De Volta a Misthezan

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      Pronta, Adella saiu de seu quarto para começar oficialmente seu primeiro dia como humana em Cristalines. Bem, pelo menos fora de seu quarto ela seria uma humana enquanto ela não sabia o que fazer com sua magia. Ainda não tinha noção do quanto poder ela havia perdido para Ida. Só precisava de um único teste. O vestido. Se aquele vestido sobrevivesse o resto do dia e não desaparecesse, talvez nada estivesse perdido. Eram ainda sete horas da manhã quando saiu de seu quarto. Passando pelo estreito corredor dos quartos, Adella chegou na área onde começaria a trabalhar. Lá estavam três mulheres. Uma tinha a pele bem escura, assim como seus cabelos cacheados, ela era bem magra e alta com o nariz torto. A segunda também tinha a pele escura, não tanto quanto a primeira, mas era baixa e gorda, já parecia ser uma mulher de idade, Adella não deixou de notar a pinta que ficava bem próxima a sua boca. A terceira, por sua vez, tinha a pele mais clara, o pescoço longo, e era muito magra. As três estavam sentadas a mesa. Uma comia um pedaço de pão, acompanhado por um pote de sopa.

      As três olharam para Adella, com um olhar cansado, mas pareciam estar confusas com a sua presença. Constrangida, a fada deu curtos passos até a mesa e assim que chegou a porta se abriu e dela entrou Madame Lulu, vestida inteira de roxo e lilás, e em sua cabeça um chapéu florido. Com um enorme sorriso no rosto ela disse:

– Meninas! Bom dia! Conheçam sua nova colega de trabalho... – Luci parou tentando lembrar o nome da nova costureira. – Adella! Tomem conta dela e mostrem-na o que fazer!

      E com aquela fala, a dona da boutique voltou a sua loja, causando um estrondo acidental ao fechar a porta.

– Prazer, Adella, me chamo Abigale. – Disse a moça que tinha o pescoço longo.

      Adella deu um sorriso sem graça.

– Essas são Dorothy – Abigale apontou para a jovem de cabelos cacheados. – e Flora. – Apontou, então, para a mulher baixa.

      As outras duas sorriram para a Adella que fez o mesmo.

      Ao se sentar, a fada reparou em vários tecidos que já estavam na mesa. Em sua grande maioria, na coloração azul clara. Adella começou a olhar em sua volta e conhecer melhor a sua "casa" nova. Agora que de dia, era possível ver uma terceira máquina de costura perto da escadaria de madeira. O chão feito de pedra estava sujo, com um tapete rasgado embaixo das mesas as quais se encontrava. Acima dela, várias velas penduradas no teto, como um lustre mais humilde. Objetos como vassoura e balde estavam jogados ao lado da porta dos fundos. Adella ficou olhando aquele lugar por uns cinco minutos, até que Dorothy resolveu abrir a boca.

– Então, Adella, sabes o que aconteceu com a antiga costureira? Georgia?

– Ér... Sim, eu a vi partindo esta noite com suas malas, seguida pela Madame Lulu que tentava impedi-la, ela falava sobre voltar só quando tivesse dinheiro para pagar a suas dívidas.

– Pobre criança, ela não servia para costura, mas era um doce... – Lamentou Flora.

– Bem, por mim, já vai tarde. – Abigale falou.

– Não diga isso! Ela não tinha conhecimento para isso! – Repreendeu Dorothy. – Mas e quanto a você, Adella, sabes como costurar?

– Sei sim, eu costuro desde menina, minha mãe me ensinou...

– Faz pouco tempo, não? – Flora perguntou, colocando seus óculos redondos e minúsculos. – Quero dizer, olhe para ti, tens o quê? Dezoito anos?

Vinte e dois...

      Por meio de uma mentira, tinha fundo de verdade. Afinal, com vinte e dois anos Adella se tornou uma fada. A partir daquela idade, a sua longevidade se tornou praticamente infinita. Agora era imortal e com vinte e dois anos ficaria até a morte.

Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)Onde histórias criam vida. Descubra agora