Fiquei observando Alice se distanciar, esquivando-se das pessoas. Estava completamente sem reação. O que eu esperava, afinal? Que ela me puxasse pra dentro do carro e que ali a gente voltasse a ser o que éramos antes?
Todos ao meu redor dançavam. Eu só consegui ficar parado, com os ombros caídos, olhando para a direção em que ela havia saído. Suspirei. A música que tocava agora era ensurdecedora, mas tudo que eu conseguia ouvir era a voz dela.
"Não."
Mas aquele não... soou diferente. Não era um "não" normal, daqueles que você usa quando quer negar algo simples, recusar alguma coisa ou responder alguém. Parecia que ela estava negando a si mesma. Ou melhor, parecia que Alice estava falando com algo dentro de si, pedindo para essa coisa parar. Obrigando-a a sair.
- Qual é, cara. Sai daqui se você vai ficar parado. - Um garoto falou após esbarrar em mim.
Estava atordoado demais pra arranjar confusão. Apenas me afastei e sentei no sofá que David e Savannah estavam antes. Coloquei as mãos na cabeça e fechei meus olhos. Alguém tocou meu ombro. Olhei para cima e David me olhou com uma cara de preocupado.
- O que houve? Tá tudo bem contigo?
- Ela me deixou sozinho na pista de dança. Deu as costas pra mim. - Dei um longo suspiro. - De novo.
- De novo?
- Sim. A Alice.
- Ela simplesmente te abandonou lá, parado? - Assenti - O que ela disse?
- Quando saiu? Ah, ela só disse "não", e saiu correndo.
- Não? - David sentou ao meu lado
- Isso.
- E o que ela estava negando?
- Não sei ao certo. Não sei se estava me negando, ou negando a si mesma.
- Ou ela estava negando as vontades dela.
- Como assim? - Franzi o cenho, confuso
- Existe uma diferença entre o que a gente quer fazer, e o que a gente precisa fazer.
- Hum.
- Lucas, talvez ela quisesse. Mas talvez, ela não precisasse. E você precisa. Talvez ela não tenha achado justo.
- E se eu quiser a vontade dela? Eu não preciso que ela necessite de mim. Eu só a quero. Eu preciso dela.
- Então você tem que falar pra ela.Me levantei, peguei o copo que David segurava e desci a vodka pela garganta. Me despedi com uma saudação e saí correndo da festa.
Quando cheguei na calçada, olhei para os dois lados. Alice não estava mais ali. Coloquei as mãos na cabeça e soltei o ar. Estreitei meus olhos e vi um táxi do outro lado da rua. Passei e quase fui atropelado por um carro.
- Olha pra onde anda, otário.
- Vai se fodeeeeeeeeeer! - Falei, atravessando a rua de lado, com os braços levantados e mostrando os dois dedos do meio. O cara riu, e buzinou para mim.Entrei no táxi e o motorista olhou para mim desconfiado.
- Você não gastou todo seu dinheiro com drogas e bebida, não foi, garoto?
- Eu preciso encontrar a garota que eu amo. E tudo que eu tenho é isso aqui. - Estendi uma nota de 20 dólares.
- Pra onde você vai? - O motorista grisalho pegou a nota.Disse o endereço do hotel e ele começou a dirigir. Ao chegarmos, vi que o taxímetro havia dado menos do que 20 dólares. Mas não pedi troco, pois, se tivesse excedido, ele não cobraria.
- Obrigado.
- Boa sorte! - O ouvi gritar quando eu já estava entrando no hotel. Agradeci novamente.Passei direto para os elevadores, quando pensei: e se ela não estiver aqui? Fui até a recepção.
- Moça, boa noite. - Falei pra a recepcionista. - Você sabe se a Alice Werzh já está no hotel?
- Desculpe, eu não conheço a fisionomia de todos os hóspedes. - Ela disse, repreendendo o riso. Suas sobrancelhas bem feitas arquearam. - Você está bem?
- Claro que estou. - Pigarreei e aprumei minha postura. - Por que eu não estaria? Estou ótimo. Às mil maravilhas. Melhor do que nunca. E sóbrio. - Dei um sorriso e arqueei uma sobrancelha. A recepcionista riu. Olhei seu crachá e dizia que seu nome era Mary. Ela era jovem, tinha cabelos loiros e curtos.
- Estou vendo. Você poderia repetir o nome dela?
- Alice Werzh.
- É uma garota baixa, de cabelos escuros?
- Sim!
- Estava usando um cropped branco com uma saia cintura alta e ankle boots?
- Que? O que é cropped? E ankle boot?
- Ela estava de blusa branca, por um acaso?
- Estava.
- E saia preta?
- Sim.
- E botas?
- SIM!
- Ela está no hotel. Olha, o que quer que tenha acontecido, essa menina não está bem. Entrou aqui, disse que havia perdido a bolsa e pediu outra chave-cartão. Dava pra ver que ela tinha chorado muito. E suas mãos tremiam, bastante.
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Gravidade
Teen FictionLucas nunca se afogou enquanto surfava, mas, por ironia do destino, estava se afogando cada vez mais na tristeza. Depois do amor da sua vida lhe deixar, sua vida estava totalmente mudada. Mas ele percebeu que nada mudaria se ele não começasse a tent...