– O que você está fazendo aqui?
Julia entrou no quarto com sua mochila azul estampada nas costas. Ela a jogou na cama e cruzou os braços, me fitando. Parecia incomodada e apreensiva.
– Eu quis vir te ver.
– Obrigado. Senti sua falta. Como estão as coisas em Malibu?Enquanto se acomodava, me contou que todos estavam torcendo por mim. Mandou os abraços e os desejos de boa sorte de várias pessoas.
– E a mamãe?
– Ela vem no dia da final. Tinha que resolver umas paradas lá, e nós estávamos sem dinheiro pra pagar as diárias das duas até lá. Aliás, eu não vou dormir nesse hotel. Arranjei um lugar mais barato.
– É seguro? – Julia assentiu. – Fica longe daqui?
– Não muito. Dá pra vir à pé. Eu dei meu jeito.Parei e a fitei. Ela estava arrancando o esmalte das unhas.
– Ah – entendi logo – saquei. A Anne te falou alguma coisa. Não falou?
– É, ela me falou – arqueou uma sobrancelha. Você vai xingar ela por isso? – Julia quase cuspiu na minha cara.
– Nossa, calma.
– Ah... desculpe – ela suspirou e passou a mão no rosto. Sentou na cama e me olhou.Percebi que ela já sabia de tudo, inclusive da briga com Anne, ao levar em conta sua resposta anterior. Sentei ao seu lado. Ela me olhou e passou a mão no meu cabelo. Seus olhos estavam tristes. Não sabia ao certo o porquê, mas, aquilo me fez querer morrer. Quando ela suspirou pesadamente, não me aguentei mais. As lágrimas marejaram meus olhos e eu não as impedi de descer por minhas bochechas. Ela se aprumou na cama e eu deitei minha cabeça nas suas pernas. Julia suspirava tentando se manter firme. Eu nunca gostei muito de cafuné, mas, quando a Julia fazia, era diferente. E eu estava precisando daquilo.
– De vez em quando eu acho que sou a irmã mais velha.
– Eu também – ri e funguei. – Estava precisando mesmo de você aqui – olhei para cima. Julia sorriu.
– O que está acontecendo? Achei que depois daquela burrada que você fez, a que você caiu da prancha, você não beberia mais nessa viagem. Qual é, Luke, você estava tão focado...
– Eu sei mas... ah, eu não sei o que fazer. Se eu fico parado, eu penso nela. Se eu faço algo, penso como seria se ela estivesse comigo. E eu tive a chance de a ter, a gente se beijou de novo, ela queria mais...
– E você recusou? – assenti. – Ótimo?Soltei o ar. Talvez na teoria fosse. Mas aquilo me incomodava muito.
– Talvez eu devesse ter aproveitado e...
– Olha, cala sua boca – ela se levantou, me deixando na cama. Sentei e a olhei em pé. – Você tem essa mania escrota de pensar que ter migalhas da Alice é melhor do que ter tudo de outra pessoa. Isso é ridículo, Lucas. Ridículo!
– Eu amo a Alice, Julia – sussurrei.
– E ela ama você? Amor é soma, Lucas. Não tudo!
– Como assim?
– Você não pode viver para o amor. Antes de amar alguém, você precisa ter sua própria dose. Assim, quando você perder quem ama, não perde tudo. Entendeu?Engoli seco. Sabia exatamente o que ela estava falando. Amor próprio. Eu, com consciência disso, dei todo meu amor para Alice. Não sobrou pra nada. Pra ninguém. E quando a perdi, não restou muita coisa. Se eu tivesse me amado mais, com certeza não teria ficado naquela situação.
Assenti e fiquei calado. Julia parecia querer me bater, mas também estava muito triste.
– Você já parou pra pensar se você realmente a ama?
– Como? – sentei na cama e a fitei.
– Você ainda ama a Alice, Lucas?
– É claro! Eu amo... – franzi o cenho – não amo?
– Pense. Se você a deu todo seu amor, talvez você só esteja querendo ter de volta. Não ela, mas o sentimento. Se sentir humano de novo. Você se prende a esse pensamento, sabe? De achar que ela é única. Talvez ela seja... a única Alice. Mas existem tantas únicas, Lucas. Tantas.
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Gravidade
Teen FictionLucas nunca se afogou enquanto surfava, mas, por ironia do destino, estava se afogando cada vez mais na tristeza. Depois do amor da sua vida lhe deixar, sua vida estava totalmente mudada. Mas ele percebeu que nada mudaria se ele não começasse a tent...