#3. Pesadelos são terríveis.

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 Ele ergue as mãos na altura do rosto e diz:

– Buh!

Deixo escapar um grito esganiçado e dou um passo desajeitado para trás, tropeçando no meu próprio pé, e caio de bunda no chão.

– Au... – solto um grunhido de dor, passando a mão na minha lombar dolorida.

Escuto uma risada infantil e ergo a cabeça, surpresa, para ver a criança de pé a poucos passos de distância de mim. Seu riso se transforma em uma gargalhada alta e divertida.

– Você ficou assustada! Eu assustei você! – exclama, apontando para mim. – Tinha que ver seu grito – Ele me imita, e volta a rir. – Foi hilário!

Minhas bochechas ardem, e sei que estou com uma expressão idiota quando fecho os olhos com força e tento recuperar meu fôlego.

Uma criança.

Definitivamente era uma criança.

Um menininho, julgando pela voz.

Respiro fundo. Ajeito minha postura, e como qualquer pessoa com senso em momentos como esse, pergunto:

– O quê?

– Eu assustei você – responde de forma simples, como se isso explicasse tudo.

Olho ao meu redor, para a escuridão banhada com a pouca luz do elevador, procurando mais alguém à espreita entre os carros.

Não parecia estar acompanhado. Estava só.

Uma criança. Uma criança me fez ficar com medo, gritar e cair.

Não acredito.

A criança me pregou uma peça, e eu fiz papel de boba. Perfeito.

Apoio meus cotovelos no chão, o notebook no colo. Encaro o menino, e pergunto a primeira coisa que me vem na mente:

– Qual é o seu nome?

Outro fato sobre mim: eu era incapaz de me irritar com uma criança, mesmo que ela tenha me feito cair de bunda no chão.

O garotinho anda até mim, seu manto escuro ondulando no ar. Ele senta na minha frente.

– Eu me chamo Isaac – diz, a voz abafada por causa da máscara. Ele a puxa e um rosto pálido, branco como a neve, de cabelos pretos e olhos azuis glaciais me olha com uma expressão alegre e um enorme sorriso no rosto. Devia ter perto dos dez anos, não mais que isso. – Você realmente ficou com medo?

– Aterrorizada – digo. – Morrendo de medo. Você leva jeito para o terror.

Isaac ri, contente.

– Pensei que ficaria zangada. Meus pais vivem me dizendo para não assustar as pessoas sem permissão.

Inclino a cabeça para o lado, um sorriso travesso querendo se abrir em meus lábios. O garotinho não ouviu os pais e continuou fazendo o que não devia, mesmo sabendo que poderia ficar encrencado. Uma simpatia cresceu em mim com o seu lado rebelde.

– Mas como as pessoas vão ficar assustadas, se disser para elas que você vai assustá-las? Elas vão saber. Perde toda a graça.

– Isso! É isso mesmo! – diz ele. – Eu disse para eles a mesma coisa! Não pode contar para as pessoas que vai assustá-las, se não elas não ficam assustadas.

Ergo o punho fechado.

– Isso aí.

Isaac dá um soquinho.

Sob Céu e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora