A carruagem chacoalhava ao passar pela estrada de terra, parecia que iria se partir ao meio a qualquer momento. A família Virgos nunca havia imaginado que aquela viagem a São José seria tão cansativa. Primeiro, tiveram que enfrentar uma viagem de navio atordoada e cheia de contratempos, além de que tiveram que parar em hospedagens tenebrosas, pois o caminho era extremamente longo e os cavalos não aguentariam tamanha distância.
Célia já estava esgotada de tudo aquilo, havia se arrependido de não ter ficado em São Paulo com a filha e arranjado o noivado dela por lá mesmo. Entretanto, Sarah aproveitava cada detalhe; cada contratempo...Tudo aquilo era mágico aos seus olhos, porque nunca havia ficado tanto tempo fora de São Paulo e estava em êxtase para conhecer muito mais.
A jovem, seus tios e sua mãe estavam na carruagem torcendo para que o destino estivesse próximo.
- Meu Deus, mas essa cidade só tem mato! Estamos à duas horas viajando e só vejo o verde. - retrucou Célia, indignada.
- Então nós finalmente já estamos na propriedade de Bernardo! - o senhor Virgos sorriu de modo que parecia estar aliviado por aquela viagem estar terminando.
Sarah sabia que o primo da família deveria ser um homem rico, mas não imaginou que fosse tanto. A propriedade era enorme, semelhante ao mar que olhando para horizonte, parece não ter fim. Deveria ter muitos quilômetros de distância, pois eles já estavam naquela mesma rota e na mesma paisagem a horas e nem desconfiavam que já estavam próximos do destino final.
- Nem acredito que minha filha vai herdar tudo isso aqui!
- Mamãe, por favor, nós nem conhecemos o tal do Danilo ainda.
Célia fingiu que não havia escutado e se virou para a janela esquerda a fim de observar a paisagem com mais interesse, já que havia descoberto que tudo aquilo era de seu primo.
Depois de meia hora, a carruagem atravessava um grande portão de ferro e entrava em uma faixa de terra cercada por uma alameda de palmeiras imperiais, que se estendiam até a entrada da casa. Quando o automóvel parou e um dos empregados abriu a porta da carruagem, Sarah pôde descer e observar mais de perto toda aquela propriedade majestosa.
A sede da fazenda era enorme, com inúmeras janelas e uma fachada encantadora, cheia de detalhes, que qualquer pessoa seria incapaz de observar atentamente cada um. Haviam três entradas para o grande casarão e logo em frente, um largo chafariz com uma estátua de uma mulher segurando uma jarra por onde saía a água do lago.
A família Virgos, já acostumada a visitar os lugares mais chiques do Brasil e do mundo, não se impressionou com a casa e muito menos com a quantidade de empregados enfileirados na entrada, aguardando pela vinda dos convidados do patrão. Entretanto, Sarah foi a única que se empolgou e observou tudo com atenção, pois ela era diferente da família, gostava de dar o devido valor a tudo que Deus colocava em sua vida.
Bernardo saiu pela entrada do meio, passando pelos criados, até chegar ao encontro de seus primos. Era um homem alto, de corpo robusto, mas com o olhar e a expressão cansada, que o deixavam mais velho do que realmente era e apesar de seus cabelos completamente grisalhos, era um senhor muito atraente, o qual demonstrava confiança em suas vestes de linho preto.
- Ah, meus queridos! - exclamou ele, estendendo os braços.
Arthuro foi o primeiro a abraçá-lo, até porque era o único primo que Bernardo havia mantido um pequeno contato. Logo depois, o fazendeiro voltou toda a sua atenção para a Célia, que com a sua beleza e requinte, sabia muito bem como encantar um homem. Então, se olhavam profundamente, enquanto Bernardo beijava a suave mão de sua prima.
- É um prazer revê-la, minha querida prima!
Célia sorriu sem mostrar os dentes e abaixou a cabeça levemente.
- O senhor fez um belo trabalho aqui! - confessou a senhora Virgos, olhando em volta. - Nem parece o rapaz pobrezinho que conhecíamos na infância.
- Isso tudo é resultado de muito trabalho, que um dia, será de responsabilidade de meu filho.
- Falando em filhos, essa é minha menina Sarah.
A jovem chegou mais perto dos dois e se apresentou a Bernardo fazendo uma pequena reverência. Ele a olhou com afeto, tinha a mesma doçura no olhar que seu falecido pai possuía. Era como se ela soubesse que Bernardo cuidaria dela e seria uma figura paterna.
- Celinha, sua filha é uma linda moça! - disse o fazendeiro, sorrindo. - Espero que a senhorita se sinta em casa.
Sarah agradeceu e confessou estar muito animada para conhecer todo aquele lugar. Então, Bernardo se voltou aos empregados e pediu para que as malas de seus hóspedes fossem levadas para os aposentos.
Assim que suas ordens foram obedecidas, ele convidou a família Virgos para entrar e conhecer o interior daquela grande residência.
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A noiva falida
RomansDepois da morte de seu pai e a ascensão da República Brasileira, Sarah e sua mãe se encontram falidas e precisam arranjar um jeito de continuarem no círculo social de São Paulo. Ao escapar de um casamento arranjado por Célia, sua mãe, Sarah terá que...