Depois de muitas danças e conversas, Sarah finalmente pôde descansar um pouco com as duas amigas e tomar algo enquanto conversavam. Rebeca, uma das amigas que acompanhavam a senhorita Virgos, era filha de um político ilustre. Muito rica, não escondia isso em suas vestes cheias de renda e muita seda, ao mesmo tempo que usava jóias caríssimas. Apesar disso, não era tão bonita quanto Sarah. Seus cabelos eram negros e estavam muito bem penteados em um coque alto, já os olhos não tinham brilho, se tornavam apagados, assim como seu rosto branco e com muita maquiagem. Por outro lado, a melhor amiga de Sarah; Ana, tinha uma beleza angelical. Não possuía o jeito e nem o rosto sedutor da senhorita Virgos, mas sua pele extremamente branca e as bochechas rosadas faziam ela ser a mais pura das moças. Os olhos azuis e os cabelos loiros eram as maiores belezas dela, já que o corpo era frágil e magro. Ana era tão rica quanto, ou até mais, do que Rebeca. Seu pai era um conde muito importante durante a monarquia e deixou uma fortuna imensa para a filha e a condessa.
- Queria ter sido chamada várias vezes para dançar quanto Sarah! - disse Rebeca.
Sarah realmente tinha sido convidada por muitos cavalheiros. Ela era uma das moças mais belas de São Paulo e era normal que todos os homens se encantassem pela jovem por onde passasse. Infelizmente, nenhum dos rapazes que Sarah conhecia foram capazes o suficiente de fazê-la se apaixonar e em certos momentos, ela pensava que viveria sozinha para sempre.
- Eu também! Não sei como ela ainda não ficou noiva de ninguém. - retrucou Ana.
- Não vou me casar com um homem que só é feliz quando está cercado de mulheres. E aqui em São Paulo, só há rapazes assim. - respondeu Sarah olhando em volta.
- Falando em rapazes, Edgar está vindo em sua direção. - disse Rebeca, ajeitando em seu corpo magro, seu vestido verde musgo com rendas brancas.
Edgar era o único filho do senador e herdeiro de todo o patrimônio dele, talvez por isso achava que toda a sua vida já estava garantido e agia como um cafajeste. Todas as mulheres, ricas ou pobres, eram facilmente fisgadas por ele. Com seus cabelos loiros sempre impecavelmente penteados para trás e com os olhos azuis tão penetrantes, não era difícil cair no papo dele. Mas Sarah sabia exatamente o jogo dele e estava convicta de que jamais teria algo com ele.
- Senhoritas! - ele disse cumprimentando as amigas de Sarah, que retribuíram o gesto com um sorriso largo. - Como vai, senhorita Sarah?
- Muito bem, Edgar. E o senhor?
- Estou ótimo, mas confesso que fiquei melhor ainda ao te ver mais bela do que nunca! - Edgar olhou para a jovem. - Bem, a senhorita gostaria de me dar a honra de uma dança?
- Claro! - exclamou Sarah estendendo sua mão enluvada, mesmo sabendo que ele não valia nada, dançar era indispensável para a jovem.
Ela foi sendo guiada até o meio do salão, onde outros casais também dançavam. Edgar colocou sua mão na nas costas dela, enquanto a jovem apoiou o braço nos ombros largos do herdeiro. Os dois dançaram com muita leveza acompanhando o som da música que tocava. Edgar encarava a moça o tempo inteiro. Sarah poderia muito bem ficar olhando para aquele rosto tão lindo, mas nele não havia sinceridade o suficiente para atraí-la.
- Sabe que todas as vezes que te vejo, consigo me apaixonar mais? - mentiu o herdeiro.
- Edgar, por favor! - Sarah revirou os olhos - Você estava agora há pouco seduzindo uma das criadas.
Ele, certamente constrangido, fingiu estar surpreso com aquela acusação, mas no fundo sabia muito bem que era verdade.
- Claro que não! - riu. - Vou lhe mostrar que está errada.
Edgar soltou a mão da moça e caminhou até o centro do salão. Sarah pensou que ele havia ficado irritado e largado ela ali sozinha, até que o herdeiro pediu para que a música parasse e chamou a atenção dos convidados:
- Por favor, um minuto da atenção de vocês!
Depois que todas as pessoas inclinaram os olhos curiosos à Edgar, ele continuou:
- Agradeço a presença de todos nessa festa maravilhosa, principalmente a de uma pessoa especial, a quem eu preciso perguntar... - ele se aproximou da senhorita Virgos e depois tirou um anel com pedras de diamante do bolso. - Sarah, você aceita ser minha esposa?
Sarah se encontrava estática olhando para ele, nervosa com todas as pessoas a encarando e aquela pressão de dar logo uma resposta que agradasse a todos. Nem em seus maiores sonhos havia imaginado que o maior sedutor de São Paulo poderia querer se casar algum dia, e não só ela pensou isso, como a maior parte das mulheres que ele já tinha se relacionado. A jovem sabia que Edgar não valia nada, e no fundo, não queria ter coisa alguma com ele, mas a expectativa de todos a sua volta era muito grande e isso a deixava mais preocupada ainda.
Porém, Sarah queria muito encontrar um homem que fosse bom o suficiente para ela e que não fizesse tudo pensado para agradar os outros como Edgar fazia. Então, a resposta dela foi ríspida e objetiva:- Não! Sinto muito Edgar, mas não sinto nada por você. - então, ela saiu correndo para os jardins da casa.
Burburinhos ecoaram por todo o salão. As pessoas estavam extremamente surpresas pela resposta da moça e Edgar estava no mesmo lugar, desacreditado, mas no fundo aliviado, porque sua liberdade ainda estava garantida. Ele só havia feito aquilo porque seu pai tinha o obrigado. Todavia, Célia não conseguia acreditar, assim como o restante dos convidados, e se desesperou tanto a ponto de quase desmaiar, mas recuperou as forças rapidamente e foi atrás de Sarah.
Se ela não voltasse atrás da decisão, o destino de sua família estaria perdido...
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A noiva falida
RomanceDepois da morte de seu pai e a ascensão da República Brasileira, Sarah e sua mãe se encontram falidas e precisam arranjar um jeito de continuarem no círculo social de São Paulo. Ao escapar de um casamento arranjado por Célia, sua mãe, Sarah terá que...