu, esperando por um milagre. Os médicos não entendiam como ele ainda estava vivo e com atividade cerebral. O tiro de Rômulo deveria tê-lo matado, mas, contra todas as probabilidades, Enrico resistia. E a única coisa que eu podia fazer era... esperar.

— Não, eu não posso sair daqui. E se algo acontecer enquanto eu estiver longe?

— Sophia, escuta — Vicente interrompeu, agora mais firme. — Você vai acabar adoecendo assim. Se você não descansar, não vai ter forças pra acompanhar o que vier depois. Eu vou te levar pra casa, você vai tomar um banho, comer alguma coisa e, depois, dormir.

Olhei para ele com irritação, quase fuzilando-o com o olhar. Quem ele pensa que é para me dar ordens desse jeito?

— E, se você não quiser ir por bem — Vicente continuou, os olhos fixos nos meus —, eu te coloco nos ombros e te levo à força. Pelo seu bem, e pelo bem do seu filho.

Suspirei, sentindo o cansaço pesar sobre mim. Ele estava certo, eu sabia disso. Meu corpo doía, minha cabeça latejava e meus olhos mal se mantinham abertos. Eu estava no meu limite.

— Tudo bem... Mas só por hoje. Amanhã cedo eu volto.

Vicente sorriu de leve, aliviado por eu ter cedido.

— Amanhã cedo a gente volta juntos — ele disse, enquanto me ajudava a levantar da cadeira no hospital. — Agora vamos.

Aceitei sua ajuda, embora minha mente ainda estivesse dividida. Ele me levou até sua casa. Antes, fizemos uma parada na casa de Lorenzo para pegar algumas roupas, mas ele não estava. Por sorte, eu tinha uma cópia da chave.

— O banheiro fica no final do corredor, entre os quartos. Fique à vontade. Vou preparar algo pra comermos enquanto você toma banho — Vicente indicou com um gesto de mão, a voz sempre gentil.

— Obrigada — murmurei, sem forças para uma resposta mais elaborada.

Ao me olhar no espelho do banheiro, quase não reconheci meu reflexo. Olheiras profundas, olhos vermelhos e inchados... Eu estava destruída, tanto por dentro quanto por fora. Enquanto a água quente do chuveiro caía sobre meu corpo, minha mente não parava de reviver o que aconteceu três dias atrás. Rômulo... Enrico... o som do disparo... Meu grito ecoando pelos corredores do hospital... O sangue escorrendo pelo corpo de Enrico. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto antes que eu pudesse contê-las.

Doce Aluna~Triângulo  De DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora