Capítulo Onze

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Quando ela sentou-se, dei alguns beliscões no braço. E depois na perna. Ela estava a algumas cadeiras a minha direita. Oh, meu Deus. Eu não me lembrava de Alice ser tão linda. Talvez fosse a saudade, ou o tempo. Não tinha nada muito diferente, mas, parecia tudo novo para mim.

Virou-se para falar com alguém do seu lado, e percebi que seu cabelo, preso em um rabo de cavalo, estava menor e mais claro. Então ela sorriu para esse tal alguém. Meu coração apertou com força.

Não sabia que era possível sentir tanta instabilidade. Uma mistura de sentimentos me invadiu quando a vi ali, sentada, brincando com quem quer que seja. Uma vontade de rir, chorar, pular em cima dela e entregar todos os beijos que deixei de dar, estavam me consumindo. Eu queria agarrá-la, sentir seu perfume de baunilha invadindo minhas narinas. Seu rosto encostado no meu pescoço, seus lábios roçando na minha nuca. Eu precisava dela, e ali estava. Sentada, totalmente acessível.

Daí eu lembrei.

"Amigos".

E aí, o sorriso que estava no meu rosto desapareceu. Tinha perdido a sanidade? Não poderia sair por aí agarrando e beijando uma amiga. Ou podia? Não, não podia. Na verdade, não sabia nem se podia falar com ela. Fazia muito tempo que não trocávamos nem um "bom dia". Uma angústia tomou conta de mim.

Não era normal, aquela garota havia sido por anos meu porto seguro. Minha melhor amiga, eu podia contar com ela pra tudo. Como eu poderia estar com vergonha de falar com ela? Eu a conhecia muito bem. A conhecia melhor do que qualquer colega seu de faculdade. Deveria ser tão normal quanto pedir um abraço a minha mãe. Mas, estava tudo ferrado. Tudo muito ferrado. Isso vinha desde bem antes do fim do nosso namoro. Vínhamos nos estranhando muito. Finalmente, chegou a um ponto que eu nem sabia se podia falar com ela mais.

Que droga.

– Tá tudo bem? – Senti as unhas de Anne passarem na minha mão. Desviei meu olhar de Alice para ela.
– Tá sim. – Assenti e sorri, mas logo voltei a olhar para Alice.

Eu ainda podia olhar. Não é mesmo? Admirar o que não era mais meu. Assim como eu vinha fazendo a algum tempo. E para completar, ela estava tão bonita que eu chegava a ter tremeliques. Não estava, ela era. Posso dizer que parecia normal, mas o seu normal fodia a escala de beleza de toda aquela sala. Sério. De longe, era a garota mais bonita daquele lugar. A pessoa mais bonita daquele lugar. A coisa mais bonita daquele lugar. Nada ali era mais bonito que ela.

Deixei um pequeno sorriso escapar e surgir em meus lábios. Logo em seguida soltei um suspiro. Como Alice conseguia me deixar daquela forma? Ela não fazia ideia do poder que exercia sobre mim. Na verdade, nem eu sabia. Sempre eram sensações diferentes. Nunca sabia o que viria.

E ela nem fazia por querer, sabe? Estava usando uma camisa branca e folgada, e um short jeans. Seu rosto estava dando sinal que havia acordado a poucos minutos. Seus olhos, ainda sonolentos, pareciam mais doces que o normal. Senti saudades de quando ela acordava ao meu lado. O olhar era o mesmo. Quis dopá-la e levá-la para um dos quartos, só para poder vê-la acordar.

Mas o que?

Desci meu olhar para minhas mãos e comecei a rir. Comecei a estalar meu dedos. Estava agindo como um louco, pensando como um louco. Mas, era assim que ela me deixava. Alice era pior que qualquer droga alucinógena. Pior do que qualquer porcentagem de álcool no meu corpo. Alice me deixava insano. E eu não tinha vergonha alguma de admitir aquilo.

Voltei a olhá-la. E ela estava brincando com algo em seu prato. Por que eu parei de olhar para ela? Mesmo que tenha sido apenas por alguns segundos? Alice estava ali. Fazia tempos que não a via. E sinceramente, naquele lugar não tinha nada que eu quisesse ver que não fosse ela. Na verdade, não tinha nada mais importante que eu quisesse ver no mundo inteiro.

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