Últimos Dias

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      Cendric acordou ao som de sua porta batendo. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que via era o teto de seu quarto, pintado de azul turquesa com algumas nuvens. Ao se levantar da cama, ele disse:

– Pode entrar.

– Cendric, querido – Permelia, a governanta do Casarão de Noirsette, disse, já arrumada. –, em dentro de algumas horas, o senhor Clouthier irá partir para sua viagem, achei que gostaria de estar pronto para a hora de se despedir dele.

– Descerei em alguns minutos.

– O desjejum já está sendo servido.

      Cendric assentiu.

      Assim que Permelia fechou a porta, Cendric começou a arrumar a sua cama. No aniversário de oito anos do menino, ele e o senhor e a senhora Clouthier entraram em um consenso. Cendric continuaria a ter o luxo de morar naquela casa, continuaria a dormir em seu grande quarto, usar roupas de primeira mão, ir à escola, ter uma vida de nobre, mas como ele não era filho dos donos da casa, ele teria de fazer algumas tarefas simples e fáceis de se realizar (Nerissa quem dissera essa parte, Levi ficara quieto, com a cara fechada), como uma forma de pagamento por morar ali. Desde então, a rotina de Cendric começou a ser dividida e organizada: Pela manhã, ele iria à escola, ao retornar para casa, teria algumas tarefas domésticas a se realizar. Em sua grande maioria era arrumar as camas dos quartos, varrer a sala de estar, ajudar no jardim e ir à cidade com o senhor Russo, responsável pelas compras, além de ser cocheiro particular da família. A última tarefa, desde o dia anterior, se tornaria a que Cendric mais esperava para fazer, ele queria visitar novamente as quatro costureiras que trabalhavam na Boutique de Ouro da Madame Lulu. O tempo que passara ali fora muito legal, o que deixou Cendric ansioso para uma nova visita.

      Ao terminar de arrumar o quarto, Cendric simplesmente colocou um pequeno robe azul claro e calçou sapatos tão grandes que mal cabiam em seus pés. Nenhum sapato que Cendric tinha era exatamente do seu tamanho, a maioria era maior que os pés, poucos pares se aproximavam do tamanho certo. Cendric não se importava, não poderia reclamar, já que existiam pessoas que nem sapatos tinham. Ao sair, então, de seu quarto, desceu as escadas, entrando na sala de café da manhã, que ficava ao lado da sala de estar. Lá estavam o senhor e a senhora Clouthier, Charlotte e Genevive. Somente Levi notou a presença de Cendric. Pelo menos foi o único que falara com ele. Ao se sentar à mesa, junto a família, o senhor Clouthier disse:

– Cendric, estávamos conversando entre nós, e pensamos que seria hora de apresentar-te como um integrante em nossa família.

      Nerissa Clouthier virou a cabeça para trás.

– Perdão, senhor, eu acho que não entendi.

– Acho que o que estou querendo dizer é que quando eu retornar de minha viagem, nós gostaríamos de te adotar como nosso filho legítimo.

– Isso faria de Cendric nosso irmão? – Genevieve perguntou.

– Pensei que ele fosse, ele é tratado como um filho de verdade... – Disse Charlotte, sem olhar para ninguém.

– Bem, é verdade, mas nunca oficializamos isso, já estava na hora de fazê-lo, não é verdade, querida?

      Nerissa simplesmente virou um pouco a cabeça para Cendric e forçou um sorriso, fazendo que sim com a cabeça.

      O que pensar daquilo? Ser finalmente adotado como filho do casal Clouthier, se tornar Cendric Clouthier. De fato, ele era tratado como filho de Levi e Nerissa e irmão de Genevieve e Charlotte, mas não era realmente parte da família. Cendric estava sem palavras, sem reação. Não era algo ruim aquela notícia, mas ainda assim, chocante. O senhor Clouthier era extremamente bom com o menino, nunca o destratou, mesmo que não fosse seu filho de verdade. Cendric nunca soube o porquê de ele ser merecedor da bondade e gentileza de Levi Clouthier. Ele simplesmente era uma pessoa muito boa.

Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)Onde histórias criam vida. Descubra agora