O Mistério do Sapato

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      Com o passar dos meses, e um novo ano passando, o sumiço de Adella permaneceu um mistério. Ninguém sabia por onde ela andava ou o que teria acontecido. Já era Abril do novo ano e não havia uma única pista de seu paradeiro. Quem diria que perto da floresta, dentro de um grande lago, na morada das Fadas Guardiãs de Cristalines, estaria escondida a grande Fada Madrinha. Mas o que teria acontecido a ela? O que acontecera para que ela tenha se escondido? A questão era simples: Ida.

      No ano anterior, logo após ter mandado Cendric para o baile como uma princesa, Adella acabou recebendo uma pequena visita de sua filha, a fada má. Logo memórias da noite que fora atacada por ela anos atrás vieram à tona. O que ela queria, nem mesmo Adella sabia. Até então. Desde aquela noite, Adella pediu refúgio para as três fadas esquisitas: Missouri, Mildred e Minerva, que aceitaram de bom grado.

– Mas é... – Começou Mildred.

– Claro... – Minerva continuou.

– Fada Madrinha... – E Missouri terminou.

      Desde então, Adella ficou escondida no lago, sem ousar sair uma única vez. Por meio da magia das três fadas, duas colunas a mais surgiram na casa oval, formando um pequeno espaço, menor que os outros três onde ficavam suas camas. Naquele pequeno lugar, Adella passava suas noites, em desespero, sem conseguir dormir. Lembranças iam e viam. Relances da última noite que encontrara Ida sempre apareciam. Foi traumatizante ver o que sua filha se tornara. Quando Adella conseguia, enfim, dormir, sonhava sempre o mesmo. Toda noite era o mesmo sonho.

      Adella estava saindo do Casarão de Noirsette, quando encontrava Ida que lhe lançava um sorriso maliciosamente maligno. Por mais que fosse sua filha, Adella deixava sua varinha mágica em posição para caso precisasse. Ida estava demasiadamente poderosa. Adella não teria chance, mas não custava tentar. Ela não deixaria que seus poderes fossem novamente drenados. Não poderia ficar mais fraca do que já estava.

– A grande Fada Madrinha... – Murmurava Ida, em meio a gargalhadas. – Que bela surpresa...

      Adella não dizia nada. Não sabia o que fazer, só lhe lançava um olhar ameaçador. Ou pelo menos, tentava.

– Pensaste que não me veria novamente? – Dizia Ida. – Principalmente de ter-me roubado minha varinha mágica? Que feio ensinamento para sua filha, o que ela pensará disso? – Ela fez um beicinho.

– Essa varinha não é sua, Ida, nunca será.

– A varinha pertence à Fada Guardiã de Misthezan que, no caso, sou eu.

Eu ganhei essa varinha, ela responde a mim.

– Pode até ser verdade, mas ainda assim roubaste... – Gargalhava Ida. No que ela tinha se tornado? – É incrível o que ainda podes fazer, vejamos: transformaste uma abóbora numa belíssima carruagem, duas pombas em um lacaio e um cocheiro, quatro ratinhos em cavalos e um menino numa princesa de sapatos de cristal, que criatividade, um belo ensinamento para sua filha, disso eu tenho certeza, mas qual o custo? Meia noite? – Ela ria cada vez mais alto.

– O que queres de mim, Ida? – Perguntava Adella, levantando sua varinha para qualquer ação que Ida fizesse. – Já não me roubaste magia o suficiente?

– Atacaria sua filha, Fada Madrinha?

      Olhando em seus olhos, Adella, por algum motivo, não conseguia sentir ódio, mas arrependimento. Imediatamente, ela abaixava seu braço, porque por algum motivo, Adella ainda conseguia ver a pequena menina a qual dera luz um século atrás. Tudo o que ela queria fazer era chorar. Estava quase lá. Isso tudo era sua culpa. Se ela não tivesse abandonado Ida e resolvesse criá-la, nada disso estaria acontecendo. Adella poderia ensinar o amor a Ida, então ela não teria que ir pelo caminho do ódio e da escuridão.

Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)Onde histórias criam vida. Descubra agora