Gravidade

Capítulo Vinte

E aconteceu o que eu mais queria que acontecesse naquele momento. Sim, aconteceu.

Não, nós não transamos. Muito menos nos "pegamos". Nem sequer aconteceu um beijo. Mas não pense que eu estava insatisfeito.

Alice e eu ficamos conversando até amanhecer. Em certo ponto, ela estava tão livre de coisas ruins, que começou a compartilhar coisas boas comigo. Percebi que ela estava bem. Era perceptível de longe. Aquilo me fez saber que a ajudei. Compartilhamos muitas risadas, e lembranças do passado. De quando éramos felizes juntos.

Nós falamos sobre tanta coisa, que houve uma hora que ela cansou. Mas não aquele cansaço ruim. Então, Alice encostou sua cabeça em meu peito e sussurrou:

- Precisamos dormir...
- Sim - respondi, de olhos fechados e com um sorriso nos lábios.
- Bom dia.
- Pra você também.

Antes de pegar no sono, dei uma olhada em seu rosto. Ela já dormia. Seus cabelos estavam soltos, o aroma de frutas vermelhas invadindo minhas narinas. Encostei minha cabeça no travesseiro. Inspirei, e quando menos esperava, estava dormindo também.

///

Após 7 horas de sono, acordei. Senti falta do peso no meu peito, Alice não estava mais na cama. Olhei no celular e vi que era meio-dia. Me sentei e espreguicei meu corpo. Procurei ao redor e ela não estava em nenhum lugar do quarto. Dei de ombros e levantei da cama.

Fui até o frigobar e o abri. Procurei algo pra disfarçar meu possível mau hálito matinal, e achei uma caixinha de mentos de hortelã em baixo das roupas que Alice usou na noite anterior. Mastiguei dois. Odiava não ter minha escova de dentes comigo.

- Oi. Bom dia, bonitinho. Bisbilhotando minhas coisas? - Alice apareceu, saindo do banheiro e me olhando. Ela escovava os dentes.
- Ah, não. Eu só estava procurando isso aqui. - Balancei a caixinha de mentos. Ela ergueu uma sobrancelha e voltou ao banheiro.

Enquanto ela fazia o que estava fazendo, calcei meus tênis. Logo em seguida me questionei se aconteceria algo naquele dia - ou na vida - que fosse tão bom como a noite que passamos juntos.

- O David passou aqui com a Savannah. Ela veio avisar que não ia dormir aqui - Alice falou enquanto prendia o cabelo.
- Ah, claro - ri um pouco.
- Não mencionei que você estava aqui, mas ela viu um de seus sapatos.
- E ai?
- Ué... - ela sentou do meu lado - e aí nada.
- Sim. Como você está?
- Muito bem. E você?
- Também estou - dei um sorriso sincero, assim como a minha resposta.

Ficamos quietos um pouco. Até que ela levantou e começou a falar com um entusiasmo impressionante.

- Nós poderíamos fazer algo hoje. Algo legal.
- Tipo o que?
- Não sei! Empinar pipa, jogar baralho... coisas aleatórias, coisas que amigos fazem para se divertir.
- Hum... - arqueei uma sobrancelha - ou, a gente pode andar de bicicleta. O que você acha?
- Sim! Mas, aonde a gente arruma bicicletas?
- Não sei... mas não deve ser difícil alugar duas por aqui. 

Peguei meu celular e procurei no google por "aluguel de bicicletas em Malibu". Cliquei em alguns pontos e fui fazendo caretas por conta do preço.

- Precisam ser bonitas?
- Precisam ser bicicletas, Luke.

Dei de ombros e encontrei um preço mais barato e eles entregavam aonde você estava.

- Olha. 35 dólares cada uma. Eles vêm deixar aqui. Foi o mais barato que eu encontrei. - Alice pegou o celular da minha mão e olhou as bicicletas.
- Estão ótimas. Vou ligar pra eles.
- Mas a gente não vai almoçar? Eu tô morrendo de fome.
- Não! - Ela franziu o cenho e colocou o dedo indicador sobre os lábios, me mandando não falar. Depois apontou para o guarda-roupa. - Alô? Oi, é do aluguel de bicicletas? Hm, eu queria alugar duas, por favor.