Desilusão

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      O castelo de Amásis era incrivelmente belo. Se não tivesse mármore, tinha vidro. Eram várias as janelas, todas enormes e largas, separadas cada uma por colunas de mármore. Várias escadarias que pareciam não ter fim, podendo levar aos lugares mais inusitados. Cendric não poderia estar mais maravilhado com tudo aquilo. O lugar era enorme, era impossível achar o salão do baile, precisando de informações por um caminho. Ele estava atrasado, não havia ninguém andando para que pudesse seguir. Mas finalmente chegara e lá estava ele, atravessando uma das portas, sendo encarado por milhares de olhares curiosos e fascinados. Não existia uma pessoa naquele baile que não estivesse olhando para ele, bem, ela. Aparentemente todos realmente pensavam que Cendric era uma donzela usando um belo vestido. Adella fizera um excelente trabalho disfarçando-o. O espartilho ajudava seu corpo parece mais feminino, com mais curva (ser bem magro também ajudou bastante), a máscara cobria somente seus olhos, mas parecia cobrir todo o seu rosto, ninguém parecia notar feições masculinas na dama, talvez fosse a maquiagem que ele usava ou seus traços eram bem mais delicados do que imaginava, mas ninguém desconfiava de seu pequeno disfarce.

      A ida até o castelo fora encantadoramente fantástica. Cendric nunca conseguira imaginar tudo aquilo acontecendo. Pela primeira vez, ele estava sendo tratado como alguém de poder e beleza. Era praticamente inacreditável. Desde que saíra da carruagem de ouro e cristal, Cendric não deixou de notar que todos por quem passava olhavam (alguns discretamente, outros não) para ele. Muitos guardas tentaram ajudá-lo a entrar no castelo, assim como quiseram ajudá-lo a sair da carruagem. Não havia nenhum sinal de Abner por todo aquele caminho até o salão que era tão belo e de se chamar a atenção, mas ninguém parecia estar admirando o lugar, todos os olhares se voltavam para Cendric em seu belo vestido preto. Por mais que parecesse ser muito boa a atenção e a notoriedade, era extremamente desconfortável todos aqueles olhares. Não era seu objetivo ser o foco da noite, mas era o que parecia estar acontecendo.

      Então ele pisou no primeiro degrau.

      Os sapatos de cristal não tinham sido quebrados em nenhum momento que pisara no chão. Eles eram, de fato, resistentes e fortes. Mas independente de magia ou dureza, Cendric tentou pisar com cuidado e suavidade no chão a cada passo dado, mesmo que as vezes acabasse fazendo muita pressão contra o chão, para seu desespero. Cada degrau andado, maior era o medo. E se o descobrissem? E se desse meia noite rápido demais? Bem, não era hora para ficar assustado naquele momento. Se conseguira chegar até ali, então poderia aguentar mais algumas horas.

      Conforme Cendric descia, devagar, a grande escadaria do salão, alguém surgiu. Inteiramente vestido de preto e ouro. Ele parecia estar esperando por Cendric. Quanto mais perto estava, mais fortes eram as batidas de seu coração. Estava acelerado demais. Assim que nos últimos degraus, o rapaz estendeu sua mão para ele. Sem ideia do que fazer, Cendric simplesmente perguntou:

– Eu te conheço? – Sua voz parecia mais fina. Aquilo era parte do encanto ou ele estava forçando-a, sem nem perceber?

– Receio que não, mas desejo ter a primeira valsa contigo. – Disse ele, se curvando, humildemente.

– Mas eu não o conheço, senhor...

– Perdão, me chamo Andrew, senhorita. – Disse o rapaz. – Andrew D'Oro.

      O príncipe.

      Aquele era o príncipe Andrew, de Cristalines.

      O anfitrião do baile.

– Alteza! – Cendric exclamou, tentando se curvar, desastrosamente, com aquele vestido atrapalhando tudo.

      Mas, ao que parecia, o príncipe estava achando graça, pois não parava de rir.

Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)Onde histórias criam vida. Descubra agora