Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)

Charlotte, a Falsa Princesa

– Sendo assim – O ministro estendeu a mão para Charlotte. –, acompanhe-me, minha jovem, o príncipe lhe aguarda.

– M-mas... – Gaguejou a filha mais velha. – E-e...

– Não seria melhor arrumarmos as coisas dela antes? – Interrompeu Genevieve. – Quero dizer, ela se tornará uma princesa, passará a morar no castelo, precisa de, pelo menos, suas roupas consigo.

– Bobagem, podemos mandar alguém para pegar suas coisas, ela terá mais roupas quando chegar.

– Eu não acho uma boa ideia, existem roupas muito preciosas para Charlotte que acho que ela gostaria de levar ainda hoje. – Disse Genevieve, piscando para a irmã que tentou dar um sorriso, mas falhou de tanta dor que ainda sentia.

– Pois muito bem, tereis cerca de quinze minutos para trazer tudo.

– Obrigada. – Agradeceu Charlotte, que então se virou para Cendric, com um olhar de profundo desprezo. – Você irá nos ajudar, Gato Borralheiro.

      Cendric assentiu.

      Então, de mãos dadas, as duas irmãs subiram as escadas, mancando, sendo seguidas por Cendric, aparentemente calmo por fora, mas por dentro, quebrado. Não imaginava que aquele tipo de coisa aconteceria. O príncipe não seria burro de acreditar naquela mentira. Claramente Charlotte não era a Cinderella. Se ele pedisse para que ela calçasse o sapato de cristal, veria toda a verdade. Aquilo não ficaria daquele jeito, se pudesse evitar.

      Cendric foi o último a entrar no quarto de Charlotte, trancando a porta, como a irmã mais velha lhe ordenou. Então, aconteceu tudo muito rápido: tudo o que Cendric viu foi uma Charlotte pulando em cima dele, tentando bater em seu rosto o mais forte possível. Genevieve estava parada, observando tudo. Não dava para ver se ela olhava com medo ou com prazer. Tudo o que importava era tirar Charlotte de cima dele.

– Como pôde?! Você acabou comigo! – Gritou Lottie.

– Sai de cima de mim! – Gritou ele.

– NÃO! – Ela vociferou. – VOCÊ! TIROU! TUDO! DE! MIM!

      Charlotte acabou puxando Cendric para si, fazendo com que o mesmo se desequilibrasse e fizesse os dois caírem no chão. Imediatamente, Cendric se levantou, se afastando o mais rápido possível das duas irmãs que o olhavam com uma fúria comparável a de Nerissa Clouthier.

– E-eu posso explicar...

– Era você esse tempo todo. – Charlotte disse. – Todo esse tempo, era você quem o príncipe estava procurando. Nós duas cortamos nossos pés, para no fim, a dama misteriosa estar bem debaixo dos nossos narizes?

– Não era minha intenção nada disso, eu só queria ir ao baile, nada mais...

– Assim como não era minha intenção perder meus dedos, assim como não era a intenção de Genevieve perder os calcanhares.

– Por que você não falou nada? – Perguntou Genevieve, apresentando um semblante tristonho.

– Para quem eu iria falar?

– Nós.

– Vocês? Para duas pessoas que me fazem de escravo há anos?! Desde que nós éramos míseras crianças, eu estou sendo feito de empregado, mantido nessa casa, dia e noite, para satisfazer as suas vontade, sendo abusado e humilhado todos os dias, tendo que arrumar as suas bagunças, aturar as suas maldades! – A fúria das duas irmãs pareceu estar sendo passada para Cendric. Nunca sentira algo parecido. – O que vocês passaram não chega a ser o dobro do que eu passei.