Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)

Dias Antes do Terceiro Baile

      Depois do segundo baile, toda Cristalines voltou a ficar mais agitada. Tinha gente por todos os lados. Ninguém parava para respirar. Estavam todos muito animados para o terceiro baile no castelo real. Principalmente as moças. Todas queriam ter a chance de dançar com o príncipe Andrew. Faltava mais um baile. Aquela era a sua única chance de conquistá-lo. Já estava perto do fim do ano e da estação do outono. Aquela era sua única oportunidade de jogar sua cartada final. Charlotte e Genevieve Clouthier, assim como todas as outras, estavam agitadas, ansiosas pela próxima sexta. Faltavam mais três dias para a última noite do baile: o baile de máscaras preto e branco.

      Dois dias depois do segundo baile, no domingo, foi anunciado o tema da terceira noite. Aqueles que não estivessem de acordo com a vestimenta não poderiam entrar sob nenhum custo. O desafio era usar um vestido que combinasse com a noite e com o outono, nas cores branco ou preto. Todas queriam ser elegantes e graciosas. Todas queriam se provar a esposa perfeita para o príncipe. Cendric ria daquela situação. Ele passou a semana inteira na cidade, tendo que arrumar a barraca na feira de especiarias, para poder vender as abóboras que praticamente tomavam conta de toda a horta. Todas laranjas, no mais variados tamanhos. Madame Clouthier insistia em dizer que quanto mais abóboras crescessem, mais escambros ganharia.

      Naquela última semana, Madame Clouthier não pedia muito de Cendric para montar a barraca, estava mais crente que Charlotte ganharia o coração no terceiro baile. Mandara encomendar o mais belo vestido branco, perfeito para casar. Aquele vestido seria sua última aposta. Charlotte estaria mais do bela para conquistar o príncipe Andrew. Quando menos esperasse, a família Clouthier estaria morando no castelo de Amásis, com Lottie sendo a princesa e futura rainha de Cristalines. Genevieve estaria casada com um duque ou marquês e todas viveriam num luxo que deveria ser seu desde o início dos tempos.

      Independente das esperanças de Nerissa Clouthier, Cendric preferiu montar sua barraca e organizá-la para que depois do terceiro baile, pudesse começar a venda de abóboras. Diferente de Madame Clouthier, Cendric não acreditava que nenhuma das de suas filhas conseguiria atrair a atenção do príncipe, por mais que quisesse que conseguissem. Já se passaram diversos bailes na corte aos quais a família Clouthier compareceu, mas em nenhum, as duas irmãs conseguiram pelo menos dançar com o príncipe. Não seria nesse que tudo iria mudar. Por maior que fosse o seu desejo por liberdade, Cendric sabia que tinha manter os pés no chão e encarar a realidade.

      A feira de especiarias estava lotada. Ali estavam todos aqueles que vendiam os mais variados produtos por um preço absurdamente barato ou absurdamente caro. Cada um tinha sua tática de venda. Cendric teria que saber vender abóboras se quisesse ganhar dinheiro e não ter que enfrentar a ira de Nerissa. As tendas ficavam, em sua grande maioria, em frente a lojas de roupas, o que agitava muito mais a região. Ficava cada vez mais difícil se locomover por ali com tantas pessoas entrando e saindo das lojas e dando voltas pela feira. O único lugar mais acessível para que Cendric colocasse as abóboras era na parte mais vazia, que por um lado era bom, visto que não seria levado pela multidão e não teria tanto barulho quanto as partes mais cheias, mas, por outro lado, quanto menos pessoas, menores eram as chances de as abóboras serem vendidas.

      Cendric carregava em suas mãos, uma cesta com toalhas e placas feitas por ele mesmo. Só traria as abóboras quando abrisse o negócio. Não arriscaria que elas fossem estragadas ou roubadas. Aquela semana era reservada para saber melhor como a feira de especiarias funcionava e organizar a tenda. Cendric estava cercado por barracas de joias falsas e bijuterias. Ainda não entendia como as pessoas não se amontoavam por ali.

– Com licença, cidadão, preciso que se retire daí, estás vendendo produtos ilegais diante da lei. – Disse uma voz grossa mais forçada do que parecia.