Bem Vinda a Cristalines

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      Quando se está fugindo pela sobrevivência por uma floresta que liga nove reinos (Dentre esses nove, um secreto) à noite, ela vira o pior lugar. Assustador. Pelo cansaço de uma longa corrida, a visão dificultada pela escuridão da noite e o medo da morte, as várias árvores viram terríveis monstros que aterrorizam o mais corajoso, o céu negro da noite dá a impressão que irá engolir alguém. Mesmo para uma criatura mágica, mesmo para uma fada, naquelas circunstâncias, a floresta vira um cenário de livros de terror. Adella ainda corria, amedrontada com o que havia passado. Ainda não foi capaz de processar tudo o que acontecera. Tudo o que sabia era que precisava correr se ela quisesse viver. Foram longos minutos que passaram até ela perder uma grande parte de seus poderes para a terrível fada má, Ida. Sua filha. Ela sentiu como se cada parte de seu corpo estivesse prestes a se desfazer. Era uma dor insuportável. A fada estava muito fraca, precisava descansar. Mas enquanto ela não encontrasse um lugar distante o possível de Misthezan ela não pararia para descansar.

      Pelo que parecia, a fada já havia passado por Gwindelth. O início de sua viagem se deu em Misthezan, de onde partira voando com suas asas. Reino que serviu durante um século. Seguiu ao Norte, passando por Orionth, e então passou por Gwindelth, onde ela parou de voar e continuou o resto da viagem a pé. Suas asas estavam muito cansadas de horas voando, além de ter tido seus poderes drenados. Adella estava fraca, quase morta por dentro. Ela perdera muito de sua magia, seus encantos não durariam por muito tempo. Ela era praticamente uma inútil. Para que serviria sem seus poderes completos? A fada, então, depois de uma longa caminhada, se viu perto de outro reino, a Leste de Gwindelth e a Oeste de Inguarda. Cristalines. Talvez ela já estivesse distante o suficiente de Misthezan. E de Montinova. Daqueles dois reinos, Adella queria distância. Em Montinova ela perdeu tudo que amava, e em Misthezan perdeu tudo o que ainda lhe restava para continuar vivendo.

– Talvez aqui não seja tão ruim...

      Adella decidiu, por fim, que aquela seria sua última tentativa. Cristalines seria o lugar em que viveria. Ida nunca a encontraria ali. Pelo menos não se Adella usasse um disfarce. Seu erro em Misthezan foi continuar com seu posto como Fada Guardiã. Em Cristalines ela faria diferente. Ela seria uma simples mortal vivendo sua vida normalmente. Talvez as pessoas a estranhassem por seu cabelo cor-de-rosa, mas aquilo não era nada demais. Ninguém a reconheceria. Não haveria nenhuma suspeita que a grande Fada Madrinha estava vivendo entre os humanos em Cristalines. Ela só precisava se misturar. Começando pelas roupas. Um vestido branco esvoaçante com mangas separadas do restante da roupa não ajudariam em nada. Aquelas eram vestes de uma fada, não de uma simples camponesa.

      Já estava no reino, e pelo que parecia estava em um pequeno morro com algumas casas. Aquela era a região da nobreza, das famílias ricas. Grandes casarões, todos escuros. Estavam todos dormindo. Nenhuma luz acesa. Bem, nem todas as casas se encontravam do mesmo jeito. Pelo menos uma não. Uma enorme casa estava acesa na entrada. Uma carroça se encontrava na frente dos portões. O homem, sentado nela, estava praticamente dormindo. Mesmo com grande muros rodeando o lugar, Adella, que, com muito esforço de suas asas, conseguiu ver o que estava acontecendo.

      Tinham quatro pessoas na porta da casa. Uma delas, segurava uma criança que estava dormindo no seu colo. Adella estava curiosa para saber o que estava acontecendo ali, aquela era a única casa daquela região que estava acordada. Alguma coisa estava acontecendo. Todos ali estavam em suas roupas de dormir. Uma mulher alta e magra, com um pescoço longo e fino, usando um robe vermelho, e uma touca em seu cabelo, e pelo que parecia, estava usando maquiagem? À noite? Uma outra mulher, dessa vez, mais velha, aparentando ter entre cinquenta e sessenta anos, usava uma longa camisola branca que cobria quase seu corpo todo, com o cabelo negro perdendo cor preso em um coque. Também tinha um homem, parecia ter a mesma idade da primeira mulher, ele tinha um longo cabelo loiro e uma barba, usando um robe verde. Já a criança estava enrolada em umas cobertas. Quase não se via seu rosto. Adella, que não conseguia evitar, começou a escutar a conversa. Eles estavam discutindo sobre alguma coisa.

Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)Onde histórias criam vida. Descubra agora