Capítulo Dez

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Já tinha terminado de arrumar minhas coisas, e naquele momento estava deitado na cama. Se passaram algumas horas, e eu estava alí, imóvel. Não queria dormir, tampouco fazer algo de útil com meu tempo. Então, depois de alguns minutos, acabei caindo no sono.

Sempre tive o sono muito leve, então despertei quando ouvi a porta ranger. Foi um cochilo tão rápido que não consegui nem sonhar. Abri meus olhos e vi a silhueta pequena de Julia na minha frente. Sentei na cama e esfreguei os olhos. Ajeitei minha postura, e ela sentou ao meu lado.

Desculpa – falamos juntos. Rimos juntos também.
– Sério, não devia ter te dito aquelas coisas.
– E eu não devia ter te tratado daquela maneira. Muito menos o seu... ele é o que seu?
– Meu... namorado? Não sei. – Ela sorriu e deu de ombros. – Eu nem gostava dele mesmo.

Virei meu rosto e olhei pra minha mala que estava junto à parede. Encostada também estava minha prancha, e uma mochila de costas.

– Você está nervoso?
– É, mais ou menos.
– Posso dizer que você está muito nervoso só de olhar o tanto que você balança essa sua perna. – Vi que o que ela disse era verdade e parei de balançar. Ri um pouco.
– É, estou mesmo. Algo me diz que esse torneio pode mudar minha vida.

Julia ficou de pé e colocou uma mão em meu ombro. Apertou o mesmo.

– Talvez. Mas, você sabe. Isso é uma oportunidade. Quem realmente tem o poder de mudar sua vida é você mesmo. E apenas você. Pense nisso. - Ela deu duas tapinhas nas minhas costas e saiu.

Meus olhos começaram a pesar e antes que pudessem se fechar, olhei para o relógio. Eram 21h. Eu estava muito cansado em consequência ao dia cheio que tive. Então, deitei-me e em uma fração de segundo já estava dormindo.

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Achava que iria ser o primeiro da casa a acordar, mas, minha mãe me surpreendeu, me acordando às 4h30 da manhã. Passou sua mão em meu cabelo e eu abri os olhos, encontrando seu rosto alegre e bonito. Ela estava com sua roupa de trabalho, e sua mala de rodinhas igual a minha, mudando apenas a cor, que era cinza. Me sentei na cama e ela começou a falar:

– Cheguei à pouco tempo, mas, já preciso ir. E não queria viajar sem antes te desejar sorte. – Sorri, e ela continuou:

– Sei que você é talentosíssimo, e que vai se dar muito bem, filho. – Sentou na cadeira da minha escrivaninha, e voltou a falar – queria muito ir com você, mas, preciso cumprir com meu calendário. Se der tudo certo, vou estar de férias em um mês. Passarei 45 dias em casa.
– Caraca, mãe, isso é ótimo!
– Sim, eu sei. Pois bem. Quero te dar uma coisa. – ela levantou e ficou de pé em minha frente, me levantei. Ela tirou do bolso uma correntinha dourada, com um pingente circular, que tinha um sol dentro. Pegou minha mão e colocou em minha palma. Fechou meus dedos e ficou segurando, como se não fosse permitido olhar ainda.
– Eu e seu pai também surfávamos. De longe, ele era o surfista mais talentoso de Summerland Beach. Em seu primeiro torneio, ele ganhou 40 dólares e uma grade de cervejas. Como ele tinha tudo que queria, não precisava do dinheiro pra nada importante. Então, compramos duas correntes. – Ela abriu minha mão e explicou. – Tá vendo esse círculo faltando no meio? O pingente do seu pai encaixava aqui. Era um círculo, que completava o sol. A moça da loja que nos vendeu disse que a junção desses dois colares significava que só havia luz se estivessem juntos.

Olhei para ela, e seus olhos estavam marejados. Consegui ver dois adolescentes bronzeados em uma lojinha de quinquilharias. Ela brilhava, exatamente como nos dias atuais. Minha mãe balançou a cabeça e olhou nos meus olhos.

– Estou te dando isso pra te dar sorte. E pra você perceber, Luke, que mesmo faltando um pedaço de você, seguir em frente é preciso. Eu poderia colocar qualquer outro pingente neste círculo, não poderia? – Assenti. – Mas não encaixaria. Ficaria folgado, ou grande demais.
– Talvez seja hora de comprar outro pingente, mãe. – Ela sorriu, e acho que era isso que queria dizer.

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