Capítulo 5

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Sarah desceu as escadas e ao chegar na sala de jantar se deparou com a mesa enorme e farta de comida. Pelo menos aquela família ainda podia se dar o luxo de ter um café da manhã decente.

- Nossa, como a mesa está cheia hoje! - exclamou a jovem se ajeitando na cadeira de jacarandá estofada de veludo bege.

- Não ficará assim por muito tempo se você não se casar logo. - retrucou Célia, impaciente.

- Mamãe, a senhora sabe muito bem que existem outras formas de nos manter.

Enquanto as duas discutiam, Arthuro acompanhava tudo como se estivesse vendo uma partida de futebol. Ele não era louco e nem tinha paciência para se meter em uma briga com Célia, pois sabia que ela não ficaria calada até convencer o irmão de que Sarah precisava de um casamento vantajoso para salvar a família.

- E que formas seriam essas? - Célia perguntou, já convicta da resposta da filha.

- Poderíamos trabalhar.

Sua mãe riu, mas a jovem continuou olhando fixamente para ela, com a expressão séria. Arthuro permanecia calado aproveitando seu desjejum, mas admirava a coragem da sobrinha de não ter medo do trabalho, mesmo tendo sido criada com todo luxo e pompa.

- Por favor, Sarah! - disse Célia, logo após recuperar o fôlego que perdeu durante o ataque de risadas. - Você sabe muito bem que não vamos conseguir manter esta casa apenas arrumando um emprego em qualquer esquina.

Sarah sabia que era verdade, e se entristeceu por isso. Não queria perder a casa que foi projetada por seu pai com tanto carinho, mas ela jamais se casaria com um homem cafajeste feito Edgar, só para salvar a família. Talvez ela pudesse encontrar a sorte grande de arranjar um trabalho muito bom, mesmo que fosse quase impossível, ainda mais para uma mulher, mas não custava tentar. Ela não iria mais tocar nesse assunto com a mãe, porém iria agir por si mesma.

- Você está certa, mamãe. Mas eu vou logo lhe avisando que não me casarei com Edgar!

Célia se levantou da cadeira, ficando de pé. Aquela forma deixava ela com um ar maior de superioridade naquela casa.

- Você vai sim! - exclamou ela, fumegando de raiva - Nem que eu tenha que mover montanhas para isso!

No fundo, a jovem senhorita Virgos sabia que sua mãe não desistiria tão fácil daquela ideia. Mas ela iria resistir e se fosse necessário, faria o impossível para fugir daquela ideia absurda de se casar com o filho do senador.

Assim, sua mãe colocou as luvas pretas rendadas, enquanto uma criada a ajudava a desamarrotar o vestido. Célia estava usando um lenço preto que cobria quase todo o seu rosto e assim que ela se virou para o irmão e a filha, que ainda estavam sentados à mesa, os dois começaram a rir.

- Posso saber o que é isso, Celinha? - perguntou Arthuro, tentando segurar a risada.

- Eu vou à missa rezar por essa menina para ver se ela resolve se casar logo, mas não quero ser vista por ninguém depois do vexame da festa de ontem.

Sarah revirou os olhos, já cansada de sua mãe repetir o ocorrido no baile o tempo inteiro. Já Arthuro resmungou algo, mas resolveu aproveitar a saída da irmã para resolver alguns assuntos na rua, que ele não disse quais eram.

Assim, a moça se encontrava sozinha na mesa, olhando para toda aquela comida, sem nenhuma expectativa para o futuro. Mas, como dito antes, ela queria procurar um emprego e talvez pudesse achar um. Então chamou uma das criadas e pediu pelo jornal do dia a fim de procurar anúncios de vagas.

- Desculpe senhorita Sarah, mas sua mãe não assina mais o jornal diário. Não temos nenhum aqui. - respondeu a criada.

Sarah não imaginava que sua mãe havia cancelado a assinatura do jornal, talvez fosse um custo extra e ela sabia muito bem que sua família não podia estar gastando um centavo a mais. Mas a jovem tinha umas moedas guardadas e daria a empregada, pois comprar um único jornal era muito mais barato do que pagar uma assinatura.

- Tome isto e compre o jornal que tiver, mas não demore, por favor! - disse estendendo a mão para a criada e dando-lhe o dinheiro.

A empregada saiu e Sarah foi para a sala de estar esperar a doméstica voltar. A jovem já estava pronta e determinada para iniciar a caçada de trabalhos.

A noiva falidaOnde histórias criam vida. Descubra agora