Capítulo Vinte e Cinco

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– O que você está fazendo aqui?

Julia entrou no quarto com sua mochila azul estampada nas costas. Ela a jogou na cama e cruzou os braços, me fitando. Parecia incomodada e apreensiva.

– Eu quis vir te ver.
– Obrigado. Senti sua falta. Como estão as coisas em Malibu?

Enquanto se acomodava, me contou que todos estavam torcendo por mim. Mandou os abraços e os desejos de boa sorte de várias pessoas.

– E a mamãe?
– Ela vem no dia da final. Tinha que resolver umas paradas lá, e nós estávamos sem dinheiro pra pagar as diárias das duas até lá. Aliás, eu não vou dormir nesse hotel. Arranjei um lugar mais barato.
– É seguro? – Julia assentiu. – Fica longe daqui?
– Não muito. Dá pra vir à pé. Eu dei meu jeito.

Parei e a fitei. Ela estava arrancando o esmalte das unhas.

– Ah – entendi logo – saquei. A Anne te falou alguma coisa. Não falou?
– É, ela me falou – arqueou uma sobrancelha. Você vai xingar ela por isso? – Julia quase cuspiu na minha cara.
– Nossa, calma.
– Ah... desculpe – ela suspirou e passou a mão no rosto. Sentou na cama e me olhou.

Percebi que ela já sabia de tudo, inclusive da briga com Anne, ao levar em conta sua resposta anterior. Sentei ao seu lado. Ela me olhou e passou a mão no meu cabelo. Seus olhos estavam tristes. Não sabia ao certo o porquê, mas, aquilo me fez querer morrer. Quando ela suspirou pesadamente, não me aguentei mais. As lágrimas marejaram meus olhos e eu não as impedi de descer por minhas bochechas. Ela se aprumou na cama e eu deitei minha cabeça nas suas pernas. Julia suspirava tentando se manter firme. Eu nunca gostei muito de cafuné, mas, quando a Julia fazia, era diferente. E eu estava precisando daquilo.

– De vez em quando eu acho que sou a irmã mais velha.
– Eu também – ri e funguei. – Estava precisando mesmo de você aqui – olhei para cima. Julia sorriu.
– O que está acontecendo? Achei que depois daquela burrada que você fez, a que você caiu da prancha, você não beberia mais nessa viagem. Qual é, Luke, você estava tão focado...
– Eu sei mas... ah, eu não sei o que fazer. Se eu fico parado, eu penso nela. Se eu faço algo, penso como seria se ela estivesse comigo. E eu tive a chance de a ter, a gente se beijou de novo, ela queria mais...
– E você recusou? – assenti. – Ótimo?

Soltei o ar. Talvez na teoria fosse. Mas aquilo me incomodava muito.

– Talvez eu devesse ter aproveitado e...
– Olha, cala sua boca – ela se levantou, me deixando na cama. Sentei e a olhei em pé. – Você tem essa mania escrota de pensar que ter migalhas da Alice é melhor do que ter tudo de outra pessoa. Isso é ridículo, Lucas. Ridículo!
– Eu amo a Alice, Julia – sussurrei.
– E ela ama você? Amor é soma, Lucas. Não tudo!
– Como assim?
– Você não pode viver para o amor. Antes de amar alguém, você precisa ter sua própria dose. Assim, quando você perder quem ama, não perde tudo. Entendeu?

Engoli seco. Sabia exatamente o que ela estava falando. Amor próprio. Eu, com consciência disso, dei todo meu amor para Alice. Não sobrou pra nada. Pra ninguém. E quando a perdi, não restou muita coisa. Se eu tivesse me amado mais, com certeza não teria ficado naquela situação.

Assenti e fiquei calado. Julia parecia querer me bater, mas também estava muito triste.

– Você já parou pra pensar se você realmente a ama?
– Como? – sentei na cama e a fitei.
– Você ainda ama a Alice, Lucas?
– É claro! Eu amo... – franzi o cenho – não amo?
– Pense. Se você a deu todo seu amor, talvez você só esteja querendo ter de volta. Não ela, mas o sentimento. Se sentir humano de novo. Você se prende a esse pensamento, sabe? De achar que ela é única. Talvez ela seja... a única Alice. Mas existem tantas únicas, Lucas. Tantas.

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