Sussurros de Montinova

80 11 1
                                    

      O dia acabou passando bem devagar para Adella, depois de ver Cendric. Esperava que ele soubesse o que estava fazendo. Depois de tanto procurar no sapato de cristal, nenhum resquício de magia desconhecida se encontrava nele. Apresentava somente seu encantamento, o que era estranho, para alguém cujos poderes somente duravam pouco tempo.

      Quando voltara a boutique com Cendric, naquele dia, a choradeira de Dorothy havia acabado. Ela já estava se recuperando do fiasco que tinha sido ao experimentar o sapato. Seu pé era muito pequeno e muito fino para caber. Ninguém tinha a noção do quão grande ele era. Era a medida perfeita para o pé de um homem, nem toda mulher conseguiria calçá-lo. Muitas, por falta de conhecimento e desespero, acabaram cortando seus pés, em vão.

      O sapato estava guardado em um saco feito de couro, em cima da cabeceira de seu quarto. Adella passara dias analisando o sapato de cristal, sem sucesso. Por algum motivo, todos os resquícios mágicos nele eram completamente seus. Como aquilo seria possível? 

– Aqui está. – Disse a Fada Madrinha, entregando o saco a Cendric. – O que resolveres fazer, tens o meu apoio, mas lembres do que falamos hoje.

– Sim, obrigado Adella. – Ele agradeceu, ainda nervoso.

– Apenas volte para casa e espere a visita do ministro, quando ele chegar, saberá o que fazer.

      O garoto assentiu.

      Com um último abraço, ele foi embora, dizendo antes:

– Obrigado por tudo, Adella, literalmente tudo.

      A fada o viu partir, sem conseguir parar de sorrir. Torcia para que Cendric seguisse seus instintos e, se estivesse certa, revelasse a verdade. Ele merecia um descanso depois de anos de tortura no Casarão de Noirsette, nas mão de Madame Clouthier. Cendric merecia paz, junto ao príncipe Andrew. Por mais curtos os segundos que foram ditos sobre o baile, Adella notou o brilho no olhar de Cendric. Ele estava apaixonado. 

      Era inegável.

      Horas depois e o movimento ainda estava muito parado, quase ninguém pedia nada. Não havia baile para vestidos serem encomendados. Não havia mais novidade sobre o sapato de cristal. Ninguém sabia se haviam encontrado a dama misteriosa. Adella apenas ficava na torcida para que Cendric tivesse a coragem que sempre teve para passar por aquele desafio. Todos ainda estavam dentro de suas casas, a espera da visita do ministro, ou seja, não haveria pedido por aquele dia. Sendo assim, Flora, que estava impaciente fazendo nada na loja, disse: 

– Chega! Se Madame Lulu perguntar sobre mim, digam que passei mal. – Ela disse, impaciente. – Não sou obrigada a ficar fazendo nada aqui.

– Mas Flora! – Exclamou Dorothy.

– Não vou ficar aqui quando posso relaxar na minha casa com meu marido! – Ela disse, rabugenta. – Talvez o ministro passe na minha casa e eu seja a princesa misteriosa.

– O que estás a dizer?

– Que eu não fico aqui mais um minuto, hoje.

      E foi embora, deixando Adella, Dorothy e Abigale sozinhas na loja, com Madame Lulu acima delas, onde sua casa ficava. Elas ficaram ali embaixo, conversando, e pela primeira vez, não era sobre a dama misteriosa. Abigale disse que tinha algo muito importante a falar, mas ainda tinha muito medo de falar em voz alta, receosa com o que iriam dizer.

– Não tenha medo, Abigale. – Falou Adella. – O que quiser falar, saiba que não iremos lhe julgar, não é mesmo, Dorothy?

      A costureira concordou.

Os Reinos Ligados Pela Floresta: Cendric (Cinderela)Onde histórias criam vida. Descubra agora