Capítulo Três

752 80 35
                                    

Quando pisei na areia fofa, senti meu corpo entrar em êxtase. Fazia tempo que não ia à praia. Mesmo quando eu ainda estava com Alice, estava ocupado demais estudando para o vestibular. Sorri e mexi meus dedos dos pés. Ouvi Lia prender o riso, e a olhei.

– O que é? – Disse, sorrindo.
– Nada – ela passou a mão nas minhas costas e jogou sua bolsa na areia.

Anne estava do lado de Arthur, seu namorado por quase 4 anos. Me lembro de quase ter matado ele quando descobri, mas logo me conformei. Eu tinha um grande problema com as minhas amigas.

Eu gosto de fazer as garotas se sentirem bem. De dar carinho, de cuidar. E eu meio que acabo fazendo isso com todas as minhas amigas e garotas que eu me aproximo. Infelizmente, eu confundo as coisas, e elas também. E sou covarde, pois, não consigo simplesmente falar a verdade. Eu alimento aquilo, mas não faço por mal. Isso acontece porque eu não gosto de magoar ninguém, mas, infelizmente, no fim, isso acontece todas as vezes.

Arthur apareceu na vida da Anne logo depois de eu fazer isso com ela. E, outro problema horrível que eu tenho, é o de querer o que não é meu. Quando a vi com ele, bem, eu a quis de volta. Não que eu gostasse dela, eu gostava da adrenalina de não tê-la mais, e ter o desafio de reconquistá-la. Isso foi um ano antes de eu conhecer Alice. Quando isso aconteceu, eu vi que todas essas coisas que eu fazia não tinham sentido. E aqui eu lhe digo novamente, a Alice me fez crescer.

Anne veio correndo até o meu lado e empurrou meu ombro. Seu namorado veio logo atrás dela.

– As ondas não estão boas hoje, o mar está calmo... espero que amanhã elas melhorem – Arthur disse, passando um braço por cima dos ombros de Anne e a abraçando de lado.
– Verdade, eu ia dizer isso agora – Lia falou, sentando na areia. Fiz o mesmo, e logo todos estavam sentados.
– Você precisava treinar... – Anne falou, com um tom de preocupação. Sorri de lado.
– Está tudo bem, se eu não conseguir, não tem problema.
– Então, vamos ficar aqui sem fazer nada? – Julia disse.
– Eu vou dar uma caminhada... – Levantei, e minha irmã fez a mesma coisa. – Sozinho.

Ela levantou as duas mãos se rendendo, e se virou para Anne e Arthur, que logo começaram a conversar sobre algo que eu nem sequer prestei atenção. Eu só conseguia pensar nela.

Comecei a andar e fui direto para a areia molhada, e minha mente mudou assim como a temperatura nos meus pés. Meu coração apertou. Era tão estranho, a sensação de não ter algo que você achava que fosse ser seu pra sempre. Pensei se perder um braço era do mesmo jeito. Deve ser horrível, querer usar o seu braço, mas ele não está mais ali. Então você pensa no movimento, seus neurônios enviam o comando, mas não tem braço pra se mexer. Comecei a rir dos meus pensamentos, e olhei para o lado. A praia estava cheia de gente, mas mesmo assim, estava tão vazia. Nunca esteve tão monótona em todo esse tempo. Olhei para o céu e tentei tapar o sol com a mão. Ele radiava forte, então não consegui. Mas, acho que mesmo se o dia estivesse nublado, eu ainda sentiria mais falta dela do que da luz do sol.

Pisquei meus olhos e balancei a cabeça, numa tentativa falha de afastá-la da minha mente.

E consegui. Comecei a pensar em como seria o campeonato no dia seguinte. Se quem fosse concorrer comigo seria mais forte ou mais preparado. Com certeza a Alice passaria. Ela era tão talentosa em tudo que fazia... eu com certeza não me importaria se ela conseguisse a vaga no meu lugar.

Pisquei meus olhos e balancei a cabeça, numa tentativa falha de afastá-la da minha mente.

Comecei a correr. No início, apenas trotei, e tentei pensar em como comer sanduíche o tempo todo e deitar logo em seguida me fizeram ganhar vários quilos. Aquilo me fez correr mais rápido. Alice tinha um corpo maravilhoso. Seus seios eram incríveis. Todas as vezes que corríamos juntos, eu falava sobre eles, e ela me batia no ombro. Aumentei a velocidade, e logo comecei a sentir o vento mais forte no meu rosto.

Alice estava solteira, e na universidade. Era linda, a mais linda do mundo. E era maravilhosa na cama. Ela poderia estar com outro. Outro estava a vendo, outro estava falando sobre o seu corpo. Então corri mais rápido ainda, até que vi que estava numa parte deserta da praia.

Parei, colocando minhas mãos no joelho e tomando fôlego. Alice sempre conseguia correr mais do que eu, e todas as vezes que eu parava antes dela, olhava pra mim e dizia:

– Você é tão preguiçoso.

Chutei a água do mar e me ajoelhei na areia, sentindo o mar batendo em minhas coxas. Levei as duas mãos ao rosto e limpei meu suor. Suspirei.

Pisquei meus olhos e balancei a cabeça, numa tentativa falha de afastá-la da minha mente.

Não tinha jeito. Afastá-la da minha mente era impossível. Então desisti, pois sempre seriam tentativas falhas. E eu estava cansado de falhar.

GravidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora