Capítulo Dezesseis

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Eu e Alice ficamos lá em cima por um tempo. Ela me contou sobre sua vida, sobre como havia conhecido Caleb - ok, essa parte eu não queria saber, mas ela disse mesmo assim. Também me falou sobre seu curso. Disse que está tendo notas altas, que a matéria que tem mais dificuldade é cálculo avançado, mas o resto está conseguindo tirar de letra. Então ela perguntou como eu estava.

Eu tive muita vontade de mandar ela ir pro inferno.

Não fiz isso. Engoli seco e disse: "Ah, eu tô levando."

Ela também não perguntou mais. Foi até melhor assim. Nunca consegui mentir meu estado para Alice. Com certeza eu iria falar tudo. E eu não faria isso pra ela ter pena ou algo do tipo. Falaria só porque eu achava que ela precisava saber. Não pra se sentir culpada. Mas, porque eu confiava nela. E eu sabia que Alice poderia me ajudar. Infelizmente, você só pode ser curado por quem te machucou.

Depois disso, o clima ficou pesado. Então eu me levantei e ela fez o mesmo. Falei que ia dormir, porque realmente estava cansado pra caralho. Ela disse que estava tudo bem, e desceu junto comigo. A deixei no seu apartamento, e recebi um abraço de boa noite.

Queria dormir. Não iria falar com mais ninguém naquele dia. Queria que o fim fosse com ela. Então fui descansar, e acordei só no dia seguinte.

Quando eu acordei, me perguntei se aquele fim de tarde no terraço do hotel tinha sido um sonho.

Me sentei na cama, olhei para o relógio e vi que ainda era manhã. Deixei meu corpo cair novamente quando lembrei do que havia acontecido no dia anterior. Sorri de leve, passei a mão no rosto e me forcei a deixar de bobagem.

- Não viaja, não foi nada. - Sussurrei, fazendo uma nota mental.

Me proibi de me iludir. De fantasiar futuros com a Alice. Mas eu sempre fui "otimista" demais - em outras palavras: idiota. Então me levantei, com um sorriso ainda maior. Fui até o banheiro, e ri do meu reflexo sorridente.

Eu estava me sentindo muito feliz.

Mas como conseguia ficar tão bem com tão pouco? Justamente por causa dos planos futuros. Eu me focava tanto neles que era como se já estivesse acontecendo.

Enquanto tomava banho para ir ter meu café da manhã, caí na real. Meu sorriso desceu pelo ralo, junto com a água quente que descia pelo meu corpo. Coloquei na minha cabeça que não era nada demais. Porque não era! E quanto mais eu pensasse que sim, eu me ferraria mais no final.

Passei minhas mãos no rosto e suspirei. Desliguei o chuveiro e repeti comigo mesmo: "não é nada, não alimente algo que não vai acontecer".

Saí do box e me enxuguei. Usei a toalha para enxugar meus cabelos e percebi que eles estavam grandes. Enrolei a mesma na cintura e fiquei em frente ao espelho. Estava embaçado por conta do vapor quente da água. Passei minha mão e limpei apenas uma faixa na frente do meu rosto. O sorriso não estava mais ali.

Aposto que você concorda comigo que ouvir verdades de outras pessoas é bem difícil. Mas ouvir verdades de si próprio é pior ainda.

Desci e devorei meu café-da-manhã em companhia de Anne. Ela pediu para que eu comesse mais devagar pois ela queria ir passear e era melhor eu não estar "empachado". Não me importei e comi como se não tivesse me alimentado direito por dias. O que era verdade, afinal.

- A gente poderia caminhar na praia ou conhecer a cidade. - Anne indagou.

- Sim, é uma boa ideia. E depois a gente poderia sair para algum lugar à noit... - parei de falar quando senti uma mão no meu ombro. Quando me virei, encontrei Alice sorrindo. Engoli a comida que ainda estava na boca.

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