Quando as portas do grande salão se abriram, Sarah e sua mãe ficaram admiradas com tanto luxo. O salão estava enfeitado com muitas rosas vermelhas, esculturas de ouro e velas perfumadas que iluminavam todo o lugar. As pessoas, muito elegantes, andavam pelo salão procurando um par para a dança, enquanto outras, apenas conversavam e riam baixinho. Aquela festa estava sendo oferecida pelo novo senador da cidade; Guilhermo Rizores. Ele havia enriquecido muito ao tomar o posto político e apoiou o golpe dos militares à monarquia. Guilhermo não era nenhum homem culto e muito menos bondoso, mas gostava de ter uma postura falsa na frente dos conhecidos.
- Não me lembro de ter vindo antes em um baile tão bonito como este. - disse Sarah com os olhos cor de mel admirados.
- Nem durante a monarquia haviam bailes como esse. - retrucou Célia olhando para tudo e para todos até encontrar o rosto do Senador vindo em sua direção.
Célia odiava aquele homem, porque sabia que ele teve certa culpa na falência de seu falecido marido, mas ela sabia fingir que gostava do senador tão bem quanto ele também fingia.
- Ah, a família Virgos! - exclamou tentando afastar o tom de ironia. - Como vão todos? - perguntou estendendo o olhar negro e ambiciosa à Sarah e sua mãe.
- Estamos muito bem, obrigada! - respondeu Arthuro em um tom impaciente.
As senhoras balançaram a cabeça como forma de cumprimento. Sarah, que não tinha paciência para lidar com todo aquele fingimento e hipocrisia, que saiu de perto dando uma desculpa de que iria procurar as amigas. Então, Célia aproveitou a deixa e questionou ao senador de cabelos e barbas quase brancas:
- E então, Senador...Tudo certo com o pedido de noivado de Edgar?
- Ah, mas com certeza! Ele pedirá a mão de sua filha hoje mesmo.
- Será ótimo unir o nome de nossas famílias, não acha? - continuou a senhora Virgos abrindo seu leque e balançando os fios de seus cabelos loiros.
- Sem dúvidas! Meu filho terá a noiva mais linda de São Paulo, enquanto a sua família vai se beneficiar muito com a renda dele. - Guilhermo tentou insinuar de que a família de Sarah só estava interessada no dinheiro.
Célia compreendeu a ironia dele e apenas sorriu, sem graça. Já Arthuro, não aguentou o disparate e quase discutiu com o senador ali mesmo. Ninguém daquela família tinha culpa se a irmã dele estava desesperada para casar a filha e lucrar com isso. Todas aquelas insinuações que Célia e a família enfrentavam era culpa dela mesma.
Logo, o senador foi chamado e se despediu dos dois irmãos, deixando eles a sós. Arthuro resolveu ir atrás de Margarida, a mulher de quem ele gostava.
- Onde pensa que vai? - perguntou Célia agarrando-o pela manga do paletó.
- Vou procurar Margarida. Não vou ficar aqui ouvindo suas reclamações.
- Acha mesmo que essa tal de Margarida vai querer algo com você? Nós não temos onde cair mortos!
Ele não deu ouvidos à sua irmã e a deixou falando sozinha. Célia conseguia ser muito desagradável na maior parte do tempo.
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A noiva falida
RomanceDepois da morte de seu pai e a ascensão da República Brasileira, Sarah e sua mãe se encontram falidas e precisam arranjar um jeito de continuarem no círculo social de São Paulo. Ao escapar de um casamento arranjado por Célia, sua mãe, Sarah terá que...