Capítulo Vinte e Seis

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Julia entrou na minha frente e puxou Anne para o corredor. Não sabia o que elas estavam conversando, mas, estava meio na cara o que era que tinha acontecido.

Anne e Julia tiveram algo.

Como eu não percebi antes? Sentei na cama e comecei a lembrar das coisas. De como Anne ficava puta junto a mim todas as vezes que eu descobria que Julia estava ficando com alguém. Como Julia odiava o Arthur. As vezes que Anne ia dormir na minha casa e ela preferia dormir no quarto da Julia, não porque ela era menina e menina não pode dormir em quarto de menino. Engoli seco e passei a mão no rosto.

As duas apareceram na porta do quarto e entraram meio desconfiadas. Anne estava de braços cruzados e Julia sentou do meu lado.

– Lucas, eu... eu e ela, a gente meio que... ahn...
– A gente já namorou.
– Namorou? – Julia virou pra ela. – A gente namorou, Anne?
– É, mais ou menos...
– Mais ou menos? Por isso que eu não queria nem mais tocar nesse assunto. Você é uma idiota.
– O quê? Você... nossa, Julia, eu achei que a gente já tinha superado isso.
– É, a gente superou. Mas, você fez o favor de falar a ele seu "segredo" – Julia fez as aspas. – Eu tive que ajudar meu irmão. Ele simplesmente associou você as características. Eu não tive culpa.
– E pra que você teve que ser tão explícita em detalhes?
– Cara, vai se foder! Eu não posso fazer nada se você me tratou exatamente como a idiota da Alice trata ele. E eu, pelo menos, soube lidar com isso. E eu tive que fazer algo por ele!
– Mas as situações são diferentes! – Anne gritou.
– Quê? – Julia se levantou e riu. – Hipocrisia sua é odiar tanto as atitudes dela. Você se vê nas coisas que ela faz com ele, não vê? Por isso tanta raiva? Admite!
– Eu achei que você entendesse. Você sabe como ele é!

Eu apenas observava. As duas esqueceram que eu estava ali e o real motivo da conversa. Os gritos estavam ficando cada vez mais altos. Mas eu não estava com problemas em relação a sexualidade delas. De verdade, eu havia raciocinado muito sobre Anne e percebi que não tinha problema nenhum. Sorri achando graça. Só que eu me toquei que Anne já havia feito minha irmã sofrer. Senti que precisava dizer algo.

– Ei – falei, e elas não me ouviram. Uma gritava com a outra. – EI! – gritei e fiquei de pé.

As duas olharam pra mim na mesma hora. Estavam envergonhadas.

– Lucas, isso já passou, você não precisa ficar com...
– Olha, me deixa falar, por favor. Eu queria até falar com você, Anne. Realmente não sei o que deu em mim por te xingar daquela forma – falei, Anne engoliu seco e olhou para baixo. – Pois eu não tenho nada contra sua opção sexual. Cara, por que eu teria? Você continua a mesma Anne. A minha amiga – me aproximei dela e afaguei seu ombro.
– Ainda bem que você sabe.
– Você me desculpa?
– Mas é claro – ela me deu um abraço.

Apoiei minha cabeça no ombro dela e olhei para Julia, que me olhava meio assustada. Soltei Anne e me virei pra ela.

– Você sabe que eu te amo, não sabe?
– Sei – Julia respondeu.
– E você poderia ter me pedido ajuda quando precisou. Eu estaria lá por você. Mesmo que eu me irritasse – me aproximei dela. Coloquei seu cabelo atrás da orelha.
– Tive medo de você enlouquecer. Não por ser uma garota. Era mais por ser a Anne. E por ser uma pessoa. Conheço você e seu ciúme – ela disse e eu ri um pouco.
– Verdade. Depois de muita coisa percebi que não era necessário aquilo tudo. Você sempre vai ser minha irmãzinha. Mas dá pra perceber que você cresceu e pode se cuidar sozinha. Aliás, você cuida tanto de você quanto de mim, não é mesmo? – apertei seu queixo e ela sorriu.
– Mas isso já passou – Julia sussurrou.
– Tem certeza? – perguntei. Ela assentiu, confirmando.

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