Capítulo 13

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A sala de jantar estava repleta de uma luz dourada que saía das velas, posicionadas no lustre de cristal preso ao teto. Apesar de ser tão luxuoso, era um cômodo bem aconchegante.

Todos que ali entravam, tinham a atenção totalmente voltada para a grande mesa de jacarandá, em formato horizontal, contendo vinte lugares. Naquele momento, a mesa estava muito bem posta em etiqueta francesa, com louças desenhadas à mão e banhadas na prataria, as quais só eram usadas em eventos de extrema importância.

Quem se sentasse na cadeira da ponta esquerda, conseguia perceber uma coluna de gesso branco no mesmo lado, que interligava a sala até a área dos empregados, e outras duas ao lado direito, que serviam de passagem para a sala de estar. Estava tudo impecável e o cheiro maravilhoso da comida alertava o olfato dos convidados.

Assim que se acomodaram em seus lugares, o jantar ficou e três empregados, acompanhados pela governanta Zenaide, se puseram a servir. Mesmo aquela refeição sendo uma grande distração, Sarah ainda estava sob efeito de choque e pela primeira vez na vida, havia ficado sem palavras. Por isso, simplesmente não conseguia parar de olhar para Gael, que percebendo a confusão que a moça fizera, olhava para ela disfarçadamente.

Sarah queria muito que o filho de Bernardo fosse quem ela pensava ser. Desde que o viu, teve uma sensação que nunca havia tido antes. Era diferente, como se a deixasse flutuando e querendo viver mais ainda. No começo, quando achava que o rapaz era Danilo, até teve esperanças de não ter um casamento arranjado tão ruim. Mas como precisava salvar sua família, se ela tivesse que casar com alguém, não seria com aquele homem de olhos tão verdes.

- E então, então ansiosos para conhecer a propriedade? - perguntou Bernardo, que estava sentado na cadeira da ponta esquerda.

A senhorita Virgos, que realmente havia se encantado pelo lugar, deixou os pensamentos de lado e tomou parte na conversa.

- Sim, fiquei muito surpresa quando percebi o quão vasta era a fazenda! - exclamou ela.

O fazendeiro balançou a cabeça concordando e deu um sorriso orgulhoso de tudo o que havia construído. Não foi fácil levantar toda a sua fortuna sozinho. Desde que o seu falecido pai faliu com os negócios de café, tudo seria vendido. Mas, quando Bernardo passou a trabalhar em uma mercearia na cidade, sabia vender como ninguém e como salário, recebeu uma amostra de cacau, que plantou nas terras paternas e o negócio deu muito certo. Por isso, sua fortuna era incontável.

- Poderíamos conhecer a fazenda e depois fazermos um piquenique. - disse Danilo, que estava na outra ponta da mesa.

- Ah, que maravilha! Seria ótimo, não é Sarah?

- Claro, mamãe.Vamos todos? - respondeu a jovem, lançando um breve olhar para Gael.

O rapaz abriu a boca para responder, mas seu padrinho o interrompeu, falando:

- Infelizmente não! Gael precisa resolver umas questões na fazenda e não poderá ir conosco.

O capataz não tinha o que fazer, era responsável pelo funcionamento da fazenda e não podia se dar ao luxo de fugir de suas responsabilidades. Qualquer falta de atenção dele, poderia fazer os negócios desandarem.

Então, Zenaide recebeu ordens do patrão de que tudo fosse ajeitado para o piquenique. Seria muito importante causar boas impressões na família Virgos.

- Bom, desculpe questionar isso... - adiantou Célia - Mas não entendo como um empregado que nem Gael pode se sentar conosco? - questionou, logo depois tomou a taça e bebeu o vinho.

- Mamãe!! 

Sarah não podia acreditar no quanto sua mãe estava sendo indiscreta e olhava para ela, incrédula. Arthuro e a esposa, largando os talheres sobre o prato no mesmo instante, também não conseguiam entender tamanho insulto. O rapaz não se importou com a ofensa, e chegou até a soltar um frouxo riso enquanto balançava a cabeça, pensando em como aquela mulher era inacreditável. O único que havia gostado de certo comentário era Danilo, que adorava insultar o afilhado de seu pai.

- Gael foi abandonado na porta do casarão. Depois disso, tomei a criação dele e o apadrinhei. - explicou Bernardo, retirando o guardanapo de seu colo - Desde então, ele é meu braço direito, como um filho!

O herdeiro logo fechou a cara e encarou o pai, com raiva. Era insuportável aquela preferência dele pelo seu protegido, ainda mais na frente das visitas.

- Ele não é teu filho e nunca vai ser! - exclamou o jovem, com um tom de voz nada gentil.

Então, ele saiu da mesa, com os olhos azuis brilhando de raiva e saiu pela porta principal da casa. Mesmo que Danilo tentasse fingir o seu descontrole, a família Virgos percebeu que havia algum ressentimento entre pai e filho. Todos permaneceram calados e constrangidos, estavam espantados com tamanha confusão, até mesmo Bernardo, acostumado com o temperamento mimado do filho, se encontrava com vergonha.

A noiva falidaOnde histórias criam vida. Descubra agora