Queria que essa noite nunca tivesse acontecido. Caso contrário, eu não contaria essa história a você. Eu não passaria pelas coisas que passei. Estaria tudo bem. Mas, infelizmente, aconteceu. Naturalmente, como uma gota de chuva que cai do céu, trazendo outras infinitas logo em seguida. Você sabe o que vai acontecer depois, mas não há nada que possa fazer para impedir. A não ser se cobrir, e esperar para não se molhar tanto. E, dentro de um quarto de hora de uma noite composta por tantos minutos, ela me deixou encharcado.
Era uma noite como qualquer outra – um pouco mais fria, mas a sua voz não estava embriagada de sono e suas risadas estavam um pouco mais forçadas do que o normal, para minha tristeza. Eu tentava reanimá-la mas de todas as piadas ou histórias que eu a contava, no final apenas recebia um "hum" ou um "ah". Estava frustrante. Até que eu desisti de fazê-la sorrir, e fiquei calado ao telefone.
– Lucas? – Ela me disse, depois de uns 5 minutos de silêncio bruto.
Sim, 5 minutos. Eu estava olhando para a duração da ligação.
– Achei que você tinha pegado no sono – menti, pois eu estava ouvindo sua respiração pesada e o quebrar das unhas dela enquanto as roía. Geralmente, a Alice fazia isso quando estava nervosa. Ela adorava suas unhas. O negócio era sério, então. Isso me deixou bem apreensivo, já marcavam 3h da manhã. Ela deveria estar com sono.
– Tem algo me incomodando... – não respondi desta vez. – Lucas!
– Estou ouvindo.
– Desgastou.Aquilo me atingiu como uma bola em meio crianças histéricas jogando queimado. Como levar um murro do Mike Tyson ou ser pisoteado por mil pessoas.
– Ei... por favor, me responde.
– Eu já entendi.
– Não, espere. Me deixe falar.
– Diga! Eu estou ouvindo.
– Acho que a gente não é pra ser. Descobri isso depois de todas essas tentativas falhas. A gente se ama muito. Mas às vezes isso não é suficiente.
– Ali, por favor, não mente pra mim. Não faz isso de novo.Eu estava lutando para deixar minha voz firme, mas foi inevitável, e ela percebeu. Não sei se isso teve impacto, afinal, ela sempre me achou um infantil, um bebê chorão, então supus que ela já esperava que aquilo ia acontecer. Continuou, sem hesitar, nem ao menos me responder.
– Você é diferente de mim. Você ama diferente. Age diferente. E de tanto você querer ser que eu seja igual, com todas essas brigas e insistências para que eu mudasse, eu cansei. Você desgastou o meu amor. E agora eu sinto que não quero ficar com alguém que não aceite o meu jeito. Com você, eu descobri que a frase: "os opostos se atraem" é verdadeira. Mas, infelizmente, eles não se suportam.
Aquilo de novo. Oh, Alice. Mais conhecida por nunca descer do seu majestoso salto. Nunca dando o braço à torcer, ou admitindo estar errada. E o que porra era aquela de não se suportarem? Ela realmente havia dito que era apenas atração? Fechei meus olhos e apertei meus dedos com força. Eu deveria ter dito o que eu achava sobre aquilo tudo a ela naquela ligação, mas eu estava atordoado demais. Só queria que ela me dissesse que era tudo uma brincadeira e que tinha exagerado na erva. Que estava tudo bem e que só estava me tirando. Foi assim por um bom tempo.
– Lucas, você não vai me falar nada?
– Me desculpe.
– Não, não se desculpe. A culpa não é sua também. – isso me fez rir um pouco.
– Não é minha? Escuta o que você acabou de dizer, Alice!Parei por uns segundos e recompus meu tom de voz, respirei fundo e continuei.
– Eu vou mudar. Quando ver algo que não gosto, vou ficar calado. Vou aceitar suas indiferenças e fingir que sou prioridade para você. Eu me adaptarei a você. Eu juro. Só... só não me deixe.
– Ao contrário de você, não quero que mude. Então, por isso estou terminando tudo entre a gente.Passei meus dedos na minha bochecha e enxuguei as lágrimas, me virei na cama e afundei o rosto no travesseiro. Não desliguei, apenas coloquei em mudo e chorei. Gritei, e dei graças à Deus que o travesseiro abafou. Minha irmã mais nova dormia no quarto ao lado. Depois de uns minutos, olhei para o visor do meu celular, e a ligação ainda rolava. Engraçado. Ela havia 3 horas de duração. Nas primeiras horas estava tudo bem, ela ainda era minha. E os últimos minutos simplesmente me foderam.
– Alice – falei, após desligar o mudo.
– A gente ainda pode se falar. Você é muito importante pra mim, Lucas. De verdade. A gente não joga 3 anos de relacionamento no lixo, assim.
– Tudo bem.
– Então, amigos?Levei a mão até a cabeça e mordi meu lábio inferior, impedindo que todos os xingamentos que eu conhecia saíssem da minha boca. Segurei no meu colar de pedra da lua que usava desde os meus 13 anos e fechei os olhos. Respirei fundo, e respondi, depois de um longo suspiro.
– Sim, Alice. Amigos.
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Gravidade
Teen FictionLucas nunca se afogou enquanto surfava, mas, por ironia do destino, estava se afogando cada vez mais na tristeza. Depois do amor da sua vida lhe deixar, sua vida estava totalmente mudada. Mas ele percebeu que nada mudaria se ele não começasse a tent...